Fugas - Vinhos

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O “novo” Douro em seis variações

As uvas provêm de vinhas situadas a cerca de 500 metros de altitude na zona de Muxagata e Meda, no Douro Superior, e, depois de passarem dez horas em câmara frigorífica, são esmagadas directamente para uma prensa vertical e prensadas suavemente. O mosto é decantado numa cuba de cimento subterrânea e no dia seguinte é trasfegado para um tonel oval de carvalho francês de 2 mil litros e para uma cuba de cimento de 600 litros, onde fermenta com leveduras indígenas e onde estagia durante vinte meses.

Foi assim até à colheita de 2014. Em 2015, houve um volteface accionista e a empresa passou a ser dominada unicamente pelo empresário da Meda Eduardo. Mateus Nicolau Mateus saiu do projecto e a enologia dos vinhos Muxagat passou a ser assumida por Luís Seabra, ex-Niepoort. Custa 29 euros (na Garrafeira on-line da Tio Pepe)

Conceito Bastardo 2014

Apesar da sua juventude (33 anos), Rita Ferreira é uma enóloga com mundo, tendo passado já por Bordéus, Califórnia, Nova Zelândia e África do Sul. Mas o seu micro-cosmos é Cedovim, no Douro Superior, onde faz os vinhos Conceito e Contraste. Em 2007, quis produzir um vinho mais natural, com poucos sulfitos, e fez a experiência com Bastardo, na altura, uma casta com pouca relevância económica no seu negócio. A ideia era usar esta variedade apenas como cobaia. Se corresse mal, não seria o fim do mundo. A família já possuía dois hectares de Bastardo, plantados pelo avô, mas as uvas eram usadas para vinho do Porto.

Rita gostou tanto da experiência que passou a vinificar o próprio Bastardo, uma variedade de uva que origina vinhos abertos de cor e delgados, nos antípodas dos Douro clássicos, mais encorpados e concentrados. Equivalente ao Trousseau, do Jura (França), o Bastardo está presente no Douro desde os tempos pré-filoxéricos. Nas últimas décadas foi perdendo importância, sobrevivendo hoje quase só em vinhas velhas. Amadurece muito cedo e os seus vinhos tendem a ser muito alcoólicos (daí a casta ser utilizada no vinho do Porto) e, quando não o são, ficam algo rústicos.

Porém, quando  é domada, origina vinhos muito elegantes na boca e bastante frescos e impressivos no aroma, dominado pelas notas de cereja vermelha suculenta, como é o caso do Conceito Bastardo 2014 (18 euros).
Desde a sua primeira experiência, Rita fez Bastardo em todas as colheitas. O vinho é um sucesso e tem inspirado outros criadores. É verdade que não foi a primeira a produzir um tinto estreme de Bastardo. A Quinta do Côtto, quando este produtor era uma referência no Douro, terá sido o pioneiro e a Niepoort também faz, entre outros. Mas, se o Bastardo é hoje uma casta em crescendo no Douro, utilizada para vinhos mais finos e aptos a serem consumidos até um pouco mais frescos, como alguns brancos,  isso deve-se em boa parte ao trabalho e à insistência de Rita Ferreira.

Real Companhia Velha Séries Rufete 2010

Com o regresso do enólogo Jorge Moreira à casa onde se iniciou, a Real Companhia Velha deu início ao projecto Séries, no qual foi abrigando uma série de vinhos experimentais com castas portuguesas e estrangeiras. Uma das experiências mais originais envolveu a casta Samarrinho, uma variedade branca com presença regular nas vinhas velhas do Douro mas praticamente desconhecida. Depois de a replicar em vinha autónoma, a Real Companhia Velha avançou para a sua vinificação, obtendo um vinho diferente, de grante intensidade aromática e muito suave na boca. Com esta experiência, o Douro ganhou uma nova casta para a produção de brancos.

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