Saímos do metro na estação Baixa-Chiado em direcção à esquadria pombalina e mal pomos o pé na rua já o vislumbramos à direita: sobre aquele rés-do-chão debruçam-se toldos pretos, floreiras ainda tímidas, antigos candeeiros de rua e letreiros oscilantes. Se o cenário ainda deixar dúvidas, a tabuleta confirmará em letras douradas: esta é uma public house ou, utilizando o diminutivo mais comum, um pub. O primeiro verdadeiramente inglês em Lisboa, garante o gerente, Gonçalo Bita Bota. “Os que existiam até agora são irlandeses, mais vocacionados para as bebidas, diversão e festa. Nós obviamente que queremos ter isso tudo, mas sempre com uma atenção especial para a cozinha”, indica.
Não faltam, por isso, fish and chips (feito com bacalhau fresco, peixe do dia ou choco frito), bife Wellington ou o tradicional pequeno-almoço inglês (servido até às 18h e com uma apresentação gourmet que recria visualmente uma quinta). E ao domingo, o típico sunday roast promete trazer mais um pouco da good old Blighty à luz lisboeta: cinco variedades de carne assada à escolha — vaca, veado, borrego, porco e frango —, acompanhadas de legumes, batatas assadas e gravy (molho de carne). Contudo — e porque “a cozinha inglesa tem sempre aquela fama de não ser muito boa” —, há “pratos de quase todo o mundo”, desde o bacalhau confitado português ao ceviche peruano, passando pelo tataki de atum japonês ou pelo caril da Malásia. Até o pastel de nata recebeu um twist: folhado de nata, gelado de Baileys e redução de café.
O objectivo, assume Gonçalo, é tentar “agradar a toda a gente” e, por isso, as cartas alargam-se de escolhas, não só na comida mas, principalmente, na bebida. É que, não nos esqueçamos, estamos num pub: aqui a vertente gastronómica será sempre acompanhada de música “um bocadinho mais alta”, desporto na televisão (e para tal há três ecrãs e uma tela gigante), concertos (“praticamente todos os dias, das 22h às 24h, e aos domingos das 17h às 19h”) e, claro, muitos copos a circular, até à última badalada do pequeno sino dourado junto ao balcão. “Toca meia hora antes de o bar fechar, ao mesmo tempo que o barman grita ‘Last orders! Última rodada!’ [para já assim mesmo, em inglês e em português, mais tarde talvez apenas na língua de sua majestade], e quinze minutos depois toca outra vez, para indicar que já não é possível pedir mais”, explica o responsável.
Até lá, é escolher entre as 130 bebidas diferentes, quase 200 se acrescentarmos a carta de vinhos (todos portugueses, exceptuando cinco “ícones do mundo”). O destaque vai, contudo, obviamente para a cerveja, ou não estivéssemos num pub: existem 14 de pressão, três delas “novidade total” em Lisboa — London Pride, Peroni e Carling —, sempre servidas na britânica medida pint, e 17 cervejas de garrafa. Depois, o menu vai-se desdobrando em dezenas de cocktails, whiskies, brandies, gins, vodkas, tequilas, licores. “É aliciante um cliente vir e não saber muito bem o que escolher, acaba também por experimentar coisas novas”, defende o responsável, acrescentando que a existência de uma grande variedade é, contudo, “muito típica de pub”.
E Gonçalo saberá do que fala. Afinal, viveu sete anos em Londres, cinco deles a gerir um pub. O objectivo era abrir o seu próprio espaço na capital inglesa, e já tinha visto alguns sítios com potencial, quando “uma semana de férias” em Lisboa “mudou completamente a visão que tinha sobre a cidade” e o destino final do projecto. “É incrível a maneira como o turismo se desenvolveu e como os próprios lisboetas começaram a adorar mais Lisboa”, comenta. Duas semanas depois voltava para visitar aquele antigo armazém da Papelaria Fernandes (entretanto uma hamburgueria), apaixonava-se pela localização e pelas arcadas pombalinas que se multiplicam pelas duas salas (e que as paredes bordeaux realçam ainda mais) e assinava contrato no dia seguinte. “Num mês deixei a minha vida de Londres, muito organizada e fácil, para vir para Portugal”, recorda, destacando que este é também um projecto de família, partilhado com o irmão, a irmã e o pai, sendo o próprio nome do bar uma homenagem ao patriarca. “É um nome muito típico de pub e também tem a ver com a realeza e o futuro rei de Inglaterra, mas o principal era que tivesse mesmo significado para nós, então fizemos uma pequena homenagem ao nosso pai, que se chama Jorge”, conta.
Este lado mais familiar é algo que querem igualmente imprimir ao bar, tanto no “contacto mais pessoal com o cliente” como no “ambiente confortável e acolhedor”. Uma public house é isso mesmo, defende: “Um sítio público mas onde as pessoas se sintam em casa”. Um lar inglês, portanto — dividido entre a sala de jantar, mais virada para a restauração, e sala de estar, mais lounge —, onde não faltam sofás e cadeirões de cabedal castanho, relógios de parede, quadros com bucólicas paisagens britânicas ou a famosa cabine telefónica vermelha, candeeiros de pé alto, jornais ingleses, almofadas de bigode enrolado e tapete de pele tigrada. Brevemente haverá ainda um mui britânico chá das cinco e festas temáticas, calendarizadas segundo as datas celebradas na Grã-Bretanha.
“Queremos que os ingleses que vivem em Lisboa e nas redondezas se sintam um pouco em casa, que os turistas também venham, claro, mas especialmente que os portugueses adoptem este conceito.” “Se resulta tão bem em Inglaterra e um pouco pelo mundo inteiro, porque razão não haveria de resultar em Lisboa”? Why not?
- Nome
- The George
- Local
- Lisboa, São Nicolau, Rua do Crucifixo, 58
- Telefone
- 213460596
- Horarios
- Todos os dias das 12:00 às 02:00
- Website
- https://www.facebook.com/thegeorgelisbon
- Observações