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As noites do Alentejo são tão belas quanto os seus dias

Por Andreia Marques Pereira

É uma nova forma de conhecer lugares. No Alqueva, começa-se a andar de cabeça no ar, a ver estrelas. A culpa é da Reserva Dark Sky que nos quer ensinar a observar a cultura e o património deste canto alentejano de olhos postos no céu.
A escuridão estranha-se e depois entranha-se. É assim no rio Ardila, quando embarcamos num caiaque; é assim num terraço no Telheiro. Duas noites quentes de Agosto que nos apanham entre o céu, a terra e a água - ámen, que estamos no Alentejo à beira do "milagre" que é o Alqueva, o maior lago artificial da Europa. Aqui, onde a água invadiu a terra, apetece parafrasear Pessoa: mas nela reflectiu o céu. Porque é nele que andamos de olhos postos, cabeça no ar ou a espreitar por canudos.

Não um céu qualquer, o céu que se acende quando o dia se apaga para, na sua transparência, nos levar pela Via Láctea até aos confins do universo. Chamam-lhe Dark Sky porém, se tivermos sorte, é de luz, milhares, milhões de luzes, que se faz. E, para sermos honestos, na Reserva Dark Sky do Alqueva (3000km2 em seis concelhos) a questão da sorte nem tem tanta importância. É mais uma questão de natureza, preservada: as suas condições meteorológicas asseguram-lhe, em média, 286 noites de céus límpidos por ano e a sua poluição luminosa é reduzida - graças à fraca densidade populacional, os índices de escuridão são de cerca de 21,5%, dos melhores do mundo. Garantias de intensos mergulhos estelares.

Claro que isto de ver estrelas tem mais do que a nossa vã sabedoria concebe. E não é sequer a conhecimentos teóricos de astronomia que nos referimos - afinal, no Alqueva, se quisermos, temos guias para o céu. Referimos-nos a algo tão prosaico como o sentido de oportunidade ou a sorte de estar a olhar para o sítio certo na hora certa: de outra forma, como explicar que em duas noites de observação de estrelas tivéssemos sido os únicos a não ver uma estrela cadente? E não foi porque elas tenham sido tímidas.

Na primeira noite, falam-nos de dúzias; na segunda há mais comedimento, mas entre 20 pessoas os avistamentos foram pelos menos outros tantos. Quase - nós ficámos em branco. Mas só no capítulo de estrelas cadentes, há que reconhecê-lo. Porque esquadrinhámos boa parte da Via Láctea, passámos nebulosas várias e entrámos Andrómeda dentro - aqui tão perto - sem pedir licença; deixámo-nos surpreender pela Ursa Maior e Cassiopeia, ensaiámos medições de céu a golpe de vista e realmente lá estava a Estrela Polar; também nos perdemos entre miríades de pontos luminosos que nada nos revelavam. Nada excepto a sua intrínseca luminosidade, amplificada nestes céus que justificam a metáfora de abóbada celeste - neste caso, quase celestial.

Estas qualidades foram fundamentais para obter a primeira certificação Destino Turístico Starlight, atribuída pela Fundação Starlight (Instituto de Astrofísica das Canárias), em conjunto com a Unesco (que em 2007 proclamou o céu e os astros Património Mundial), a Organização Mundial de Turismo e a União Astronómica Internacional. Contudo, um destino Starlight "é mais do a qualidade dos céus", sublinha Apolónia Rodrigues, presidente da Genuineland (uma associação de turismo rural e sustentável na Europa), que coordena o projecto da reserva, "é também a qualidade dos serviços associados". Serviços que foram agrupados numa Rota Dark Sky e que vão desde o alojamento e restauração às ofertas de animação turística com destaque para as nocturnas - como night birdwatching, wildnightwatching, moonbirding, passeios pedestres e a cavalo, canoagem e piqueniques. Sem esquecer, claro, a observação de estrelas, o motor deste projecto. Vamos, então, ver estrelas - e tudo o que vem com elas. Como a água.

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