Belo Horizonte? "Belo Horizonte é uma cidade no Brasil". Décadas a fio de telenovelas brasileiras dá nisso - que nessa conjugação precisa de palavras se tenha perdido já o sentido original e a imagética própria do adjectivo "belo", e o significado vasto e avassalador dessa coisa única e especial que é o "horizonte".
Chamar-se "Belo Horizonte" a um bar da Foz do Porto soaria assim algo démodé, a lembrar um centro de convívio para a comunidade luso-brasileira. Mas se, de há umas semanas para cá, quem passeia na Avenida do Brasil repara que aquela frente urbana tem agora um edifício novo, fresh e sofisticado, que instiga apenas ideias no campo lexical do cosmopolitismo e da boémia europeia, é porque quem criou a casa soube ficar-se pelo impacto imediato (e mais fértil em implicações) de duas letras apenas: "BH". Afinal, qualquer que seja a correspondência criada para esses dois caracteres, o elemento principal está lá, à vista privilegiada de quem entra - o que predomina é essa linha mágica e intocável que divide a terra do mar, é esse agrado que se expressa em adjectivos que terão quatro ou mais letras consoante a verve do observador.
É certo que o horizonte marítimo da Foz se revelará sempre "belo" a partir das áreas mais elevadas do edifício, seja em tons de sol ou no carregado das tempestades. Já "bar" poderá ser uma descrição simplista para um espaço que, por trás da sua denominação telegráfica, esconde muitas histórias e outras tantas funcionalidades. Na base de umas e outras está a versatilidade proporcionada ao imóvel pela sua estrutura original.
O edifício é de 1945, foi desenhado pelo arquitecto Amoroso Lopes em estilo moderno e Art Déco, e faz-se de linhas tão arejadas e luminosas que nos pisos inferiores funcionava uma garagem com estação de serviço e, no segundo andar, um salão para bailes, galas e momentos mais elegantes. E, apesar do que possa parecer, nessa combinação não há qualquer incongruência: o automóvel era então um objeto de maior culto; a dança uma coreografia mais complexa de sedução e afirmação social.
Hoje, renovado com recurso a uma intervenção delicada que preserva a memória do edifício antigo e potencia as suas principais qualidades, o BH quer afirmar-se como cenário casual chic, mas propõe-se também recuperar a finesse da Foz dos anos 50. Tem bares, esplanada, um espaço para exposições temporárias e um salão imenso para eventos, onde, dependendo da sensibilidade das almas, ou se perde irremediavelmente o coração, ou se recolhe o incentivo que alimenta ambições. Abençoados como Nuno Loureiro podem até merecer ambas as sortes. "Da primeira vez que vim cá e me aproximei destas janelas, já não tive qualquer hipótese", recorda o arquitecto. "O pôr-do-sol estava mesmo a cair sobre o mar e eu apaixonei-me por esta vista".
Foi assim que, rendido o coração, o arquitecto se ambicionou gerente do espaço. Seguiram-se vários anos de burocracias morosas, um plano de reabilitação exigente e ainda um projeto de decoração cuja estética mista combina elementos de linhas modernas, infusões de Anish Kapoor e Donald Judd, e ainda antiguidades de várias épocas, lusas e asiáticas. O ambiente musical, por sua vez, é ecléctico e "de excelente gosto", abordando "tudo o que tem qualidade entre o jazz e a house urbana". Acompanha-se com um flute de champanhe, um Bloody Mary, um Mojito ou, mediante confidências mais pessoais aos barmen de serviço, até com a especialidade da casa, que é um oportuno Cocktail Surprise.
- Nome
- BH - Belo Horizonte
- Local
- Porto, Sé, Avenida do Brasil, 498
- Telefone
- 939941766
- Horarios
- Todos os dias das 12:00 às 22:00
Sexta e Sábado das 12:00 às 02:00
- Website
- http://facebook.com/bhar.porto
- Observações
- Dispõe de sala para fumadores.
