Fugas - Viagens

  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta

Continuação: página 2 de 3

Braga : Agora podemos passear com a cidade de André Soares nas mãos

Braga de André Soares foi o motivo para este passeio da Fugas por Braga. O livro tem fotos de Libório Manuel Silva, que podem também ser vistas numa exposição que estará patente até ao final de Agosto no Tesouro-Museu da Sé de Braga. E foi precisamente a catedral bracarense o ponto de passagem seguinte deste percurso.

A entrada na Sé é feita pela porta lateral, junto à Rua do Souto, de encontro ao claustro de Santo Amaro. Foi para este local que foram projectados os dois retábulos de André Soares aqui existentes, ainda que, no século XX, as duas obras tenham sido levadas para a capela de Nossa Senhora da Piedade, a poucos metros do local original. Lá dentro, encontram-se os retábulos de Nossa Senhora da Boa Memória (1767), o mais rico, e Santo António, mais modesto, do ano seguinte, projectados já numa fase final da carreira do arquitecto bracarense.

Além de projectar edifícios, André Soares desenhou retábulos para igrejas e mosteiros e várias gravuras, das quais a mais famosa é um mapa da cidade de Braga, que também consta do livro editado recentemente. Para conhecer o seu retábulo mais precioso é preciso rumar ao mosteiro beneditino de São Martinho de Tibães, cerca de 10 quilómetros a Oeste da cidade, a primeira sugestão fora da zona urbana que Eduardo Pires de Oliveira faz durante o passeio. Tibães é um bom exemplo da singularidade de Soares no contexto do rococó europeu. O interior da igreja do mosteiro é rococó na forma, mas barroco nas cores usadas nos retábulos — o ouro — e na organização do espaço, aponta o historiador.

De regresso à Sé de Braga, a saída é feita pela porta principal, continuando depois em direcção ao largo de São Paulo, pela rua que aparece à esquerda. Ao cimo dessa artéria, é imponente a vista da antiga torre medieval, transformada no século XVIII numa capela. O pórtico é também da autoria de André Soares (1756) e merece uma paragem atenta, antes de o percurso prosseguir através do Largo de Santiago, onde está o museu Pio XII, prosseguindo depois pela rua dos Falcões abaixo, em direcção à pequena capela de São Bentinho. A estreita construção religiosa está encostada ao complexo do antigo hospital São Marcos e também tem arquitectura de Soares, ainda que o “coberto” — acrescentado já no século XX — perturbe a leitura do trabalho.

No final dessa rua está o Largo Carlos Amarante, dominado pela igreja de São Marcos, onde André Soares também trabalhou. A configuração actual do templo é, porém, posterior, sendo obra de Carlos Amarante. No seu interior, sobram uma escada e um belíssimo um lavabo na sacristia, assinados por Soares.

A igreja de São Marcos serve como ponto de referência, antes da incursão até à fachada de uma das obras mais emblemáticas de André Soares em Braga. Descendo a Rua de São Lázaro, chega-se ao Palácio do Raio (1752), construído pouco tempo depois do Palácio do Arcebispo, onde começou esta viagem. Para Eduardo Pires de Oliveira, esta é “a obra-prima do rococó” em termos civis, destacando o ritmo das janelas nos dois pisos e a complexidade do pórtico principal da antiga casa particular, que hoje é propriedade da Santa Casa da Misericórdia. Os azulejos são posteriores, mas não tiram espectacularidade à forma complexa como todo o conjunto é desenhado.

--%>