Cada vez mais petisqueira, aliás, contrariando a ideia inicial. Não esperavam tanta gente — tanta que os dois andares ocupados inicialmente já foram complementados com mais um, também a funcionar diariamente, reservando um quarto para eventos especiais. Se calhar o segredo do sucesso é a harmonia entre os petiscos “clássicos” e os chamados petiscos “raiz”, os de assinatura da casa, como o nome indica. Os primeiros são “os perfeitamente identificáveis” (as pataniscas, os tachinhos de moelas, bifanas, rojões), a que se juntam as tibornas várias e as tábuas; os segundos são o que José chama de “gourmet”, novas abordagens a velhos conhecidos (alheira no forno, que vai em trouxa, com ovinhos de codorniz montados e couve portuguesa ou a saladinha de polvo tolo, por exemplo), que aposta em paladares fortes e contrastantes, misturando “três sabores, pelo menos”. É nesta linha de experimentação (“parece que temos um laboratório”, ironiza José) que também se enquadram os pratos principais e é do labor inventivo que em breve fará a aparição a francesinha da casa: “Não tem nada a ver com a normal”, avisa José — haverá legumes, cogumelos silvestres, rosbife, pão temperado. Tudo feito com produtos portugueses e acompanhado com vinhos durienses, sobretudo (o Alentejo e o Dão também espreitam).
No site do Raiz refere-se o “Porto antigo em fusão com a actualidade, tal como os Clérigos e Serralves”. Fala-se da comida e não só. A Torre dos Clérigos está à vista, assomando por trás os prédios da Rua de Trás. Este edifício branco, visivelmente recuperado, joga com o granito, as janelas de guilhotina, as varandas estreitas de elegância férrea que correm a fachada. Há uma fusão clara entre o passado e o presente e esta não é só de fachada. Lá dentro, a pedra aflora ou exibe-se despudoradamente — por exemplo, no rés-do-chão, onde também uma espécie de jogo de traves de madeira sobreviveu no tecto, mais por decoração do que por necessidade; o chão faz-se de tábuas onduladas pelo tempo; uma escadaria antiga une os quatro andares já ocupados (embora o quarto seja apenas para eventos especiais) e faz o jogo do (quase) infinito elíptico até ao telhado.
Uma casa burguesa, sem dúvida, que já foi a loja de produtos portugueses Porto com Arte e agora faz questão de trazer para dentro deste edifício bem vertical — um imperativo: “para termos o intimismo das salas” — a raiz que floresce lá fora: cada sala tem um retalho do Porto na parede. Entramos na Ribeira, subimos ao “velhote”, passamos pelo (barco) rabelo e terminamos no Luís (ponte), pintados a preto (esbatido) e branco num efeito quase de carvão sobre reboco, obras de Lara Chaves.
A tradição equilibra-se com o mobiliário de design nórdico, onde o que muda são as cores das almofadas das cadeiras — o cor-de-laranja no rés-do-chão (o mesmo do interior da louça, que remete para um certo imaginário dos anos 1970 de José Silva), o xadrez do primeiro andar e o bege com sugestões negras do terceiro andar. É no primeiro andar que o bar é mais explícito, nos sofás do vestíbulo e da entrada da sala — prolongando-se até às namoradeiras dos janelões. E, Raiz que é raiz, não tem dúvidas na banda sonora. A música é portuguesa e vem em duas partes: a primeira é tradicional, com o fado na linha da frente, a segunda é contemporânea. Prosseguimos na fusão, claro. Para agradar a gregos e a troianos, ou seja, a turistas e nacionais.
- Nome
- Raiz
- Local
- Porto, Vitória, Largo dos Lóios, 8
- Telefone
- 222010940
- Horarios
- Todos os dias das 12:00 às 15:00 e das 19:00 às 00:00
Domingo e Sábado das 19:00 às 00:00
- Website
- http://www.raiz.com.pt/galeria.html