Fugas - Viagens

A lua-de-mel de António e Juana dura um ano e é à volta do mundo

Por Andreia Marques Pereira

A nossa série de viajantes prossegue com António Carola e Juana Dehanov, um casal em lua-de-mel pouco convencional. Antes de mais, pela duração: um ano. Depois, pelo local escolhido: o mundo, mais coisa menos coisa. "Foi uma conjugação de factores" que permitiu o que acaba por ser um dois-em-um de desejos, o casamento e a viagem.

A ideia da viagem começou na cafetaria da empresa onde trabalham como engenheiros, a Cisco Systems, na Bélgica: foi aí que conheceram uma colega, Natalie, embrenhada na aprendizagem de espanhol porque ia tirar um ano sabático para viajar, algo "relativamente comum na cultura do norte da Europa". "Quando alguém ouve uma coisa assim pensa 'será que podemos?'", recorda António. Pensaram e podiam.

"Já tínhamos completado anos de trabalho suficientes na Bélgica que nos permitiam pedir um ano sabático. Não temos filhos, nem hipotecas, logo podíamos desprender-nos facilmente das outras coisas materiais." O casamento já estava nos horizontes e concretizou-se agora porque sentem que o ciclo Bélgica se está a encerrar "Já estamos há cinco anos e sentimos que é altura de mudar de país, conhecer novas culturas", explicam, "ao mesmo tempo terminámos o nosso MBA de dois anos em part-time" e quiseram proporcionar uma celebração para as famílias e amigos. Casaram no final de Agosto e agora estão na Indonésia, a primeira etapa da sua "jornada global".

Para trás ficaram os haveres, empacotados em 23 caixas (o que sobrou da venda do recheio da casa); o presente é rodeado de campos de arroz. Quando falamos por telemóvel estão em Ubud, Bali, numa pequena guest house. "Chegámos a Bali há uma semana e meia", contam. Já passaram por Kuta e Seminyak, a zona dos surfistas ("demasiado turística e virada para festas, não sentimos que estávamos na verdadeira Bali"); daí, partiram rumo a Nusa Lembongan, pequena ilha na costa sul de Bali. Gostaram tanto, que ficaram três dias, "emergidos na cultura e costumes" assistiram, por exemplo, a um ritual de cremação colectivo, "uma verdadeira festa na rua". "Não tinha ideia de como eles celebravam os mortos, de forma tão colorida, alegre", nota Juana. 

Foi pela vontade de conhecer um pouco melhor novas culturas e pessoas que se decidiram por uma viagem tão longa. É necessário tempo para viver os lugares, justificam. "Já há alguns anos que viajamos, sempre em períodos curtos, de uma a três semanas. Já fizemos road trips no norte da Inglaterra, Croácia, norte de França, Suíça, Holanda, Alemanha. Visitámos a Suécia, República Checa, Nova Iorque, Washington DC...", enumeram, "mas não é tempo suficiente". Por isso, quando começaram a falar da viagem, há três anos, fizeram, logo de início, uma lista de países que gostariam de visitar e quanto tempo queriam estar em cada um. Rapidamente, tinham nove meses de viagem. "Por isso, decidimos aproveitar o ano sabático", conclui António.

E sem o ano sabático, a viagem aconteceria? "Acho que sim.", hesita António. "Sim", afirma mais convicto depois de consultar Juana, "sabíamos que estávamos em transição". Com os olhos postos "na Califórnia ou Singapura". "Existe mobilidade dentro da empresa, queremos tentar", declaram. Se não conseguirem esses países, não têm problemas em ir para outros, e se não for na Cisco, tentarão outras empresas.

No actual contexto económico, não têm receio em trocar uma vida profissional estável por uma viagem de um ano, mas não têm dúvidas de que "é preciso ter consciência dos riscos". "Sentimos que vamos voltar muito mais enriquecidos profissionalmente, com o valor e conhecimento que uma aventura destas nos traz." Na verdade, dizem, "esta é uma mais-valia, pelo menos trabalhando numa multinacional" e, "mais que não seja, dará sempre uma óptima conversa introdutória em entrevistas de trabalho".

--%>