Fugas - restaurantes e bares

  • Helena Colaço Salazar
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Este Umai é de se comer sem reservas

Por Fortunato da Câmara ,

Com a abertura de um novo Umai, os chefs Anna Lins e Paulo Morais fazem chegar a cozinha asiática de qualidade a um público mais abrangente, instalando-se no Chiado. O desfile de sabores é mais do que recomendável.

É visível a proliferação de restaurantes japoneses - ou melhor, vagamente inspirados na cozinha japonesa - que tem assolado Portugal nos últimos anos. O verbo justifica-se pelo desvirtuamento que grande parte deles faz da cozinha nipónica. Os inúmeros restaurantes chineses convertidos em japoneses, para afastarem rapidamente o estigma sanitário que lhes caiu em cima há uns anos, e onde foi encaixada uma decoração híbrida feita às pressas, são um bom exemplo deste mal. Outro caso, embora sem tanta expressão e mais confinado a centros comerciais, é o dos kaiten sushi com um tapete serpentino de pratinhos onde cabe tudo, e que por vezes lá vai tendo em "circulação" comida japonesa... 

Infelizmente, estas revoadas no sector da restauração trazem abundância da oferta mas pouca qualidade de opções. O panorama é curto para os seguidores da cozinha japonesa, mas lauto para os seguidistas da moda japónica que anda pelas mesas. Talvez os dedos de uma das mãos sejam suficientes para contar os restaurantes japoneses de qualidade assinalável que existem na região de Lisboa; se formos para as duas mãos somos capazes de ter o país inteiro enumerado. 

É neste lote reduzido que figura o Umai, aberto em Abril de 2010 na zona de São Bento pelo casal Anna Lins e Paulo Morais, que agora se aventuram numa segunda morada junto ao Chiado. O novo espaço está no edifício do Hotel Mercy, situado entre o Teatro da Trindade e a Igreja de São Roque, mas com acesso autónomo à face da Rua da Misericórdia. 

Paulo Morais está referenciado como um dos melhores chefs de cozinha japonesa do país. Foi acumulando sabedoria e experiência durante anos até alargar os seus conhecimentos a outras cozinhas de latitudes vizinhas do Japão. Juntamente com Anna Lins, desenvolveu um menu de cariz pan-oriental que inclui especialidades de países como Índia, Tailândia, Vietname, Coreia ou China. A este conceito transversal de cozinha asiática, os chefs deram o nome asian twist. É essa a base da ementa que se pode encontrar neste novo espaço, que às quintas-feiras tem no menu "Dia do Mercado" um pot-pourri da carta, quase na íntegra, servida em microdoses juntamente com especialidades do dia que vão variando semanalmente. 

Numa dessas quintas-feiras estavam em foco os kushi, petiscos diversos servidos em espetos, mas que não são forçosamente espetadas do tipo yakitori (frango com molho agridoce). Em semanas anteriores já houve, por exemplo, menus dedicados à Coreia, a aves, a massas asiáticas, ou a makis (rolos de sushi com alga nori e arroz) de diversos países. Além da parte temática rotativa, com 10 especialidades, há sempre oito itens fixos de sushi e sashimi, outros oito de especialidades Umai e quatro sobremesas, o que perfaz um total de 30 porções para degustar em cada "Dia do Mercado" (29 euros/pessoa). 

No dia dos kushi houve alguns destaques pela positiva. Foi o caso do "lollipop de salmão marinado e manjericão", com o peixe e o manjericão enrolados em cornucópia e seguros com um espeto, numa ligação de sabores inesperada e refrescante. No "kushiage de novilho e espargo", duas tirinhas de carne enrolavam dois troços de espargos, com a espetada a ser brevemente frita e a surgir com uma cobertura crocante por fora, mas húmida no interior. Muito boa e sedosa a "nasu dengaku - beringela com molho miso", assada e de tempero adocicado. Um miminho estava o "ovo de codorniz panado em coco e chutney de abacaxi", que era apenas meio, mas de capa fina de coco a crocar, com a esperada boa ligação ao leve condimento de abacaxi. A "tempura de camarão com amêndoa laminada" é um clássico da dupla de chefs, que explora bem o casamento deste marisco com a amêndoa torrada. Simples e saboroso o "caril goês com abóbora e manga", servido numa tacinha sobre arroz basmati simples. Também recomendável era a união entre a "kofta de frango com raita de baterraba", com o picadinho da ave bem temperado e moldado em bola à volta de um kushi de bambu, a ligar bem ao molho de iogurte com tons vibrantes dados pelos cubinhos de beterraba. 

Os menos interessantes do desfile foram a "panqueca de mexilhão", pela quase ausência de sabor do molusco, e a "almôndega de curgete e noz", pela textura empapada e o predomínio do fruto seco sobre toda a mistura. A "cornucópia de sésamo com caranguejo" que eu provei anteriormente sem ser em formato de degustação, parece-me ficar aqui prejudicada devido ao tamanho micro do cone. A quantidade exígua de caranguejo real que leva é abafada de imediato pelo sabor doce e intenso do crocante de sésamo de que é feita a cornucópia. 

Nas sobremesas do menu sobressaíram o "bolo de amendoim", ligeiramente húmido e de sabor concreto, e o "awayuki de abacaxi e pimenta szechuan", uma espécie de farófia do fruto, delicadamente gelatinosa, com notas de menta, e muito suave no palato. Os restantes pratos apresentaram-se todos cabais e sem reparos.

Na escolha à carta experimentaram-se os "gyozá" (4 euros), com um recheio de legumes diversos como beringela, curgete, cenoura e tofu, mas de tempero um pouco neutro. A massa, apesar de fina e delicada, não trazia a base ligeiramente tostada e por isso rompia ao mínimo toque. Muito boa era a "tempura de caranguejo de casca mole" (8 euros), com os quatro pedacinhos do crustáceo de casca quase inexistente, amaciada pela roupagem de fritura fina. O "ussuzukuri" (10 euros) é composto por 10 fatias de um peixe do dia, servidas cruas sobre gelo picado e cortadas em lamelas. Calhou-nos um pregado impecável na subtileza do sabor, com as tiras a poderem ser "temperadas" num delicado molho com cebolinho. O "sushi moriawase" (14,50 euros) era um sortido de 12 peças com nigirisuramakishosomakis e um gunkan, tudo de muito bom nível. Experiência sui generis é o "kimchi" (1,50 euros), prato típico coreano feito a partir de couve branca fermentada de sabor avinagrado e picante (de malagueta) que tem um ataque forte e intenso, mas não deixa o palato adormecido. Foi assim possível provar a "coxa de pato assada" (6 euros), desossada, com as lascas suculentas embebidas num molho escuro e guloso, a serem intercaladas com quadrados de paratha (pão indiano), como se fossem pequenas sanduíches. 

Ao que apurei, os dois espaços Umai vão ser complementares, ficando este do Chiado mais centrado no conceito asian twist, enquanto o de São Bento vai ter uma componente mais japonesa. E embora esta nova casa tenha duplicado de lotação em relação à primeira, o ambiente é mais envolvente e confortável. A sala é moderna e sóbria, evidenciando-se quatro belíssimos biombos sobrepostos, em tons de branco, preto e dourado, recortados em escantilhão num motivo de estilo oriental. Os sofás que percorrem as paredes do espaço vão sendo interceptados por pequenos separadores que criam recantos discretos, propícios a conversas mais recatadas.

O serviço, maioritariamente feminino, é simpático e eficiente. Na parte dos vinhos, além da oferta de brancos ser em igual número à de tintos, há vários rosés, espumantes e champanhes, com o total de referências a chegar perto da centena. Assim cada um pode encontrar o vinho mais adequado a um leque de sabores tão ecléctico. E não é o preço que o vai encaminhar para as tisanas e infusões que também vai encontrar na carta, pois os valores cobrados por garrafa são muito razoáveis. 

Umai é um termo japonês usado quando algo é bom, bem feito, ou, no caso da comida, saboroso. Eu acrescentaria que este Umai é de se comer sem reservas porque é de facto delicioso. 

Nome
Umai - Chiado
Local
Lisboa, Encarnação, Rua da Misericórdia, 78
Telefone
967271281
Horarios
Domingo, Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira, Sábado e Feriados das 12:00 às 15:00 e das 19:30 às 23:00
Website
http://restauranteumai.blogspot.pt
Cozinha
Tailandesa
Espaço para fumadores
Não
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