Seguiu-se o Moscatel de Setúbal Superior Roxo 1960 da José Maria da Fonseca, persuasivo na sedução, com uma sensação de volúpia aromática instantânea, com as juras de café forte, melaço, torrefacção, pinhão e amêndoa torrada, alegremente acompanhadas por uma encantadora sensação de vinagrinho. Volumoso, interminável nas sugestões de café, tabaco e pêssego em calda, terminou refrescado por uma acidez inacreditável. Um Moscatel de meditação que prontamente foi secundado pelo Trilogia, também ele da José Maria da Fonseca, uma edição limitada e especial que junta vinhos de três das colheitas mais célebres de Moscatel Superior da casa, agregando num só lote vinhos de 1900, 1934 e 1965. Uma perdição que associa aromas a iodo, casca de laranja, mel e especiarias, num conjunto de enorme complexidade, a que se somou um fim de boca infinito, numa doçura perfeitamente temperada pela acidez sibilina do final de boca.
A honra dos vinhos do Porto foi defendida pela Ramos Pinto, com o seu Vintage 1924, super torrado, pejado de caramelo, café, charuto, casca de laranja e amêndoa torrada. Balsâmico, untuoso, volumoso e intenso, revelou uma frescura quase inacreditável para um vinho que conta com já com 87 anos de vida. Talqualmente prodigioso exibiu-se o Burmester Colheita 1900, retirado expressamente do casco para a ocasião, directamente do repouso de mais de 110 anos em pipas de madeira para a prova, num vinho monumental no corpo e frescura, complexo e repleto de nuances e rendilhados que deixou muitos em êxtase.
Por fim os vinhos da Madeira, infinitos na frescura, juventude e potência, ilustrados pelo d'Oliveiras Moscatel 1900, um dos raríssimos Moscatel madeirenses, imune ao passar do tempo. Depois de 111 anos de espera em canteiro, continuam a imperar as sensações de melaço, cana-de-açúcar, café, limão, figos e, estranhamente, biscoito e maçapão, num registo delicioso e voluptuoso. A doçura extrema da boca surge perfeitamente domada e refrescada pela acidez expressiva e robusta, perdendo-se o carácter Moscatel mas ganhando-se um vinho profundo na personalidade e carácter. A terminar em absoluta apoteose, o Blandy's Boal 1908, repleto de sugestões de torradas e café acabado de moer, num conjunto refi nado e sedutor.
Poderoso, concentrado e guloso, cheio e quase viscoso na textura, revigorado por uma acidez tremenda mas incrivelmente bem integrada, mostrou ser um portento da natureza a que o tempo acrescentou sensatez e maturidade.
Uma prova épica que, para além de ajudar a elevar o orgulho de ser português, nos faz acreditar na salvação de um país capaz de esgrimir tantos capítulos radiosos no volumoso livro do vinho mundial.