Fugas - restaurantes e bares

  • Nelson Garrido
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Está-se mesmo bem à beira da estrada

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A roupagem moderna e elegante acaba por valorizar a cozinha de sabores e tradição que define o estilo deste restaurante da nova geração. No TerraMãe, Santa Maria da Feira, qualidade culinária e da matéria-prima junta-se uma garrafeira exemplar.

O roteiro é o da antiga Estrada Nacional n.º 1, agora rebaptizada para IC2, onde no tempo das arrastadas viagens Lisboa/Coimbra/Porto floresceram restaurantes, muitos dos quais se mantêm ainda como sólidas referências gastronómicas nesta era de rapidez e auto-estradas. Há o caso da Mealhada e seu leitão, mas também no troço final perduram algumas dessas boas mesas que bem compensam o desvio e paragem. 

E se nada disto será, no entanto, capaz de constituir grande novidade, já a coisa muda de figura quando surgem novos espaços onde a boa cozinha de sempre se veste com a modernidade, o conforto, o critério e exigências dos tempos mais actuais. 

É este, precisamente, o conceito que está por detrás do restaurante TerraMãe, um espaço moderno e muito bem-posto que deriva do clássico e tradicional Roda da Lage, com uma história de décadas de sucesso à margem dessa EN1, uns quilómetros antes, à saída de São João da Madeira. 

Igualmente acoplado à estrada, o TerraMãe é um espaço concebido de raiz para o efeito, de arquitectura contemporânea e decoração a condizer. Mesmo a cozinha, que deriva dos sabores e pratos tradicionais de maior sucesso e procura, veste-se aqui com roupagem elegante e actualizada, associada a conhecedora e exigente selecção de produtos. Junta-os a gerência e uma extraordinária garrafeira, que é o mais notório cartão-de-visita do novo espaço, aberto há cerca de ano e meio. 

A par de um longo balcão (14 lugares) — para petiscos e refeições mais rápidas com menus diários mais aligeirados —, a sala desenvolve-se em dois espaços amplos, contíguos e complementares. Ambiente moderno e elegante, de linhas simples e standardizadas, tal como a decoração, onde se nota preocupação no uso da cortiça. Ou não estivesse no centro da sua indústria que, provavelmente, trará também boa parte da clientela.

Como elemento decorativo central, a garrafeira que se estende ao longo de todo o prédio numa parede envidraçada que separa a área de balcão e salão de refeições. 

A par da carta, com propostas variadas para entradas, peixes e carnes, o serviço avança com algumas “sugestões do chefe”, que correspondem aos produtos do dia e de mercado. 

Depois da flûte de espumante servida no espaço de recepção, pão de mistura, tostinhas e broa de milho sobre a mesa, e ainda umas bruschettas com tomate e mozarela de búfala. 

Entrou-se com uma tábua de presunto (8€), de muito boa textura e corte; camarões fritos ao alho (6€), em dose farta e confecção correcta; e uns gulosos ovos mexidos com gambas e espargos verdes, igualmente em quantidade generosa, sápida e muito bem cozinhada (6,50€). E como não há segunda oportunidade para uma primeira boa impressão, estávamos já no bom caminho. 

Destaque para os vinhos

Andou-se em frente com os filetes de pescada (14,80€), em postas ao alto, da barriga e lombo limpas de pele e espinha, envoltas em polme fino, escorridas e de fritura canónica. Acompanharam com largas rodelas de batatas fritas à inglesa, correctamente servidas sobre papel vegetal. Irresistíveis mesmo! 

O polvo assado (14€), com batatas, cebola, pimentos e grelos deu igualmente boa conta do cuidado trabalho de cozinha, assim como foi bem alta a nota para o bacalhau assado em dose para quatro (27,80€), que colheu aplauso geral. 

Lombos altos, com lascas saborosas a deslizar na gelatina, que assam na grelha e só depois passam pelo calor do forno para complemento e o atraente alourado com que chega à mesa. Servido sobre saborosa esmagada, com batata e couve e bom azeite, num empratamento elegante em louça de grés, que bem pode servir para ilustrar o estilo da cozinha e serviço da casa. Todo o sabor de um dos pratos mais emblemáticos e aprazíveis da cozinha tradicional (bacalhau assado com batata, couve e azeite), num serviço elegante, atraente e confecção de grande mérito. 

Como também o tornedó do lombo de vitela (14,80€) seria acompanhado com uma esmagada (de alheira, no caso), houve o cuidado por parte do serviço de sugerir, como alternativa, um risotto de cogumelos. Marcado em excesso pelo sabor do queijo (parmesão) acabaria por se constituir como a nota dissonante, a mostrar que também na boa cozinha não há regra que não comporte excepção. Primorosa e delicada a juliana que igualmente acompanhava e valeu o momento.

Sobremesas corriqueiras e num patamar que claramente não acompanha a cuidada e competente execução do trabalho de cozinha. A par do rigor e acerto culinário, é notória a qualidade da matéria-prima utilizada, sendo, neste aspecto, de destacar as leguminosas e hortícolas, muitas vezes secundarizadas e sem as quais nem o melhor trabalho de cozinha consegue a deliciosa harmonia e envolvência de sabores que nos conquistaram o palato. 

A cozinha é ampla, moderna e bem apetrechada e isso pode ser visto através de um janelão que se abre à zona mais interior da sala. O trabalho vê-se e isso também contribui para a sensação de agrado e satisfação.

Uma menção de apreço também para o serviço, com gente jovem e desembaraçada, que é atento e diligente, embora com leve tendência impositiva.

Capítulo especial merece a garrafeira, ampla e diversificada, com oferta para todas as regiões e tipos de vinhos do país. O mais interessante é a preocupação com preços sensatos, mesmo que na lista estejam praticamente todos os vinhos mais caros. Não por acaso, a Revista de Vinhos atribuiu a este restaurante o prémio para a melhor carta de vinhos na relação entre preço e qualidade.

Escolhemos dois vinhos da casa Campolargo. Ambos porque pareceram ajustados à harmonização e a verdade é que tanto o Bical Tonel e Barrica 2011 (13,40€) como o Pinot Noir 2009 (14,80€) mostraram que nem só a grandes preços correspondem os bons vinhos. Estavam ambos excelentes e, melhor, ainda ajustados às exigências dos pratos solicitados. 

Reparo apenas para o facto de a extensa lista que nos foi facultada, organizada por regiões e ordem crescente de preços, não incluir menção dos anos de colheita. Explicaram-nos tratar-se de uma solução temporária, uma vez que a lista está a ser revista e actualizada, o que se compreende e justifica.
 

Nome
TerraMãe
Local
Santa Maria da Feira, São João de Ver, Rua Central, 53
Telefone
256083797
Horarios
Terça a Domingo das 12:00 às 23:00
Website
https://www.facebook.com/TerraMaeRestaurante
Cozinha
Portuguesa
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