No coração da cidade e rodeado por toda a modernidade e sofisticação do comércio que dita as tendências no mercado do luxo, o novo restaurante da Avenida da Liberdade não podia fugir ao contexto. Moda e estilo dominam o ambiente, ao qual corresponde uma cozinha igualmente inspirada em conceitos de modernidade conjugada com produtos da nossa tradição culinária.
O passado e a memória da cidade foram também usados, não só para baptismo do espaço, mas ainda como mote e inspiração para a sua decoração. O tabique foi a técnica noutros tempos usada para levantar divisórias e paredes interiores, sobretudo na reconstrução pombalina, e nas paredes deste espaço moderno lá está agora a estrutura de ripagem em madeira que domina o conceito decorativo.
A principal diferença é que nesta estilizada versão do Tabik a argamassa de cal, que naqueles tempos constituía o reboco, é agora substituída por um verdejante e natural musgo. Sim, mesmo natural, só que desidratado para poder cumprir longamente a função decorativa a que está destinado. Uma técnica que se cruza também com o universo culinário no tratamento e apresentação de alguns produtos num contexto de cozinha moderna e vanguardista. Nada se cria, tudo se transforma…
Verdade incontestável é que se trata de um espaço bem-posto, amplo e convidativo. Neste aspecto, e apesar da abertura recente, parece também ter caído nas boas graças e desperta a curiosidade dos mais ávidos de novidade, o que é sempre um bom princípio. O restaurante, que está associado ao também recente Hotel Bessa Liberdade, desdobra-se em três funções complementares.
À sala de jantar, que bebe toda a luz da grande vitrine da fachada, associam-se uns espaços para pequenos grupos ou refeições de certa intimidade. A meio, onde fica o balcão de serviço, há uma zona ampla com algumas mesas e cadeiras de pé alto que se destina à função de bar, através do qual se acede ao terraço, o Tabik Garden, cuja vistosa decoração promete ambiente animado para os fins de tarde e noites dos dias mais quentes.
Estilo e ambiente
Baixela rigorosa e elegante e serviço com uma equipa de jovens com traje e movimentos a dar o toque de estilo e ambiente de moda. A carta actual, com cinco entradas, quatro pratos de peixe, outros tantos de carne e também quatro sobremesas, é complementada ao almoço com um “menu executivo” (19,90€) que oferece entrada, prato de peixe ou de carne e sobremesa. É também proposto um “menu de degustação”, com duas entradas, peixe, carne e sobremesas por 55€, preço que passa para os 70€ quando harmonizado com vinhos.
Jantou-se a uma segunda-feira, com a sala pela metade. Feitas as escolhas, foram servidos dois tipos de pão, em fatias, e o entretém de boca, que constava de uma mini-preparação de rabo de boi estufado coroado com verdejantes ervilhas salteadas. Perfeito para a função de dar o tom para o estilo e potencial do cozinheiro.
Das entradas, apenas o “creme de abóbora com emulsão de castanhas” ficou por provar. “Tártaro de novilho com chalotas doces e picantes, praliné de amendoim e espuma de coco” (13€), de grande execução, com sabores afinados e em harmonia, equilibrados e perfeitamente identificáveis. Criatividade e técnica na elaboração e apresentação do “puré de beringela assada com gema de ovo” (9€), assim como no “carapau de escabeche com sumo de pepino e salada” (10€). Vistosa e muito elegante a combinação de “gambas com tomate e manjericão” (14€). Caldo fresco e perfumado, tomate em duas texturas num prato de belo efeito aromático e visual, mas traído pela textura seca do marisco a denunciar longa congelação. Um pecado!
Generoso e de bom calibre o “lombo de pescada corado com espargos grelhados” (17€), que é servido sobre um creme de espargos e coroado com o espargo em lâminas levemente braseadas. Saboroso e estimulante o confronto com o crocante da quinoa, num prato deveras bem conseguido. Igualmente interessante o “bacalhau lascado com caldo de cogumelos e batata assada” (20€), numa composição ao estilo da cozinha oriental.
Porção igualmente substancial no “costeletão com nabos confitados” (25€), as tenras folhas de nabiças bringidas a proporcionar elegante e fino acompanhamento. A carne é servida laminada, rosada e vistosa, a evidenciar rigor e segurança no trato culinário, mas mostrou-se algo resistente à mastigação, o que não abona a favor da qualidade do produto.
Rabo de boi em grande
Em grande mesmo o “rabo de boi com puré de cherovias e chalotas” (20€). Carne longamente estufada e, por isso, saborosa e suculenta, que depois é esfiada e se envolve com o aveludado puré de cherovias. A textura invulgarmente afinada, explicaram-nos, resulta da utilização de chocolate branco, cuja presença o palato tem dificuldade em denunciar.
Nos peixes, a carta propõe ainda “cavala braseada com salada de aipo e frutos secos” (15€) e um prometedor “salmonete com ragoût de anisados e rabo de porco” (24€), enquanto no sector cárnico há também a proposta de “pés de porco com curgete e romesco picante” (19€) ou ainda “pintada com funcho” (25€).
Das sobremesas, provou-se o “ bolo de chocolate” (7€), que acompanha com refrescantes cremoso de frutos vermelhos e gelado de funcho, e ainda um especioso “leite creme de alecrim com crumble de avelã” (7€), tudo a deixar evidente que neste Tabik mora algo mais que um mero conceito de moda.
O cozinheiro, Manuel Lino, é um jovem que conhece os ambientes da grande cozinha, com a vantagem de mostrar gosto na utilização de produtos da nossa cultura culinária. Não foi seguramente em vão que passou por distintos e criativos ambientes de fogões, tanto no nosso país como em Espanha. São referências que se notam na qualidade e rigor da sua cozinha, mas que lhe criam também maior exigência. Uma delas será no que respeita à criatividade, já que seria de esperar algum arrojo, um prato com o estilo e marca da identidade do cozinheiro. E nesse aspecto temos que ficar ainda à espera.
A par do estilo e harmonia do espaço, também os pratos têm apresentação cuidada e elegante. Para um menu contido, a oferta de vinhos é alargada e abrangente, cobrindo todas as regiões nacionais e alguns com propostas de França, Espanha, Itália, Argentina, Chile, Austrália e Nova Zelândia. A par dos 18 champanhes, há apenas dois espumantes de produção nacional — vale que são da Bairrada e dos melhores, da Quinta das Bágeiras. Interessante o facto de haver uma máquina de vácuo que permite o serviço a copo para um leque variado de vinhos de boa qualidade, com preços a rondar os 5/7€.
Em conclusão, poder-se-á dizer que, mesmo que vire moda, a este Tabik se deverá ir também em buscas de referências da boa cozinha. Que, além de rigorosa e elegante, deverá ser também ousada e criativa. E, aí sim, se fará tendência.
- Nome
- Tabik
- Local
- Lisboa, São José, Avenida da Liberdade, 41
- Telefone
- 213470549
- Horarios
- Segunda a Sábado das 12:30 às 15:00 e das 19:30 às 22:30
Sexta-feira e Sábado das 12:30 às 15:00 e das 19:30 às 23:00
- Website
- https://www.facebook.com/TabikRestaurant
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