Fugas - restaurantes e bares

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A tasquinha de pescadores com que sempre sonhou existe mesmo e recomenda-se: é O Retiro do Pescador

Por Miguel Esteves Cardoso ,

A espantosa terceira semana de Outubro, tal como a primeira, têm levado às praias pessoas já resignadas às gabardinas e às botas.

Um segredo dos comilões é que tudo sabe melhor à beira-mar. Outro é que a melhor altura para visitar os melhores restaurantes de praia (os que estão abertos todo o ano) é fora de estação: no Outono, no Inverno e na Primavera.

Uma ida recente à Fonte da Telha levou-nos a um dos poucos autênticos restaurantes de pescadores: o Retiro do Pescador.

Havendo opiniões diversas sobre vários restaurantes da Fonte da Telha — a escolha é animadora e a concorrência ajuda a puxar pelas casas — decidi-me a aplicar a velha lei do viajante. Passeando pelos restaurantes da Fonte da Telha procurei os que estavam cheios de gente. Havia dois. Mas o Retiro do Pescador tinha uma coisa aliciante: almoçavam lá muitas pessoas que não estavam vestidas para a praia. Casais menos jovens, sobretudo.

Não pode haver melhor sinal de um bom restaurante: pessoas que se deslocam lá para comer, apesar de não irem à praia. Quando se irritam ao ver pessoas de fato de banho, como nós, é provável que o restaurante seja sublime.

É natural. São clientes que lá vão todo o ano. Em Agosto, se calhar, afastam-se da confusão. Mas em Outubro lá estão eles em franca peregrinação, indignados com a presença obstinada dos turistas.

O Retiro do Pescador é uma casa à antiga: tudo é feito a preceito e servido à pressa. Com tantos clientes, não há tempo para conversar. É outro bom sinal: quando elogiamos a qualidade do peixe e a perfeição do grelhador nem sequer sorriem. É coisa que estão fartos de saber.

A cozinheira do Retiro é exímia: isto não é apenas uma grelha; é um restaurante completo. O grelhador é dos raros que hoje se encontram que sabe o que está a fazer — e que gosta do que faz. Os peixes têm de se ler e julgar enquanto estão a ser grelhados em pontos diferentes com tempos e temperaturas diferentes.

Fiquei com a ideia que, para além das sardinhas (que estão agora no primor da época, magníficas) e dos carapaus, só compram dois robalos e duas douradas por dia. Têm à volta de um quilo, dão para três pessoas (ou duas a comer bem) e todas custam 36 euros.

É um sistema excelente que também vi praticado no Salta O Muro, o meu restaurante preferido de Matosinhos. Não se perde tempo a pesar o peixe e a fazer contas. Eles escolhem peixes grandes e bons, nós olhamos para eles, dizemos que sim e sabemos quanto vamos pagar.

Pedimos para grelhar uma dourada inteira (hoje em dia é preciso avisar que não se quer o peixe escalavrado ou “escalado”) e ficámos espantados com a perfeição do peixe: foi uma das grandes douradas da nossa vida.

O feijão verde e as batatas que acompanhavam tinham acabado de cozer — isto num domingo com o restaurante a abarrotar — e, se não fosse o preço razoável, dir-se-ia que estávamos num restaurante de primeira.

Dir-se-ia, qual canastra de sardinhas. Digo: o Retiro do Pescador é um restaurante de primeira. Tem todo o encanto das tascas — a decoração pessoal e apetitosa; o ambiente clubístico, de trabalho e de dedicação — mas é um grandecíssimo restaurante.

Nos anos 1960, quando começou a mania das tascas — pequenos restaurantes onde se comia muito bem por muito pouco dinheiro —, havia bastantes casas como O Retiro do Pescador. Mas rapidamente aburguesaram-se e ficaram pretensiosas e careiras. É extraordinário que tenha surgido, entretanto, um restaurante de grande qualidade que escolheu gastar o dinheiro onde interessa: no que se come e bebe e no conforto adequado dos clientes.

Nome
Retiro do Pescador
Local
Almada, Costa da Caparica, Fonte da Telha
Telefone
212962725
Horarios
Todos os dias das 12:00 às 22:00
Sábado e Domingo das 12:00 às 22:00
Preço
20€
Cozinha
Peixe e Marisco
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