Fugas - restaurantes e bares

O Jamaica é um dos

O Jamaica é um dos "faróis" da noite do Cais do Sodré há quatro décadas. Nuno Ferreira Santos

Há festa no novo Cais do Sodré

Por Tiago Pereira Carvalho

O Cais do Sodré reanima-se e renova-se: reabrem as casas Europa, Tokyo e Jamaica sob o mote "ReHab" e parte da rua dos bares, a Nova do Carvalho, torna-se exclusivamente pedonal. A semana é repleta de música e festejos, incluindo animação de rua com os Homens da Luta. Temos novo cais para as noites alfacinhas?

Depois de encerradas mais de quatro meses por questões de segurança, as lendárias discotecas Europa, Tokyo e Jamaica vão ser reactivadas esta noite. "ReHab" (que. além de rehabitar, evoca a ideia de edifício recuperado e também alude a restauro e recuperação) é o mote da "festa" - que se prolonga pela semana - e de uma "união de esforços" para celebrar a reabertura, reabilitação e a "reabitação" dos três espaços contíguos, aterrados em pleno coração do Cais do Sodré, em Lisboa. Cada casa regressará às músicas e ambientes do costume e, na sexta-feira os três espaços ligam-se ao exterior, a uma artéria já livre de trânsito automóvel, para uma festa com animação de rua e um concerto dos Homens da Luta.

Para quem penetra o labiríntico Cais do Sodré pela Rua Nova do Carvalho, a partir do Largo de São Paulo, localizar um imponente prédio devoluto de seis andares mesmo no fim da artéria, com dezenas de pombos empoleirados nas varandas, não é de todo uma tarefa hercúlea. Situa-se mesmo em frente ao Oslo, Liverpool ou Viking, bares com nomes de terras nórdicas que serviam de gancho para atrair milhares de marinheiros estrangeiros que aportavam em Lisboa em meados do século passado.

Há ainda vestígios de construção recente junto ao prédio majestoso - andaimes, vedações de arame farpado, tijolos. No rés-do-chão, alinham-se, por esta ordem, três discotecas contíguas: Europa, Tokyo, Jamaica. Estão encerradas desde o início de Maio, altura em que a Protecção Civil referenciou o mau estado e a insegurança do imóvel que as aloja, depois do colapso de parte do segundo andar do edifício.

Uma semana ReHab

É início de noite no Cais, na véspera do "ReHab". Há quem pare diante do Jamaica - espaço que em Janeiro celebrou quarenta Invernos - para cumprimentar o gerente ou para perguntar "Quando é que reabre?". Dentro da discoteca, entre escadotes, caixas de ferramentas, latas de tinta e vassouras, um DJ faz o soundcheck a "Loser", de Beck, ou a "Magnificent seven", dos Clash. Um cartaz afixado na discoteca ao lado responde à pergunta da praxe: "Reabre, reabilitado, reabitado" no dia 20 [para ser mais exacto, às zero horas]. E vai mais longe: lembra que "Rehab", a festa de reabertura, se estende até dia 24 [25, em nome do rigor].

Até "Rehab", os gerentes dos três estabelecimentos de diversão nocturna nunca tinham cooperado, mas a situação "de dificuldade", levou-os a uma "união de esforços" para "abrir em grande", afirma Fernando Pereira, sócio-gerente do Jamaica e co-organizador do evento. "Com uma casa fechada quatro meses, criam-se outros hábitos, as pessoas vão para outros sítios que até gostam, que não conheciam".

A ideia desta festa de quatro dias é reparar a imagem abalada e recuperar clientela, em conjunto: "Queríamos que a notícia que as três casas abriram fosse tão ou mais noticiada do que a do encerramento". De uma adversidade nasceu ainda a vontade colectiva de reanimar a moribunda Associação dos Comerciantes e Amigos do Cais do Sodré, em fase de revisão de estatutos.

Apesar de ligeiros retoques, pinturas de paredes, alterações dos sistemas de ventilação e mudanças de tectos, pouco se alterou na imagem interior de cada um dos três estabelecimentos. As idiossincrasias de cada casa mantêm-se, a começar pela programação musical. Esta noite, por exemplo, regressam as sessões de terça-feira de reggae, que há vinte anos são um lugar cativo no Jamaica, com o DJ Enigma nos pratos. O Tokyo celebra a reabertura das portas com as "Mais Pedidas do Facebook" (Cure, Morphine, Kraftwerk e Pixies estão na lista de escolhas, na página da rede social). No Europa, a noite "Freaky Fiction" (no dia 20) e o live act de Maurice Aymard (no dia 24), vindo de Barcelona, faz jus à fama de música electrónica que a casa tem alimentado.

Há, no entanto, um evento partilhado pelas três casas, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa. De sexta-feira para sábado há festa na calçada e no asfalto, em articulação com as discotecas. Abrem as hostes a Companhia Marimbondo, grupo de animação de rua responsável pela introdução do novo circo em Portugal, e encerram as actividades ao ar livre os Homens da Luta, com o espectáculo "Há Luta no Cais". Pela noite dentro, o Europa cede o gira-discos ao colectivo Bailarico Sofisticado, "a dar pregos desde 1999" e com os quais se pode "ser de qualquer tribo, da África à Europa de Leste, passando por Brooklyn e praias tropicais", segundo a apresentação do projecto no Facebook. Para essa mesma noite está ainda agendada uma sessão de electrónica ao vivo com o projecto lisboeta Monokone. No Tokyo e no Jamaica, estarão nos pratos pela noite dentro os DJs residentes respectivos, Armando e Bruno Dias.

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