Fugas - Vinhos

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O “novo” Douro em seis variações

Estes vinhos diferentes, brancos e tintos fora da caixa, desfazem, por si só, a ideia de que o Douro é todo igual. E têm um grande mérito: permitem abrir novos caminhos e novas oportunidades à região. No mundo dos vinhos, as modas passam muito depressa e é preciso estar sempre a inovar, nem que seja pela tradição, até porque, no essencial, já foi tudo inventado.

Gouvyas Âmbar 2010

O duriense Luís Soares Duarte (não confundir com Luís Duarte, enólogo no Alentejo) nunca esteve ligado a nenhuma casa grande do Douro e é por isso que, fora do círculo da enologia e da crítica especializada, pouca gente o conhece. Mas é, sem dúvida, um dos melhores enólogos da região e do país. Exímio provador e eterno romântico, Luís Soares Duarte está ligado desde há muitos anos aos vinhos Seara d`Ordens e Quinta do Infantado, presta consultoria a mais alguns produtores e faz os seus próprios vinhos. Chegou a estar envolvido num projecto ambicioso na sua aldeia, Poiares (Régua), com um grupo de investidores nacionais e estrangeiros, e que lhe permitiu construir a adega dos seus sonhos. Mas o investimento correu mal e Luís teve que abandonar o projecto e começar tudo de novo.

Tudo não. Por causa da crise, Luís Soares Duarte e João Roseira, da Quinta do Infantado, tinham deixado a hibernar a empresa que detêm em conjunto, a Bago de Touriga, produtora dos vinhos Gouvyas e Montevalle, e agora decidiram reactivá-la. Os dois foram acumulando stocks de várias colheitas e vão relançar vinhos com quase dez anos de estágio e lançar algumas novidades. O regresso da Bago de Touriga é uma das melhores notícias deste fim de ano. Quem acompanhou o nascimento desta empresa, em 1996, sabe que é um dos mais originais projectos do Douro. Não eram vinhos muitos fáceis em novos, tinham algo de rústico até, mas quem os provar agora vai ficar boquiaberto.

O Gouvyas 1996, por exemplo, feito com uvas de Vilarouco, na zona da São da Pesqueira, ainda está vivíssimo. Em prova cega, passava por um grande Bordéus. O Gouvyas OP 2000, lote feito num jantar de “Douro Boys” (há década e meia, a expressão era utilizada para a nova geração de enólogos do Douro que se juntava em jantares para provarem as novidades uns dos outros; só depois ficou vinculada a um grupo formal de cinco produtores) com o sommelier francês Olivier Poussier é ainda mais extraordinário, mostrando uma garra tânica e uma frescura surpreendentes.

Um grande tinto em qualquer lugar do mundo, tal como os Gouvyas 2000 (na linha do OP), 2001, 2003 e Gouvyas Vinhas Velhas 2005.  O Gouvyas Vinhas Velhas 2006 (35 euros) e Gouvyas 2007 (20 euros) são os únicos que estão à venda e, sobretudo o segundo, um colosso, ainda estão em fase de crescimento. Até o Montevalle Reserva 2006, de um ano de grande produção no Douro e que está a ser vendido a 14 euros, é um tinto magnífico.

Neste Natal, vão chegar ao mercado três novidades: os monovarietais Gouvyas Moscatel Galego Seco, Gouvyas Tinta Francisca e Gouvyas Touriga Fêmea (filha do Mourisco e da Touriga Nacional), todos de 2015. Três vinhos distintos e cheios de carácter. Mas os vinhos que melhor testemunham a criatividade e o génio de Luís Soares, um amante de vinhos com tempo, são os formidáveis Gouvyas brancos (foram agora postos à venda garrafas mangnum e double magnum de Gouvyas 2003 e 2004, a 55 e 115 euros cada, respectivamente), em especial o novo Gouvyas Âmbar 2010, um branco tranquilo feito à semelhança de um Porto seco.

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