Fugas - Viagens

Miguel Madeira

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Las Vegas, a fogueira das vaidades

Empregados e empregadas distribuem comida, bebidas, cigarros, massagens e uma infinita simpatia. São todos mesmo muito simpáticos, principalmente na hora de ficarem com os últimos dólares de um qualquer casal de velhotes texanos que veio a Las Vegas passar uns dias de perdição. Atenção turistas: nesta cidade dar gorjeta não é uma opção, é uma obrigatoriedade.

O negócio do jogo

Não sabemos se é dia ou noite. Tanto jantamos às quatro da manhã como tomamos o pequeno-almoço às nove da noite e bebemos um gin tónico antes do meio-dia. Nas mesas de roleta ou de Black Jack há sempre gente a jogar. As dançarinas em topless tanto se abanam às sete da tarde como às sete da manhã.

Sem relógio, sempre climatizados, só mesmo indo lá fora, espreitar, para ver se o sol já se levantou, testar a temperatura que à noite nos dá uma pequena trégua e baixa para os 35 graus. De manhã, inclemente, volta a subir bem para cima dos 40. A alternativa é a piscina que só tem água pela cintura em todo o lado. Não se nada, nem se mergulha. Está-se de molho, apenas.

Arriscamos um passeio pelo Strip - a avenida principal de Vegas, onde se concentram os principais casinos - porque queremos ver os gondoleiros do Venetian, os esguichos de água no lago do Bellagio que parecem chegar ao céu, a estátua de César no Caesars Palace. Queremos ver passar as limusines de cinco metros, os SUV imponentes de vidros opacos, os Caddilacs e os Chevys vintage que os turistas de camisas havaianas alugam. Com sorte tiramos uma fotografia de braço dado com Elvis.

Andar cá fora não é fácil, mas quase todo o Strip está equipado com um sistema de rega de turistas - das fachadas dos edifícios sai um spray de água permanente que não chega sequer a molhar as nossas cabeças mas que funciona como uma refrescante opção ao ar condicionado. O Rio não é - percebemos agora - o melhor dos hotéis de Vegas. Estamos lá porque é lá que se jogam as WSOP, mas não se compara ao luxo asiático dos mais emblemáticos hotéiscasinos de Las Vegas. É no Ceasers Palace que percebemos o poder de atracção desta cidade. Não é o jogo, é o luxo acessível a todos.

É a possibilidade de estarmos estendidos à beira de uma piscina imperial rodeada de estátuas de mármores, embrulhados num roupão imaculadamente branco e macio e ser servidos de champanhe por uma escultural deusa romana.

Não há nenhum outro sítio no mundo onde os hotéis de cinco estrelas sejam tão baratos - tendo em conta aquilo que oferecem. Não é segredo nenhum. Vegas ficanos com tudo o que nos conseguir tirar, mas faz isso com uma infinita simpatia nos casinos. É com o jogo que esta cidade faz negócio. Tudo o resto é concebido para nos fazer sentir milionários, confiantes, capazes de largar uma nota de 100 dólares como quem está a dar um euro a um arrumador de carros.

Para chegar a Fremont Street apanhamos um táxi com o ar condicionado no máximo e as janelas fechadas. Passamos pela Naked City, uma terra de ninguém, onde lojas de penhores e escritórios de advogados intervalam com motéis decadentes, salas de cinema para adultos e lojas de conveniência que vendem whisky barato. É aqui o fim da linha para muitos jogadores que perderam as graças da sorte, entre o Strip luxuoso e o Glitter Gulch onde tudo começou, em 1905.

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