Segue-se para a Quinta do Arneiro. Há vários tipos de alfaces: folha de carvalho, frisada verde, frisada roxa, lollo verde... Encontra o feijão fillet, pequenino, como acha que deve ser. “É das coisas de que mais gosto e muito fácil de fazer: dois minutos.” Dá com tudo, peixe, carne, ou sem mais nada.
Não gosta de “chegar e distribuir beijinhos a toda a gente”. “Não daria para ser um Paulo Portas dos mercados.” Em todo o caso, reconhece que é importante criar laços. A regra é igual em qualquer mercado: “Independentemente de teres os teus fornecedores, ou lugares onde gostas de ir, é sempre bom teres os olhos abertos e ires vendo aqui e ali.” E foi assim que se deparou com umas verdadeiras preciosidades vermelhas. “Que morango é este, é o fraise des bois?” É o mara des bois, explica o vendedor. Vão ficar ainda mais pequenos e quanto mais pequenos mais sabor terão. “Este morango é único. Nove euros o quilo, são os mais caros, mas cheira... É um doce quase a ir para a framboesa. Isto para o almoço ia saber tão bem. Vamos levar uns?”
As compras estão feitas. “Agora o Corallo?” Atravessamos a rua, nada mais. “É um sítio onde vou quando me apetece comer chocolate, e tem um gelado de que também gosto. É das melhores lojas de chocolate do mundo — não gosto muito desse termo, porque há muita coisa que eu não conheço, mas eles trabalham muito bem. E o café é óptimo. Só têm variações sobre dois produtos, mas são dois produtos top. Dei 4,5.” Luciana, que é mais assídua, explica que falta “melhorar um pouquinho” as embalagens, para fazer do chocolate um presente mais refinado.
Damos apenas uns passos, desta vez sem entrar: “Aqui na Embaixada, no restaurante do Miguel Castro Silva, o Less, há uma tarte de limão que é uma daquelas coisas que gosto quando preciso de um pico de açúcar.” Talvez mais tarde.
“Se isto fosse uma volta ao Príncipe Real em 12 horas, diria que agora poderíamos ir almoçar ao Bonsai, que é o nosso ‘japa’ de bairro, e um dos meus ‘japas’ preferidos. É económico como japonês, para almoço, tem um preço-qualidade óptimo. Foi o primeiro japonês a que fui na vida, há 25 anos.” Ao jantar, talvez acabasse na Cevicheria.
O que fazer quando entramos num restaurante e não sabemos nada sobre ele, perguntamos. “Se um restaurante tem 50 pratos, isso não é bom. Significa que há muita coisa congelada.” Há mais dicas: “Um lugar que mistura pizza, bacalhau à Brás, hambúrguer... se quer ir a todas não pode fazer nada bem.” Também é fundamental uma ligeira indiscrição: “Entro e olho para as mesas para ver o que está a sair. Consigo olhar para um prato e perceber mais ou menos o sabor. Faço tudo antes de me sentar. Mas se calha um jantar de grupo que alguém marcou, o que faço é outra coisa: ‘O que é que daqui pode dar menos erro?’ É preciso ser muito incompetente para fazer um arroz de pato que não seja comestível.” Outra possibilidade são os pratos com bacalhau desfiado, ou estufados, “que nos restaurantes mais simples fazem bem”. “A carne ou o bacalhau são menos arriscados. Se for frito, disfarça mais, e em Portugal até se frita razoavelmente bem.”