Fugas - hotéis

  • Abel Coentrão
  • Abel Coentrão
  • Abel Coentrão
  • Abel Coentrão

Na histórica Marialva já se dorme com um pé no futuro

Por Abel Coentrão ,

Paulo Romão, fundador das Casas do Côro, subiu a um monte nos arrabaldes de Marialva e encontrou o sítio certo para pôr diante dos nossos olhos a beleza desta aldeia histórica: agora, dorme-se na Suite dos Bogalhaism, uma experiência de turismo eco-sustentável com todo o conforto de um moderno T0.

Ela estava lá. Mas, a menos de trinta metros, não a vimos, quando, ao virar de uma esquina, entrámos na rua principal de Marialva. Não é que esteja propriamente escondida. A meia encosta no monte dos Bogalhais, ela é altaneira o suficiente para nos pôr diante dos olhos a vila recortada pelo tempo e pelo sol já baixo deste fim de tarde. Mas a sua singela estrutura em madeira e a envolvente de carrascos e sobreiros tornam quase imperceptível, na paisagem, este T0 onde haveremos de passar a noite. Um projecto de turismo sustentável dinamizado a partir de Espanha pela rede Rusticae, que os donos das Casas do Côro se apressaram a testar no arrabalde de uma das mais famosas aldeias históricas de Portugal.

A ecologia tinha de chegar ao turismo. Como terá, um dia, que chegar a todas as actividades humanas. E o turismo em espaço rural, ou o turismo de aldeia, como o que desenvolvem em Marialva Paulo e Cármen Romão, já parte em vantagem. Afinal, a reconstrução de património edificado e a dinamização económica de uma vila a envelhecer perigosamente em direcção ao despovoamento total são, também eles, gestos sustentáveis. O país precisa destes espaços de baixa densidade populacional, e não apenas para que o turista possa enquadrar o rosto de uma velhinha com o monumento em fundo para a fotografia. É uma questão de sobrevivência: a de quem vive aqui; e a de quem simplesmente está de passagem, como nós.

Acotovelados numa faixa estreita junto ao mar, estamos a multiplicar um conjunto de problemas que nos extenuam e nos fazem desejar umas férias num sítio pacato. Um lugar sem o frenesim do trabalho, do trânsito, das ruas cheias de gente apressada onde ninguém diz bom dia a ninguém. E Marialva é o negativo disso tudo. Na Rua da Corredoura, ou das misses, como carinhosamente lhe chama Paulo Romão, não há velhinha que não nos acene com um bom dia e, se tivermos vagar, ainda nos brindam com dois, três ou mais dedos de conversa. Paradas à porta de casa, de apanha-moscas na mão, elas marcam o ritmo lento deste lugar que sobreviveu à passagem dos aravos, romanos, godos, árabes, castelhanos. E que vem sobrevivendo, mesmo no reino de Portugal.

Esta vila que já foi condado e marquesado, terra dos Távoras antes destes caírem em desgraça às mãos de D. José I e do Marquês de Pombal, em 1758, foi decaindo em importância e, na reforma municipal de 1855, acabou despromovida a freguesia: de Foz Côa primeiro, de Meda, depois. E assim chegou aos nossos dias. Sem poder algum que não seja o de nos lembrar que somos um país com mais de oito séculos. Sem nobreza que não seja a de fazer parte de um núcleo restrito de aldeias portuguesas a que chamamos, precisamente por essa capacidade de nos puxar pela memória, históricas. Um epíteto que assenta bem a estas pedras que o tempo tomou de assalto, abandonando-as sem mais destruição, para que lhe consigamos ainda, à contraluz do sol matinal, vislumbrar o fulgor que já tiveram.

Paulo Romão diz que Marialva não fica a caminho de lugar algum, mas o percurso das suas Casas do Côro, que numa dúzia de anos passaram dos cinco quartos iniciais para um oferta total de 24 quartos (para já), e a Sociedade das Nações em que vemos transformado o seu restaurante numa sexta-feira, indicia que há muita gente que a toma como destino. E se os limites da aldeia, com os seus pouco mais de cinquenta habitantes na parte velha, parecem curtos para um programa de fim-de-semana, o novo IP2 tratou de pôr o Douro, as gravuras rupestres e o Museu de Arte e Arqueologia do Vale do Côa, uma das mais interessantes obras da arquitectura portuguesa contemporânea, a meia hora de distância. Perto de mais para qualquer desculpa.

Nome
Suite dos Bogalhais
Local
Meda, Marialva, Casas do Côro - Marialva (Meda)
Telefone
917552020
Website
http://www.casasdocoro.com
--%>