Receitas tradicionais, arte e apuro culinário. O nome é erróneo, mas tudo o resto bate certo: n' Os Castelhanos de Espinho encontra-se a melhor cozinha regional e para estômagos exigentes e insaciáveis.
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O melhor é começar por esclarecer que não há qualquer relação com Espanha ou a região de Castela nem com a cozinha que por lá se pratica. Apesar do nome, Os Castelhanos é um restaurante bem português de apurada cozinha regional e naquele estilo de quem não dá tréguas aos estômagos mais exigentes e insaciáveis. Embora errónea, a designação tem apenas que ver com Castelo de Paiva, o concelho onde têm raízes os proprietários do restaurante.
E tal como o nome, também a localização parece desafiar a lei das probabilidades: escondido entre pinhais, a meio caminho entre a A1 e a A29 e numa zona onde o território é disputado por habitações e espaços industriais de estilo pouco ortodoxo. Mas como o apetite aguça o engenho, e em muitas situações é mesmo o estômago que comanda a vida, o caminho acaba por ser coisa de pormenor face ao prazer e satisfação final.
O mais simples é optar pela A29 até à saída Espinho/Picoto, contornar a rotunda em direcção à A1/Picoto e sair à direita logo que possível, umas centenas de metros adiante. A partir daqui é seguir umas placas vermelhas com a indicação "Cavalinho" (da fábrica de carteiras) durante escassos dois a três quilómetros. O restaurante está à esquerda ainda antes de se chegar à empresa e logo se intui pela concentração de automóveis escuros e de alta cilindrada da clientela.
É numa vivenda de aspecto exterior pouco convidativo que se escondem duas salas amplas e climatizadas, mesas convenientemente aparelhadas com toalhas e guardanapos de algodão branco, mobiliário em madeira pintada de negro e decoradas ao estilo regional. A coisa torna-se ainda mais prometedora com o átrio e a sala da entrada (aberta a fumadores), forrados por caixas de madeira de vinhos de reconhecida qualidade.
Nem é necessária a lista ou qualquer escolha especial para rapidamente nos darmos conta que estamos no lugar certo. A percepção dos aromas antecipa-se à sucessiva chegada de pequenas porções de favas com chouriço, costelas de porco avinhadas, moelas estufadas ou tripas à moda do Porto.
Cheiros e sabores que despertam as memórias e emoções e que são, afinal, o tempero para o prazer gastronómico. Assim se passou com o apuro da feijoada, que logo trouxe à memória de um dos comensais as copiosas tripas do Portucale nos tempos áureos em que era comandado pelo saudoso Ernesto Azevedo. E mesmo sem provocar essa emoção, diga-se que também as favas, o estufado das moelas ou as costelas confitadas deixaram idêntica satisfação.
Nos mesmos moldes provou-se ainda uma apetitosa feijoada de marisco, antes de se passar às escolhas propriamente ditas: um robalo de mar de boa envergadura (30€) para três; cabrito assado no forno (25,50€) em idêntica proporção; e ainda doses singulares de lombo de porco preto (12,50€) e de vitela arouquesa (14,50€), igualmente assadas no forno a lenha.
Mesmo sem fugir à perniciosa moda de o espalmar (escalado), o robalo mantinha as carnes ainda suculentas e o sabor a mar. Produto de excelência, sobrando apenas espaço à imaginação para saber como seria com a concentração de sabores, sucos e gelatinas caso não tivesse sido mutilado antes de ir ao calor das brasas. Como acompanhamento, batata assada a murro e grelos cozidos, com o azeite a ser sabiamente colocado à parte para que cada um o possa utilizar na quantidade desejada.
O cabrito é o emblema da casa e é justo que se diga que só por si mais que justifica o caminho. Percebe-se que é bem avinhado antes de ir ao forno e assar lentamente com variedade de ervas aromáticas. De tal forma tenro, untuoso e suculento que se torna difícil resistir à tentação de dissecar as peças à mão e chupar até ao tutano. Acompanha com arroz de miúdos da mesma estirpe e batatas assadas, tudo igualmente do forno. Escusado será dizer que tanto com a vitela como com o porco preto, sempre com as batatas do assado, é igualmente exímio o ponto de cozedura, que torna as carnes gulosas e irresistíveis.
Além da qualidade do trato culinário e do evidente critério na escolha das carnes, peixes e legumes, as quantidades são também sempre generosas e com a indicação de que a meia dose é para duas pessoas.
O cliente pediu...
A mesma abundância que encontramos na lista, que nos tenta com um total de mais de setenta propostas. Variam entre os acepipes (0,75/4,90€), ovos mexidos (sete propostas entre 1,50 e 8,90€) ou sopas, incluindo estas propostas tão tentadoras como um caldo de peixe ou as papas à Castelhanos com grelos que também servem como complemento aos rojões.
Além dos peixes do dia, há também os filetes (bacalhau, pescada e tamboril), polvo na brasa e cinco preparações para bacalhau (chamando a atenção as variantes à Castelhanos e à Liberdade). São propostas outras tantas espetadas (cherne, tamboril, lulas, salmão e marisco), com preços entre os 13,50 e os 24,50€.
Aos assados no forno a lenha (12,50/25,50€) acrescem uma dúzia de propostas de carne, nelas se incluindo os bifes, rojões, rancho à caçador e tripas (13,50/28,50€). Há ainda que referir mais cinco propostas para "arroz ao momento" (cabidela, marisco, tamboril, vitela e de cherne com grelos), com preços entre 14,50 e 29,50€.
É claro que há também uma quantidade de tentadoras sobremesas. Provaram-se apenas as rabanadas, ainda quentes, e um vistoso gelado, que alinham pela qualidade de produção caseira e apelo gustativo.
Tal como a ementa, também a carta de vinhos é alargada, se bem que um tanto confusa e desorganizada. Nota-se logo que não inclui boa parte dos vinhos expostos e que abrangem todas as regiões, variedades e leque de preços. Precisa de actualização, tal como nos explicaram estar a acontecer com toda a orgânica do restaurante, que nasceu há quase duas décadas (1994) apenas com a vocação para casa de petiscos mas a que rapidamente a clientela impôs o ritmo de restaurante.
A fama começou com O Trovador, o café que Carlos Pinho explorava no centro de Espinho e que era muito procurado pelos petiscos e o impeliu a abrir uma casa de raiz fora da cidade. A ideia era servir apenas petiscos mas a clientela é que não esteve pelos ajustes e começou a invadir portas nas horas de refeição, obrigando em poucas semanas à passagem para o ritmo de restaurante. O crescimento e a procura foram sempre superando a organização e é agora o tempo da segunda geração, já com formação hoteleira, meter ombros à tarefa. Ajustar serviço, mas tão-só para valorizar a cozinha, como nos explicaram. E a coisa, pelos vistos, vai mesmo no bom caminho.
Nome
Os Castelhanos
Local
Espinho, Espinho, Avenida da Bessada, 385 (Nogueira da Regedoura)