Fugas - restaurantes e bares

  • Rita Baleia
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A boémia soma e segue no velho bairro dos marinheiros

Por Ana Henriques ,

No meio de alguns resquícios de maresia, o lisboeta Café Tati, diz-se informal, espontâneo, luminoso, descontraído e cheio de música. Já nós concluímos que os frequentadores deste estabelecimento que já teve outras encarnações agradecem a sua existência.
Susana Torgal não sabia muito da história da loja que alugou nas traseiras do Mercado da Ribeira, em Lisboa. Só lhe tinham contado que antes de si tinha ali havido um armazém de frutas e verduras. Até que um dia lhe entrou um velhote porta adentro do Tati, o café-bar que abriu com dois amigos este Verão no velho armazém. "Estava muito emocionado, porque tinha cá trabalhado aos 16 anos. Contou-me que nos anos 50/60 isto era um estabelecimento de refrescos chamado Casa da Banana, famoso pelo seu licor deste fruto." Hoje os licores são outros: caipirinhas e seus derivados, mas também sangria, limonada com hortelã, sumos naturais...

No amplo espaço decorado com móveis velhos, os bebes podem ser tomados a solo ou acompanhados pelos comes, que são variados. Cristophe, o cozinheiro, tira do forno um bolo coberto com metades reluzentes de pêssego. Um aroma doce enche o ar. "É a minha primeira tarte Tatin", diz Susana, orgulhosa. Começou a ajudar o cozinheiro há pouco tempo. Aqui todos ajudam - afinal, nada disto era sequer para ter acontecido.

Quando há dois anos voltaram de Barcelona, onde moravam, o sonho de Susana e de uma amiga era abrir um hostel em Lisboa. "Esteve quase, mas nunca conseguimos. Então pensámos: 'E se fosse antes um bar ou um café? Afinal, adoramos fazer bolos!".

Se bem o pensaram, melhor o fizeram. Com Ramon, um espanhol que entretanto conheceram, meteram pés à obra e começaram a palmilhar a cidade. Foram seduzidos pelo armazém de janelas até ao chão que estava para alugar nas traseiras do mercado, ao pé de negócios que não existem em mais lado nenhum da cidade, lojas de cordames e venda ambulante de minhocas -resquícios das vidas de marinhagem que desembocavam no Cais do Sodré.

Mas foi com os olhos postos em terra firme que os três amigos tomaram a decisão: "Percebemos que este bairro está a mudar. A revista Time Out vem para o primeiro andar do mercado [onde vai abrir uma discoteca e restaurantes, entre outras coisas]. A Bica está mesmo aqui ao lado, já há gente muito gira a viver aqui... E a luz, há imensa luz." Entra pelas janelas e ilumina as mesas de madeira trazidas da Feira da Ladra e de casa de amigos que já não as usavam, as cadeiras desemparceiradas, os sofás retro resgatados da rua, de uma morte mais do que certa. É também para aproveitar esta luz que o Tati tem um horário de funcionamento alargado: das 11h à 1h. Por enquanto só há duas mesas na rua, mas se um dia a zona for vedada ao trânsito, como acabou de acontecer ali ao lado, na rua do Jamaica e do Tóquio, a esplanada promete crescer.

Da actual ementa dos almoços, jantares e petiscos fazem parte iguarias gregas como o tzatziki - uma iguaria de iogurte com pepino e alho - e as tortilhas. A cozinha do médio oriente marca presença com o puré de beringela com tahine, uma pasta feita de sementes de sésamo. Quando o calor se for embora a carta acompanhará o ritmo da nova estação. Os preços dos pratos ficam abaixo dos dois dígitos. Aos sábados e domingos o brunch custa dez euros e é servido durante todo o dia. Inclui uma bebida quente, sumo de laranja, torradas com manteiga ou doce, salada de fruta ou iogurte com cereais e um prato de salgados com queijos, enchidos e truta fumada e ovos. Tudo rematado com uma fatia de bolo caseiro. "As mulheres, coitadinhas, não conseguem chegar ao fim disto tudo", ri-se Susana Torgal.

Nome
Café Tati
Local
Lisboa, Santos-o-Velho, Rua da Ribeira Nova, 36
Telefone
213461279
Horarios
Terça a Domingo das 11:00 às 01:00
Website
http://www.cafetati.blogspot.com
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