É comum, quando se fala do Rosa et Al Townhouse, sublinhar que este não é um hotel qualquer. Não queremos ser repetitivos, mas essa é uma verdade incontornável - por vários motivos, o menor dos quais não será certamente o facto de, por exemplo, durante as inaugurações das galerias de arte de Miguel Bombarda, no Porto, ser mostrado como objecto de arte. Nesses dias, a porta da rua está aberta e dois quartos são mantidos desocupados para as visitas. Nos outros dias, a porta está fechada, mas o acesso continua livre: basta bater, como se de uma casa se tratasse.
É, afinal, um pouco essa filosofia do Rosa et Al, que se instalou numa velha casa burguesa do século XIX respeitando a traça original e o espírito português mas abrindo-se a todos estilos de vida e à forma como os seus proprietários gostam de habitar as cidades. E foram várias as cidades por onde os irmãos Patrícia Sousa, economista de formação e durante anos gestora de activos de centros comerciais na Península Ibérica, e Emanuel de Sousa, arquitecto e autor do projecto, passaram, num percurso de trota-mundos que reflectiram neste Rosa, de inspiração retro-vintage e conceito heterodoxo de hotelaria - ou não fosse um "hotel" de viajantes para viajantes.
E ser um hotel de viajantes para viajantes significa estar imune a alguns vícios que, ao invés de servir os hóspedes, lhes criam alguns stresses - por exemplo, o pequeno-almoço aqui serve-se até ao meio-dia e em vez de pequeno-almoço é brunch (é um bed & brunch). A atmosfera no Rosa et Al Townhouse, que abriu em Agosto de 2012, quer-se relaxada, com "energia serena", diz Patrícia Sousa, contra um fundo feito de sons suaves de jazz que é, normalmente, a "banda sonora" da casa: cada hóspede gere o nível de stress a que se quer expor - não há televisões nos quartos, mas quem quiser basta pedir, assim como computador e iPad, e os jornais só entram aqui durante o fim-de-semana; em compensação, quem quiser uma massagem, pode marcá-la e fazê-la na sua suite (nós fizemos shiatsu e massagem com óleos, com Alexandre Martins; há também tailandesa e ayurvédica e outros serviços).
O luxo está por todos os lados, mas é confortável e informal, não nos esmaga. "Sem salamaleques", resume Patrícia, mas com "serviços à medida das necessidades do cliente". Há pormenores que fazem a diferença, como o chá e bolos que nos esperam no quarto à chegada, o vinho do Porto de oferta, o turndown diário ("mimos" antes de dormir) ou o menu de almofadas, e uma atenção especial a cada hóspede, tentando gerir as suas expectativas em relação ao hotel e à visita em geral.
"Em 80 por cento dos casos sabemos muito dos hóspedes antes de eles chegarem e tentamos perceber ao que vêm para os ajudar", explica Patrícia Sousa. O que não sabem, tentam descobrir de forma tão subtil como uma conversa informal no lounge - que também é recepção e concept store, onde durante a noite encontramos Patrícia a fazer patchwork, uma actividade que partilha de bom grado com os hóspedes que queiram aprender.
Pode passar despercebido, o Rosa et Al, entre os outros edifícios da Rua do Rosário, uma vez que (quase) nada na sua fachada revela a sua natureza - é uma casa recuperada, austera no seu rés-do-chão granítico e brilhante para cima, com os seus azulejos predominantemente amarelos: na porta, branca, a inscrição, também branca, Rosa et Al Townhouse.
A manutenção da integridade da casa valeu-lhe a distinção da secção regional do Norte da Ordem dos Arquitectos no âmbito do projecto Respect for Architecture 2012, que valoriza a preservação do património edificado da cidade aliada a uma oferta turística diferenciada - e esse é um prémio que vale alguns visitantes que buscam o prazer da arquitectura; outro elemento diferenciador é a componente gourmet - há um chef na casa, David Dias, que organiza e trata de eventos gourmet, proporcionando viagens-surpresa, a descoberta de novos sabores (o jantar é sempre por marcação e é de degustação); e o design retro-vintage também atrai alguns aficionados.
Suite a olhar a rua
Quando entramos ainda não sabemos disso, ficamos envolvidos no ambiente relaxante da primeira sala, iluminação acolhedora para um espaço confortável. É a recepção pouco convencional do Rosa et Al Townhouse - não há balcão, sequer, apenas uma grande mesa (que é feita com uma porta original da casa) rodeada de cadeiras, que faz as vezes de recepção mas também de mesa de trabalho - onde o sofá revela a inspiração retro que, veremos, contamina toda a casa.
E esta é a sala de estar da casa, na qual a estante que cobre uma das paredes faz as vezes de loja - produtos gourmet típicos do Douro ou produzidos na casa (chá, compotas, tiras citrinas, azeites com aromas), vinhos em selecção (do sommelier Manuel Ribeiro) sempre renovada, a linha Castelbel (a mesma das amenities do hotel), livraria em parceria com a Bertrand com grande catálogo Assírio & Alvim e predominância de autores portugueses; na outra parede, pende uma tela tamanho XL, representante de uma parceria com a Galeria Fernando Santos e que se repete um pouco por toda a parte pública da casa. Quem aqui entrar - e este é um espaço aberto ao público em geral, assim como o de restauração - fica com a percepção essencial da casa.
A nossa suite (king grand deluxe) espera-nos. A escadaria intocada continua a ser a espinha dorsal da casa, ainda que parte da sua madeira tenha tido que ser substituída: sobe, elíptica, amparada por corrimões de madeira, até se desvanecer na mansarda, à vista de uma pequena biblioteca e honesty bar sob uma clarabóia. Nós ficamos no primeiro andar: cada piso tem duas suites (seis no total), uma com vista para o logradouro (as traseiras portuenses), outra com vista para a rua.
A nossa suite olha a rua por duas grandes janelas e é o único quarto que sofreu intervenção arquitectónica: era a sala principal da casa, mantém o chão e o tecto, com estuques, originais - foi para não interferir com eles que foi acrescentada uma "caixa", não tapada, como casa de banho. Entramos para uma antecâmara que depois se abre num espaço amplo, com visual clean e retro mas atmosfera claramente contemporânea.
O mobiliário é vintage (do "aparador" que esconde o "bar" à cómoda-mesa-de-cabeceira, às mesas encaixadas do outro lado da cama, às poltronas, de madeira e couro e madeira e tecido), em contraste com a casa de banho, moderna ainda que com banheira de pés (não resistimos a um banho de imersão); a iluminação, um cuidado jogo entre candeeiros e focos de luzes dissimulados.
Todas as suites, de três categorias (club, queen deluxe e king grand deluxe), obedecem a estruturas diferentes e têm mobiliário único - em comum, a mesma estética anos 1950 e 60, vinda de diferentes paragens europeias. O quarto que mais curiosidade suscita é um club, a categoria mais baixa, situado na mansarda e virado à rua: sob um tecto inclinado atravessado de traves de madeira grossa, espaço completamente aberto, o que significa que a casa de banho está no quarto - a banheira num recanto mais baixo, a sanita e lavatório separados da cama por um maletão desenhado à medida (com direito a mini-estante e secretária) à laia de biombo.
Casa aberta ao mundo
É durante a manhã que melhor usufruímos do logradouro da Rosa et Al, estreito e comprido, transformado num jardim "de baixa manutenção", o que significa que tem relva, sim, mas tem também aromáticas e produtos hortícolas utilizados nos produtos da casa. Por estes dias está com aspecto de hibernação, como observamos numa manhã fria de sol da pequena esplanada, enquanto uma hóspede lê numa varanda (característica de todos os quartos das traseiras).
Ainda temos o brunch para desfrutar, na sala de refeições que dá precisamente para o jardim. Aqui quase nos imaginamos numa máquina do tempo, ou não tivesse o mobiliário vindo de uma coffee house berlinense dos anos 1950, conta Patrícia. São mesas de madeira com tampos de fórmica negra e cadeiras (e um sofá) com o mesmo jogo cromático; encostada a uma parede, entre as portas-janelas, uma tabuleta permanece como memória da antiga Livraria Civilização, que durante anos teve aqui o seu armazém; num canto, alinham-se latas de chá (34 variedades mais as da casa), expõe-se uma guitarra e uma cabaça e toca-se música no iPod Deck; do tecto pende o único candeeiro que não é original, é uma recriação de Emanuel de Sousa.
Sentamo-nos para uma versão reduzida do brunch: optamos por sumo de laranja (natural), panquecas com compota de kiwi e lima (fofas, acabadas de fazer) e iogurte. O brunch é à carta e está dividido por "blocos", e inclui desde ovos Benedict, Arlington ou escoceses, por exemplo, a Maizena com canela. Esta mesma carta é servida todo o dia - sendo que o outro ponto alto é o "chá das 5", para o qual já há clientes regulares - e 85% de tudo é produzido aqui, o pão, os croissants, as compotas... A vertente gourmet é de tal forma importante que ao sábado há workshops gastronómicos e eventos que vão desde jantares de empresas a festas de aniversário ou até casamentos.
Depois de Emanuel ter vivido na Holanda, nos Estados Unidos e em Londres, e Patrícia em hotéis durante anos enquanto responsável ibérica de gestão de activos de centros comerciais, os irmãos decidiram em 2010 investir no Porto. Quando encontraram esta casa - no chamado "quarteirão das artes", a zona com a qual mais se identificam, rodeados de galerias de arte, ateliers, lojas conceptuais - não sabiam bem o que fazer com ela. Decidiram abri-la ao mundo, como uma ponte entre a tradição portuguesa e a experiência cosmopolita. O resultado deste Rosa et Al Townhouse é tão positivo que chegam a ter hóspedes que acabam por não sair durante as suas estadias. Nós ficaríamos bem aqui durante algum tempo mais.
___
Preços: Desde 99€ (club); 148€ (queen deluxe) e 199€ (king grand deluxe).
Tem serviço de valet parking
- Nome
- Rosa et Al Townhouse
- Local
- Porto, Cedofeita, Rua do Rosário, 233
- Telefone
- 222085429
- Website
- http://www.rosaetal.pt