Fugas - Viagens

Kimimasa Mayama/Reuters

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Desconcerto em Tóquio, harmonia em Kamakura

Esta é a Tóquio que se pode ver, depois há a Tóquio invisível. O centro da cidade não coincide, como acontece com cidades ocidentais, com o centro de comércio ou as zonas de negócios e serviços. O centro da cidade é o Palácio Imperial, local onde só uma parte dos jardins é visitável. O edifício em si apenas abre as portas a 2 de Janeiro e 23 de Dezembro (aniversário do imperador).

Como diz Roland Barthes no seu livro sobre o Japão, o Império dos Signos, Tóquio tem um centro oco onde a vegetação esconde um imperador e sua família. A urbe está organizada em torno de um local que é inacessível ao habitante e visitante.

Se preferir relaxar em jardins não tão reais, porque não apanhar o barco em Asakusa e fazer um percurso ao longo do rio Sumida? Passa por debaixo de muitas das modernas pontes da cidade. Nas margens vê o lado menos abonado de Tóquio com tendas de sem-abrigo, de roupa lavada estendida à entrada, bicicletas, e a manifestação pública do hábito doméstico japonês de deixar os sapatos à porta de "casa".

Escolha sair do barco nos jardins Hamarikyu. Aqui não ouve o trânsito, os arranha-céus parecem longe. Como em tantos jardins japoneses prima a simplicidade, não há bustos decorativos, nem estátuas e fontanários com repuxos. Há relvados ondulados com pinheiros elegantes de pernadas rebeldes e retorcidas carinhosamente envoltas em panos e amparadas por paus, há caminhos de seixos cinzentos lisos e pequenos lagos com uma casa de chá de madeira. Ali pode acalmar sabendo que um caminho de poucos minutos o pode levar de regresso à outra Tóquio.


E o Monte Fuji ali tão perto

Diz quem lá vive que há dias muitos raros em Tóquio em que a vista alcança o Monte Fuji, apesar de ficar a cerca de 100 quilómetros de distância. Se quiser a experiência ao vivo basta-lhe uma viagem de comboio e mais uma de autocarro. Chegado ao lago Yamakako, não deixe que os pirosos barcos para turistas em forma de cisnes de tiara na cabeça (perceberam? Lago dos Cisnes...) ou então os barcos de piratas o distraiam. Ignore-os. Assente os pés no areal preto de áreas vulcânicas que faz lembrar as praias açorianas e aprecie (se tudo correr bem) o enorme cone do Fuji, que terá ou não restos das últimas neves.

Se não for dos que o preferir escalá-lo, a área dos cinco lagos (Go-ko) permite-lhe várias vistas ao muito fotografado gigante que dá nome à marca de material fotográfico. O maior monte do Japão (tem 3776 metros) teve a sua última erupção em 1707, altura em que as ruas de Tóquio se cobriram de cinzas.


Entre templos budistas e xintoístas: Kamakura


"Doença: vai ficar melhor a longo prazo. Se mudar de médico vai melhorar; Prazer: razoável; Amor: Favorável; A pessoa por quem espera: virá atrasada; Discussões: vai ganhar; Vendas/compras: favorável; Vida e Morte: vai estar vivo". Tudo parece correr bem quando num dos santuários xintoístas de Kamakura compra um papelinho da fortuna e este é o cenário que lhe é traçado.

O ritual pode repetir-se em vários santuários da pequena cidade que fica apenas a uma hora de comboio de Tóquio. Desembolsa um pequeno valor, calha-lhe um número que corresponde a um papelinho tirado da gaveta de madeira correspondente. Os que não tiveram tanta sorte como o FUGAS têm a possibilidade de pendurar os mal-afortunados papelinhos numa espécie de estendais de arame que ficam sujeitos às intempéries, à espera que a sorte mude.

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