Fugas - viagens

Nelson Garrido

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Emilia-Romagna em três actos

Depois de estendida a massa, é preciso cortá-la em quadrados, onde vai ser colocado o recheio (esta parte não foi connosco, o recheio já estava feito: leva mortadela, carne de porco, queijo Parmigiano Reggiano, noz moscada e um ovo). Em seguida fecha-se cada um dos quadrados, transformando-os em triângulos, e depois chega o pior: é preciso enrolá-los à volta do dedo indicador, puxar-lhes as pontas e dar-lhes uma espécie de nó. Os nossos primeiros são absolutamente desastrosos: grandes e a ameaçarem desfazer-se a qualquer momento. Com boa disposição e persistência, levamos o barco a bom porto - dentro do género...

Depois desta experiência, fazer tagliatelle é quase uma brincadeira de crianças. A massa é a mesma que se usa nos tortellini e basta enrolá-la numa espécie de rectângulo bem comprido e depois cortá-la com uma faca. E as bolachinhas de Natal também não têm nada que saber: levam farinha (350 gramas), manteiga e banha de porco (80 gramas), açúcar (150 gramas), dois ovos e uma gema. Moldá-las com a forma e em seguida decorá-las é a parte mais divertida.

E com isto são 11h50. As bolachas estão no forno, os tortellini a cozer na panela, numa espécie de canja. E nós estamos agora na sala, onde sofás brancos tipo IKEA convivem saudavelmente com outros com um ar mais vintage. A mesa onde vamos almoçar já está posta e ostenta uma toalha impecavelmente branca, aqui e ali com uns bordados vermelhos.

Enquanto se desdobra entre a sala e a cozinha, Luísa vai respondendo às nossas perguntas. E primeiro queremos saber por que é que uma mulher bem-sucedida como ela - gere, com o marido, a editora L"Inchiostroblu, que publica belíssimos livros de fotografia - decidiu juntar-se ao "exército" Le Cesarine - há em Bolonha 500 casas como esta, que recebem hóspedes para o almoço ou para aulas de cozinha. "Faço-o porque me divirto", responde Luísa, sem mais. Tentamos esticar a corda. "Vi a publicidade de Le Cesarine no jornal e decidi telefonar. Fui ver uma sessão, gostei muito e decidi juntar-me."

Da mãe, Luísa herdou "o prazer de receber pessoas em casa para comer" - e isto explica muito bem toda a essência do projecto. Cada uma das associadas tem o seu menu - o que quer dizer que, noutra casa, teríamos experimentado coisas diferentes. Mas não foi com Maria Teresa que Luísa aprendeu a fazer pasta. "A minha mãe não gosta, aprendi com a minha avó." É isto que Le Cesarine quer: que o saber das avós italianas não se perca.

Às 13h05 sentamo-nos finalmente à mesa. Não é para nos gabarmos, mas os tortellini estão absolutamente deliciosos - talvez porque não fomos nós a fazer o recheio...

Le Cesarine
(O nome oficial do projecto, patrocinado por organismos governamentais, é Home Food, mas é mais conhecido como Le Cesarine.)
Home Food
Via Broccaindosso, 41
40125 Bolonha
Tel.: (+39) 051 220797

Participar numa aula de culinária de Le Cesarine não é propriamente barato, mas é uma experiência que vale mesmo a pena. Para além do que lá se aprende, é como se, ainda que por poucas horas, fizéssemos parte de uma família italiana. È verdadeiramente compensador. Quem não quiser ter a aula, pode apenas almoçar numa das casas das associadas. Por regra, as aulas acontecem para grupos de pelo menos duas pessoas, e custam à volta de 100€ por pessoa. Este preço inclui a aula e, naturalmente, o almoço. Quem preferir ficar-se pelo almoço, deve contar com pelo menos 50€.

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