Este Rua, no Porto, chega em várias artérias: a das restaurante noctívago, a de bar, a de cenário de música ao vivo. Fica na Cedofeita e o mote principal é socializar.
Pub
Nuno estava em Angola há seis anos, entregue à engenharia civil, com vontade de voltar ao seu Porto. Pedro já estava em Portugal, depois de dois anos a gerir restaurantes e hotéis madrilenos. Com menos de um mês de vida, o Rua, obra dos irmãos Garcês, quer impor-se na noite do Porto como um espaço ambíguo: um bar que é um restaurante de tapas que é um espaço com concertos.
O novo restaurante-bar fica na Travessa de Cedofeita, no Porto, cada vez mais a rua onde se vai comer qualquer coisa para sossegar o estômago nas noites de boémia. Lá já moravam o Espaço 77, o Museu d'Avó e um posto de venda de kebabs; agora, mora também um bar de tapas com ementa concebida por João Pupo Lameiras, jovem chef em ascensão com provas dadas na portuense Casa de Pasto da Palmeira. Quantos mais melhor, afiança Nuno, de 32 anos: "A concorrência aqui não é concorrência. São todos muito diferentes."
Há quem entre no Rua e só perceba que este bar também é um restaurante assim que avista a carta (pode-se pedir pratos até à hora do encerramento). Lá encontramos receitas de "inspiração global", mas "mais virada para Portugal e Espanha", terras de petiscos e tapas, conta João Pupo Lameiras. Tudo "coisas pequeninas para ir partilhando", para "tapear, picar": cornetto de salmão, tortilha, nachos, chocos fritos...
Lameiras já conhecia a mãe dos Garcês, que distribui verduras usadas nos cozinhados da Casa de Pasto da Palmeira. Desafiado a preparar um cardápio para o Rua, pegou nas ideias de Nuno e Pedro e juntou-lhe coisas suas.
Inspirado pelo nome do espaço, quis ter um bocadinho de "comida de rua". Surge assim o cornetto de salmão, com salmão fumado, queijo creme, funcho e um toque ácido de alcaparras. Lameiras também reinventou "comida que não é de rua, mas é quase", com destaque para a francesinha de massa folhada com bife de alcatra - "igual" à tradicional, mas com "massa folhada à volta". "Fica mais leve", descreve.
As tibornas (uma bruschetta à portuguesa com pão rústico tostado regado com azeite - na carta, destaca-se uma de setas, foie gras, pinhões e vinagre balsâmico) e o foie gras com compota de figos e pão de passas são alguns dos pratos mais pedidos pelos clientes na ainda curta vida do Rua. E "toda a gente gosta muito das batatas bravas", talvez pela "boa relação qualidade-preço" (um prato custa 2,5 euros), aponta Nuno Garcês.
Para usufruir ao máximo do Rua, o ideal é pedir vários pratos (e a ementa é vasta, do atum chapeado com escabeche de legumes aos nachos com guacamole, do preguinho em pão de sésamo com salada e alioli à tortilha de batata, pimento morrone e gambas) e partilhar com os outros comensais. Até a francesinha "é cortada para poder partilhar".
Filosofia da tapa
A fórmula do Rua - resuma-se: um restaurante-bar de tapas com música ao vivo - foi obtida com a ajuda de um estudo de mercado, mas o conceito que define o espaço surgiu cedo, ainda Nuno e Pedro, de 26 anos, estavam metidos noutros afazeres: abordar o espaço "como se fosse uma continuação da rua". Isso mesmo norteou o projecto de arquitectura, a cargo dos ateliers Proj3ct e Pluggo.
"Uma rua onde há música ao vivo, umas tapas para petiscar", elabora Nuno, mas uma rua: por isso, tanto no interior como no pequeno pátio, o chão é em paralelos; por isso, há sarjetas no chão e mobiliário urbano (os candeeiros, os separadores de passeio que fazem parte do balcão); por isso, há uma placa toponímica tipicamente portuense e uma cena urbana representada num graffiti de Mr. Dheo (um graffiti com graffitis lá dentro).
Os irmãos Garcês chegaram a pensar em abrir uma hamburgueria. "O meu irmão tinha estado a trabalhar em Espanha num restaurante de hambúrgueres e a ideia era trazê-lo", diz Nuno. Mas o gosto pela música e a vontade de terem um sítio "em que o trabalho desse algum prazer" encaminharam-nos numa nova direcção: algo que se aproxima de um pub, mas "um pub à portuguesa e à espanhola".
Pedro Garcês guarda boas memórias gustativas de Madrid e decidiu instituir uma delas no Rua, uma tradição que "tem muita piada e [que] aqui não há": oferecer um pratinho para acompanhar uma bebida. No Rua, a tradição dos vizinhos ibéricos é vertida numa espécie de happy hour (na verdade são duas, das 18h às 20h) na qual por cada cerveja de pressão pedida recebe-se um pratinho. O cliente "não escolhe" o petisco, que pode ir de umas picantes batatas bravas a opções que não estão na carta.
Para Pedro Garcês, comer é socializar, em Espanha ou na Travessa de Cedofeita. Nesse sentido, as tapas são, mais do que um alimento, uma forma de estar: "São uma maneira de comer. É um comer que é um petiscar, tanto pode ser muito como pouco, e geralmente acompanhado."
_____
Música ao vivo
Entre as 23h30 e a meia-noite, às sextas e sábados, no pequeno palco do Rua há música ao vivo. O objectivo é, a curto prazo, que haja concertos de quarta a domingo, assim que o bar alargar os dias em que está aberto (algo que deve acontecer já este mês): com artistas emergentes à quarta, música da América do Sul à quinta e pop-rock ao fim-de-semana. No próximo dia 20, data da inauguração oficial do Rua, actua O Martim.
Nome
Rua
Local
Porto, Cedofeita, Travessa da Cedofeita, 24
Telefone
222010879
Horarios
Domingo, Terça-feira e Quarta-feira das 18:00 às 02:00
Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 18:00 às 04:00