Se o palácio do Raio é marcante na arquitectura civil, para se conhecer a sua obra-prima religiosa é preciso também sair da cidade, em direcção à capela de Santa Madalena, na Falperra (1753), no local onde fazem fronteira os concelhos de Braga e Guimarães. Mas antes dessa eventual incursão a caminhada prossegue pela Avenida da Liberdade acima, até à Avenida Central.
Voltamos a parar longos minutos, desta feita em frente à Igreja dos Congregados, elemento marcante nesta zona da cidade. Ao lado está a Casa Rolão (1758-63), também obra de André Soares, mas é na igreja que nos detemos por sugestão de Eduardo Pires de Oliveira, mais propriamente no canto da sua fachada (1755), no gaveto entre o Antigo Campo de Santana, actual Avenida Central, e a Cangosta da Palha.
O desenho é complexo e único. Pires de Oliveira contou 25 linhas neste pormenor da fachada, que ondulam no canto do edifício. “É magnífico, não vemos isto em mais lado nenhum”, diz-nos, enquanto nos propõe um exercício: aproximarmo-nos e afastarmo-nos do canto da igreja, com o vértice sempre no centro do campo de visão. “Vai ficar atordoado”. Confirmamos que sim.
Depois disso, entramos na igreja — onde o arco e a pedra de fecho do coro alto, bem como o retábulo da Senhora das Dores (1761), também são assinados por Soares — e subimos ao primeiro piso, onde está o espaço sobre o qual Pires de Oliveira esteve a falar durante todo o passeio: a Capela dos Monges. A porta parece a de um comum apartamento e o tamanho não é muito diferente do de uma sala de estar. São 15 metros quadrados, mas está lá o barroco todo.
Nesse espaço exíguo há uma nave muito ornamentada, um lanternim que parece o de uma grande catedral e um retábulo dourado que se agiganta sobre os visitantes. Tudo parece maior do que realmente é. “Uma grande falácia” como a obra de Soares, comenta Pires de Oliveira. Para o historiador de arte, mais do que um arquitecto, André Sorares era um cenógrafo artificioso. Daí que tenha uma admiração tão grande por esta que é a última obra de Soares em Braga (1768), apontando-a como o ponto culminante de todo o roteiro: “Este é o seu testamento.”