Os melhores restaurantes estão sempre cheios e é boa ideia aparecer ao meio-dia ou às sete da tarde, para açambarcar o atendimento, meter conversa, apurar responsabilidades e, sobretudo determinar o que se há-de comer naquele dia.
O restaurante O Miguel é um restaurante de peixe que toda a gente conhece e de que toda a gente gosta. Tendo muito movimento faz lembrar os restaurantes mais animados de Matosinhos, em que está sempre a aparecer peixe fresco, à medida que a multidão vai devorando o que está na montra.
Para um lisboeta é espantoso vir peixe fresco todos os dias, como é o caso do Miguel. É um prazer observar o Senhor João, mestre-grelhador, a fazer a montra. Ele próprio confessa que é vaidoso, porque dispôe as dúzias de peixinhos num estilo muito particular, de cornucópia de abundância.
A escolha é tanta que se fica maluquinho da cabeça. Não é a tarefa habitual de localizar o peixe da época que está mais gordinho e fresco. No Miguel é preciso fazer inúmeras rejeições cruéis.
Estavam tão bonitos os salmonetes — pequeninos, incandescentes, redondos, brilhantes — que tive de escolhê-los violentamente. O quilo estava a 38 euros e por 40 euros pudemos encher as barrigas com 8 salmonetes. Bem sei que é uma brutalidade — 4 salmonetes para cada um — mas por 5 euros por cada perfeito salmonete, perfeitamente grelhado, a pechincha era deliciosa de mais para poder ser-se razoável.
Para mais, àquela hora da tardinha, pudemos ter a lata de pedir que os salmonetes fossem servidos dois de cada vez, acabadinhos de grelhar: um casalinho para o casalinho: uma, duas, três e (custou mas foi) quatro vezes.
O mal de comer salmonetes perfeitos — como já tinha acontecido no Bataréo — é que se fica pessimamente habituado para comer os salmonetes não-setubalenses que são apenas, na melhor das hipóteses, muito bons.
Mas O Miguel, como outros bons restaurantes de peixe de Setúbal, não é apenas um grelhador de peixe. Sabem cozinhar a sério e são inovadores.
Tivemos de lá voltar segunda vez, para podermos resistir aos salmonetes. Para já reparámos nos cruciais pormenores: um pão comilão, com pico alentejano e saborosas azeitonas, verdinhas e rijas. Ao contrário do que tantas vezes acontece noutros restaurantes quando se pede pão para levar (“vou ver se podemos ceder umas fatias...”) o Miguel vende um pão inteiro por 1,90 euros.
Também tem uma broa de milho a sério, húmida e pesada que vende inteira (3,90), meia (2,50) ou um-quarto (1,40). O queijinho de Azeitão deles (que não provei, ao contrário dos outros comensais que pareciam não fazer outra coisa) leva-se para casa por 4 euros. Há também uma luxuosa Caixinha de Doces Típicos que se deixa arrematar por quaisquer 11 euros.
Nas entradas, a salada de ovas, por 3,50 euros, é uma obra-prima, suculenta e vivaça. Nem é amostra nenhuma: é bem servida e dá para duas pessoas, com a colaboração entusiástica do dito pão.
Serviram-nos lulas fresquíssimas, cheias de tinta (uma raridade). Depois de perfeitamente grelhadas (desta vez pelo pai do Miguel) eles dão-lhes uns golpes e acrescentam-lhe cebola crua, azeite frio e coentros.
- Nome
- O Miguel
- Local
- Setúbal, São Sebastião, Rua da Saúde, 16/18
- Telefone
- 265573332
- Horarios
- Todos os dias das 12:00 às 23:00
- Website
- https://www.facebook.com/restauranteomiguel.miguel/
- Preço
- 20€
- Cozinha
- Peixe e Marisco