O seu criador é Nicolas Joly, um dos principais gurus da agricultura biodinâmica. Joly despertou tarde para este movimento, criado por Rudolf Steiner. Durante anos trabalhou em finanças no Reino Unido e nos Estados Unidos. Em 1977, regressou ao Loire para tomar conta da propriedade da família. Mal chegou, um funcionário dos serviços de agricultura da região visitou-o, para lhe dizer que a sua mãe tinha gerido bem a exploração mas de uma forma antiga e aconselhá-lo a modernizar a forma de cultivo. Como exemplo, disse-lhe que, se começasse a usar herbicidas no controlo das infestantes, pouparia 14 mil francos. Nicolas Joly levou a sério o conselho, mas arrependeu-se ao fim de dois anos, quando percebeu que a cor do solo tinha mudado, que já não havia joaninhas e que as perdizes tinham desaparecido. As vinhas, na sua descrição, assemelhavam-se a um Inverno perpétuo, desprovido de vida.
Nicolas Joly leu logo a seguir um livro sobre agricultura biodinâmica e, a partir de 1981, sem aderir ao movimento, passou a aplicar os seus principais conceitos: respeitar os ritmos e ciclos da natureza e estimular o equilíbrio entre todos os elementos que fazem parte da propriedade (solo, plantas, animais, homem) sem recurso a adubos químicos, herbicidas e qualquer outro composto que não seja natural e não tenha origem na própria exploração. Parte da vinha de sete hectares (plantada inicialmente em 1130 por monges cistercienses) passou a ser trabalhada com um cavalo. As mudanças estenderam-se também à adega.
Joly passou a usar apenas leveduras naturais e a intervir o mínimo possível na vinificação. Não faz controlo de temperatura e não chaptaliza (adição de açúcar). Recorre a batonnage (batimento das borras), filtra ligeiramente os vinhos e adiciona quantidades pequenas de sulfuroso apenas no momento do engarrafamento. Os vinhos estagiam menos de um ano em barricas maioritariamente usadas (mais recentemente, Joly começou a estagiar também os vinhos em ânforas de barro, como nos primórdios da vitivinicultura) e continuam a sua educação em garrafa. A variação de colheita para colheita pode ser grande — as condições climatéricas são determinantes. Os melhores vinhos, garante o produtor, nascem nos anos em que a floração dos cachos coincide com o solstício de Verão.
Não sabemos se 1997 foi um desses anos. Foi, isso sim, um ano quente, talvez até quente de mais, apesar de a casta Chenin Blanc precisar de calor para expressar todo o seu potencial. Por essa razão, na maioria das colheitas as uvas já são colhidas com alguma podridão nobre. Isso explica a cor de oxidação que os vinhos têm e também as nuances meladas e exóticas que se sentem no nariz e na boca.
Apesar de serem vinhos alcoólicos (o 1997 tem 14% de álcool), Nicolas Joly recomenda beber os seus vinhos a uma temperatura de 14 graus centígrados (a grande acidez natural da Chenin Blanc aguenta tudo) e assegura que eles vão melhorando nos dias seguintes até atingirem o pico ao sexto dia (depois da garrafa aberta). Não fizemos a experiência. Bebemos a única garrafa de 1997 em menos de uma hora, mas deu para perceber o carácter camaleónico do vinho e, acima de tudo, vibrar com a sua originalidade, o seu carácter. Nenhum dos quatro que o bebemos jamais esquecerá a experiência… pelo menos até provarmos outro Clos de la Coulée de Serrant. Segundo Joly, 1997 até nem é a sua melhor colheita. Os seus favoritos são o 1996 e o 1999. Um dia havemos de os provar, para tirarmos as dúvidas.