No bairro do Campo de Ourique, a dois minutos do chamado Jardim da Parada (o Jardim Teófilo Braga), brilha um sinal em forma de círculo em tons de azul e vermelho com estrelas e um meio sorriso de lado. O aviso: “Karl''s Cookies”. E, na montra, é mesmo um paraíso de cookies, bolachinhas em travessas brancas e com os sabores descritos em pequenos papéis em inglês e português. “Cheira a bolinhos”, diz um petiz que vai passando.
Lá dentro, encontramos Karl Lingenfelder e Greg Burseau, um casal norte-americano, de São Francisco, que se apaixonou por Portugal numa viagem a Lisboa em 2005. Em 2008, decidiram mudar-se para a capital portuguesa, apesar de os familiares pensarem que “Portugal ficaria lá para os lados da África do Sul”, dizem-nos. Mas mal chegaram a Lisboa, decidiram a sua vida. “É uma coisa que não conseguimos explicar, mas soubemos logo que tínhamos de viver aqui. Estava destinado.” Mas, em vez de uma reforma calma, decidiram pôr as mãos na massa e abrir uma lojinha de onde, agora, saem várias fornadas de bolachas americanas caseiras todos os dias, um negócio que até é uma homenagem à mãe de Karl, que agora dá vida às bolachas que acompanharam a sua infância e juventude. É assim desde Setembro nesta que é a primeira loja “Karl''s Cookies” e na qual contam com um sócio português, António Perucho.
Em sentido restrito, estas bolachas americanas que querem conquistar Lisboa são as “famosas drop cookies”. Digamos, bolachas caídas - o que quer dizer que não são as bolachas esticadas com o rolo mas sim aquelas em que se deixa cair cuidadosamente a massa sobre o tabuleiro. Feitas por Karl, saem em várias fornadas pelas mãos de Greg. Karl também lhes chama “soft baked” porque algumas são meio cozidas, o que lhes confere uma textura mais suave e amanteigada (e que, como podemos comprovar, derretem na boca).
As bolachas da mãe do Karl ganham assim uma nova vida à medida que o próprio vai acrescentado ingredientes e inventando novos sabores. Tem especial curiosidade em experimentar sabores menos comuns como wasabi ou alfarroba, brincar com sésamo ou pistácio - já disponíveis na loja e, tanto estes como os sabores mais convencionais (chocolate, nozes, avelã, limão ou gengibre) custam entre 0,80€ e 1,40€. Por estes dias, também já anda por lá alfarroba algarvia.
O espaço é pequeno, cabem menos de dez pessoas. Para o casal e as suas bolachas é “suficiente”. As bolachas são take away, chamam-lhe “walking food” - comida para comer a andar -, um conceito mais americano que português. Ainda assim, para os que não gostam de comer em movimento, podem apreciar as bolachas aqui com café (0,50€), capuccino (1,10€) ou refrigerante (1€, que se pode encher quantas vezes se quiser) numa das cadeiras desdobráveis de madeira salmão, no jardim a dois minutos da loja ou levar para casa.
O processo de fabrico das bolachas, assegura Greg, será sempre “artesanal”. É a palavra-chave, também para os planos de expandirem o negócio. “Não é o dinheiro que nos move. As cookies não são essenciais para se viver mas fazem-nos sorrir. Dão conforto. E as pessoas voltam”, diz Greg. Karl, com sangue de empreendedor, admite que esta loja tem sido uma aventura muito divertida e que é assim que querem que continue.
Para além dos sabores e texturas com que esperam conquistar os portugueses, apostam no atendimento, que Greg quer personalizado, e, last but not least, simpatia. Como publicidade, oferecem pequenos vales, que nos lembram selos, que dão direito a uma bolacha grátis.
Desengane-se quem pense que a língua é, para o casal, uma barreira. Para Greg, “a comunicação é muito mais que palavras”. Ficou magoado quando um português lhe disse que só se iriam integrar quando e se aprendessem português. Greg explica que “não exigem a ninguém que fale inglês”, até porque têm um funcionário português para ajudar no atendimento. Greg fala, expressão utilizada pelo próprio, “portuglês” (que é a junção de português com inglês) e é nesse seu idioma próprio que cumprimenta, atende os clientes e dá ares da sua simpatia.
O atendimento cosmopolita até serve como atracção para a clientela. Entre os clientes fiéis, contam já com alguns moradores mais idosos do bairro - alguns até, como assistimos, que aproveitam para aprender algumas palavras novas em inglês enquanto compram bolachas. Os turistas também já descobriram a morada, as crianças do bairro já são da casa e não faltam visitantes peritos em experimentar os novos lugares e tendências da cidade.
E, por aqui, nem os animais de estimação são esquecidos, por 0,50€ ou 0,80€ podem comprar-se bolachinhas para cães sem açúcar ou manteiga. Que, na verdade, garantem-nos, também são boas para humanos. A dúzia de bolachas (mais uma grátis) custa 9,60€ o menu café mais cookie fica por 1,20€. Têm ainda pizzas de bolachas (12€, incluindo um cupão de 10€ para a próxima compra): são 16 peças com sabores à escolha e que vão ao forno numa bandeja redonda, o que cria um produto final com formato a lembrar uma pizza. Para breve esperam ter brownies, cupcakes, chocolate quente e uma grande especialidade americana, a manteiga de amendoim caseira.
No futuro, gostariam de abrir mais lojas em Lisboa - têm debaixo de olho zonas como a Baixa, Príncipe Real ou Saldanha -, Sintra, Cascais, chegar ao Porto, Braga e Évora. Karl diz entre sorrisos que estão a dar recompensas a quem encontrar novos espaços para as suas bolachas. E não está fora dos planos levar as bolachinhas para outros países. Karl ambiciona mesmo ter um franchising, à Starbucks, explica, desenvolvendo uma marca icónica. Se o vai conseguir ou não ainda não sabemos, mas a verdade é que as cookies já andam pelas ruas e o segredo americano de Campo de Ourique a passar de boca em boca.
Num banco do jardim, encontramos os jovens André e Rita que vão abrindo com curiosidade bolsinhas de papel branco e espreitando as bolachas dos diferentes sabores que escolheram. São fãs de bolachas e até agora não se tinham visto satisfeitos com as várias que têm experimentado pelas pastelarias portuguesas. Leram numa revista e não podiam deixar de passar pelo bairro “agradável”, como descrevem, e confirmar se tinha nascido em Lisboa o 1º espaço especializado em cookies. “Estão aprovados, são muito boas. O difícil é escolher”. E claro, esta descoberta não a vão guardar só para eles.
Cookies de Karl
Menu: Com pedaços de chocolate; Com avelãs tostadas e pedaços de chocolate branco belga; Com nozes tostadas e pedaços de chocolate; Com limão e pedaços de chocolate; Com manteiga de amendoim e amendoins; Com limão e gengibre; Com pistácios tostados e pedaços de chocolate branco belga; Com gengibre e pedaços de chocolate belga; Com nozes macadâmia tostadas; Com avelãs tostadas e canela; Com aveia tostada, canela e passas; Com sementes de sésamo e gengibre. A lista está sempre a crescer e a receber novos sabores.
Preços: de 0,80€ a 1,40€; dúzia (+1) 9,60€; pizza de cookies (com 16 bolachas) 12€.
- Nome
- Karl´s Cookies
- Local
- Lisboa, Santo Condestável, Rua Infantaria 16, 77B
- Telefone
- 920047526
- Horarios
- Todos os dias das 10:00 às 20:00
- Website
- https://www.facebook.com/KarlsCookies?fref=ts