Fugas - restaurantes e bares

  • Daniel Rocha
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De olhos (e narinas) bem abertos

Um pouco mais adiante, ainda na Rua D. Pedro V, está a exuberante montra da Moy. “Há 30 anos, quando vinha com o meu pai visitar os meus tios (sou de Rio Maior), ver a montra da Moy [então em Alvalade] era quase como ver a montra da Rolls Royce, com as coisas da Fauchon, da Mariage Frère...” Mais económica seria uma das mercearias da Rua da Rosa. “Este tipo de mercearias fazem quase serviço público num bairro e estão a correr o risco de desaparecer, muito devido à lei das rendas. Começam a ser substituidas pelas chamadas lojas de indianos — não gosto muito deste termo, mas não encontro outro melhor — que passam a ser lojas de conveniência, iguais em qualquer parte do mundo. Nestas mercearias [antigas], mesmo que vão buscar ao MARL, sabem escolher.”

Há uma caixa com figos frescos mesmo à porta. “Quando vou à Casanova, a minha pizzaria favorita em Lisboa, no Verão não resisto à pizza com o presunto de Parma e este figo, que com comida salgada é melhor do que o pingo de mel, que já é doce de mais.”

Continuamos por dentro do Bairro Alto para ir ter à Praça das Flores. Mesmo de frente para o largo, está a Loja das Conservas. “É das melhores lojas que temos. Trabalha directamente com a Associação de Conserveiros, por isso tem as conservas todas. Muitas delas só iam para exportação...” Não sabíamos mas ficamos a saber: “As conservas melhoram com o tempo, só é preciso virá-las de seis em seis meses.” A não ser que sejam as Millésimés da La Gondola (empresa do Norte comprada por italianos), que já vêm envelhecidas.

Para algo fresco entramos na Peixaria Centenária, duas portas ao lado. “As peixarias de bairro passaram a ser praticamente só lojas de congelados. Esta tem uma série de peixes, e algumas coisas já preparadas em filetes. Dá para desenrascar se não podemos ir à praça.”

Para um café, passamos pelo Copenhagen Cofee Lab. São três dinamarquesas que fazem do café uma bebida de culto, “mais artesanal”. “É uma moda que começou nos EUA e em Inglaterra e que os países nórdicos apanharam... Se deve haver um restaurante indiano na Mouraria, porque não pode haver um café dinamarquês aqui? Também gosto disso.”

Continuamos a descer a Rua Nova da Piedade. Ainda não chegámos e já estamos com água na boca pela forma como Miguel Pires fala da geladaria que existe ao final da rua, já quase a chegar à Assembleia da República. “A Nannarrella ia ser um 5 mas comecei a pensar: os dois 5 que há são o Belcanto [de José Avillez, com duas estrelas Michelin] e o Kanazawa [japonês]. Nem estava preocupado por ser [uma loja] muito pequenina, aberta para a rua. O gelado deles é muito bom, mas 4,5 é muito bom também. Não sou como os professores que dizem que nunca dão 20. Dar dou, mas quando se estabelece o máximo, a bitola é aquela.”

Quando entra, apresenta logo uma reclamação bem humorada: “Há uma coisa que acho inaceitável: houve uma altura que fizeram um gelado de cenoura e nunca mais voltaram a fazer”. Provamos o de figo.

“Lisboa teve uma revolução enorme no que diz respeito a gelados. Até o Santini vir para Lisboa, ouvia-se falar na Cassatta ao pé da Av. da República, e na Conchanata em Alvalade — que, para dizer a verdade, nem é um bom gelado, mas vai dizer a alguém que nasceu quase amamentado a Conchanata que aquilo não é um bom gelado! De repente, o Santini chega e são filas. Depois, foi a Artisani e a Fragoleto. A última vaga foi dos italianos (“romanos”, corrije a Luciana, “são gelados romanos”). Para além da Nannarella e do Davvero (na Praça de São Paulo), apareceu a FIB, no Areeiro. “Trazem o gelado para outro nível.”

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