Fugas - restaurantes e bares

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    Forneria São Dinis Rui Soares
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    Caloura Bar-Esplanada Rui Soares
  • Cantinho do Cais
    Cantinho do Cais Rui Soares

Três poisos para saborear os Açores

Por José Augusto Moreira ,

Da cozinha regional com base nos produtos do mar à infinita riqueza dos peixes grelhados e aos ares de novidade e modernidade que começam a conquistar a região. Em ambiente caloroso e acolhedor e com paisagens e enquadramentos divinos. Façam o favor de aproveitar!

Por simplificação de linguagem, ouve-se dizer que os Açores estão na moda e que a região se transformará rapidamente num destino turístico privilegiado. O caso é que não se trata, obviamente, de um qualquer fenómeno de moda, sendo antes a consequência natural da conjugação de características e potencialidades únicas: as condições naturais e geográficas; o mar e os produtos da terra; e um povo bem-disposto, acolhedor e que cultiva com orgulho e zelo a sua cultura e tradições.

Tudo isto potenciado, sim, pela abertura do espaço aéreo às companhias de baixo custo e a permitir uma maior afluência de visitantes. E basta uma pequena ronda pelas ruas de Ponta Delgada para nos apercebermos do movimento de novidade que por ali anda. Dos bares e oferta alternativa de alojamento aos populares tuk tuk que se atravessam na circulação pela marginal e zonas históricas.

E como nada nasce de geração espontânea, há que lembrar o trabalho que nos últimos anos tem sido desenvolvido por entidades e autoridades regionais, fomentando a modernização e actualização de estruturas e criando o clima e condições para o acolhimento do previsível fluxo turístico. Particularmente importante, neste aspecto, é o que à gastronomia respeita , sendo justo destacar o papel desempenhado pela Escola de Formação Turística e Hoteleira, com o festival gastronómico que há vários anos traz à região reputados chefs cozinheiros dos mais diversos cantos do mundo, ou a Wine in Azores, uma mostra de vinhos e gastronomia que se tornou num invulgar fenómeno de popularidade e que todos ao anos leva até São Miguel aquilo que há de mais actualizado em termos de cozinha e de produção de vinhos a nível nacional.

Assim foi, mais uma vez, durante o passado fim-de-semana na Wine in Azores, com a adesão massiva e entusiasta do público e as presenças de mais de uma centena de produtores de todas as regiões e de vários cozinheiros. Destaque, naturalmente, para os chefs com estrela Michelin, Leonel Pereira (Restaurante São Gabriel, Algarve), Ricardo Costa (The Yeatman, Porto) e Pedro Lemos (Restaurante Pedro Lemos, Porto), mas também outros nomes como André Magalhães (Taberna das Flores, Lisboa), António Alexandre (Marriott Hotel, Lisboa), Diogo Rocha (Mesa de Lemos, Viseu), Renato Cunha (Ferrugem, Famalicão), Tiago Santos (Champanheria do Largo, Lisboa) ou ainda o criativo chef pasteleiro Francisco Gomes (A Colonial, Barcelos).

Foi, assim, neste contexto de exibição e exaltação gastronómica, que a Fugas percorreu alguns dos recantos mais apelativos da ilha, deixando aqui nota de três lugares que bem representam o ambiente que por ali se vive em termos de restauração e gastronomia. Num, a cozinha regional com base nos produtos do mar; noutro, a infinita riqueza dos peixes grelhados; e, no terceiro, o ar de novidade e modernidade que começa a conquistar a região. Façam o favor de aproveitar!

Cantinho do Cais
Molho de peixe e polvo guisado

Na zona norte da ilha, bem junto às famosas plantações de chá da Gorreana, o Cantinho do Cais é um bom poiso para quem queira experimentar a mais representativa cozinha regional. Preços mais que razoáveis, ambiente simples e acolhedor e um serviço simpático e eficaz. Começou por estar num espaço privilegiado, com enquadramento paradisíaco junto ao cais e praia de Porto Formoso, mas o reconhecimento e a cada vez maior afluência de clientela “puxaram-no” para cima, a meia encosta, e na zona de crescimento da aldeia.

Está agora de costas para o mar, num edifício novo com duas salas e uma zona de café ao meio, na área de entrada. Há alguns lugares para estacionamento na frente do prédio e um acolhedor telheiro/esplanada onde se pode preguiçar e tomar uma bebida.

A lista exibe sobretudo a grande diversidade de peixes locais, variando consoante o que a lota dá diariamente. Mas são sempre para cima da meia dúzia, de qualidade excelsa e o mais difícil será sempre prescindir de algum. Grelhados ou fritos.

A rica sopa de peixe é absolutamente obrigatória. Vem à mesa em terrina e é difícil resistir a uma segunda ou terceira ronda. Para uma incursão na cozinha tradicional local, o molho de peixe ou o polvo guisado são imprescindíveis. O primeiro é um estufado com vários peixes, pimento, tomate, batata e aromatizado com folhas de hortelã. No fundo uma caldeirada com o sabor único dos peixes do mar dos Açores.

O polvo guisado é refogado em vinho de cheiro (o produtor directo ou “americano” que há muito está proibido no território continental) e sempre bem apaladado de sal e pimenta da terra. Cuidado com os estômagos ou paladares mais sensíveis, sendo aconselhável pedir à cozinha contenção no uso daqueles ingredientes. Este é talvez o prato mais popular em São Miguel (a par do cozido, claro), sendo o de maior fama aquele que se faz em Mosteiros, localidade na zona mais ocidental da ilha.

Caloura Bar-Esplanada
Peixes na grelha com os pés no mar

Este é um daqueles lugares sobre os quais se escreve sempre com a maior relutância. No fundo, o que mais se deseja é que permaneçam sempre como aqueles segredos que se partilham apenas em contexto restrito. A grande afluência e massificação são uma ameaça fatal.

Facilmente se percebe que o enquadramento natural é o principal — e irresistível — atractivo. Há uma enorme escarpa que abriga um portinho de pesca, um paredão que se adentra nas águas densas e salinas e, na ponta, uma piscina de fundo azul permanentemente invadida pelas águas do mar. O cenário é idílico!

Há um terraço à sombra das árvores onde uma cobertura transparente como que improvisou o espaço do restaurante. É ai que batem as ondas e o permanente murmúrio envolto no movimento dos calhaus rolados convida a ficar o dia todo. Entre mergulhos e copos da irresistível cerveja local, a Especial, o serviço de refeições arrasta-se pela tarde inteira.

Além das lapas grelhadas, gambas e chicharros fritos (carapauzinhos), a oferta restringe-se aos peixes grelhados. Servidos em postas generosas, de suculência e sabor infinitos que resistem até a algum excesso de exposição ao fogo que é (ainda) típico da cozinha local. Como complemento, batatinhas cozidas com casca e um bufett de salada, com tomate, alface e uma salada de feijão-?-fradinho.

Dos peixes do dia, provaram-se lírio, espadarte, barrigas de albacora e anchova. Mesmo sacrificados pelo calor, estes peixes são de sabor e suculência únicos.

Carta de vinhos assente na oferta local, onde, mesmo assim, faltam os de melhor qualidade.

Forneria São Dinis
Conceito e modernidade à beira-mar plantados

Tal como o nome indica, os fornos a lenha são os grandes protagonistas deste espaço moderno que cruza a lógica da degustação das pequenas porções com pratos de maior resistência, como as pizzas e costeletão de vaca açoriana. Há a vontade de cruzar a cozinha de base mediterrânica com os produtos e tradições da cozinha local e o resultado é bem interessante e apelativo.

A par do conceito, a atractividade decorre também da localização, em frente ao mar, e numa zona até agora pouco dignificada, no prolongamento da marginal, depois do Forte e do porto pesqueiro.

Decoração moderna e descontraída e ambiente convivial. Toda a fachada é envidraçada, havendo uma espécie de avançado com bancos corridos, e uma sala com ambiente mais formal no primeiro piso. O forno está logo à entrada por detrás do balcão e é aí que tudo se passa.

A ementa divide-se entre “Petiscos” como carpaccio de lombo de novilho, camarão ou cogumelos ao alho, bombons de morcela com maçã e ananás dos Açores e pica-pau de vaca açoriana, sopa ou saladas “Da Nossa Horta”, pastas e pizzas de sabor italiano. Para os “Almoços Forneria” há bacalhau à Brás, polvo à lagareiro, lombo de bacalhau no forno com batatas a murro, nos peixes, enquanto nas carnes se destaca o costeletão de vaca açoriana — boa carne e muito bem tratada —, costelinhas de porco, bife, língua de vaca, rabo de boi, arroz de pato e alheira de caça.

Conceito moderno de cozinha, serviço e empratamento, em ambiente a condizer num espaço com estilo. Boa oferta de vinhos, uma clara mais-valia numa região onde este é um dos aspectos ainda mais descurados.

Um ar de novidade em Ponta Delgada, que também pelo estilo e espaço se recomenda

Nome
Três poisos para saborear os Açores
Local
Ponta Delgada, Ponta Delgada (matriz), Ilha de São Miguel
Telefone
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