Fugas - Vinhos

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Licores sabor Açores: Mulher de Capote, um ícone açoriano

Por Ana Carolina Veríssimo

É o saber açoriano em versão licor, de ananás a maracujá ou anis. Os licores da Mulher de Capote e Ezequiel, de S. Miguel, são, há muito, um souvenir tradicional dos Açores, graças às garrafas com figuras locais ou que evocam pontos turísticos. A história, incluindo visita à fábrica da Ribeira Grande.

O que mais ressalta do silêncio e do ambiente adormecido é o cheiro intenso a madeira sublinhado pelos aromas fortes a coco e a baunilha. E percebe-se porquê. Nesta sala, os licores, incluindo o de maracujá, repousam em grandes pipas de carvalho-americano, de 5 a 10 anos. Assim é até serem despejados em garrafas de vidro ou porcelana e de seguirem para a sala de rotulação, de longe a mais importante da fábrica. Aqui, o olfacto mistura-se com os outros sentidos. Torna-se impossível não acompanhar o tilintar constante do vidro ou fixar os olhos nas garrafas que vão sendo cuidadosamente decoradas à mão por duas trabalhadoras. O progresso tem sempre, dir-se-ia, um toque de tradição, na fábrica de Licores Mulher de Capote, na Ribeira Grande, em São Miguel.

O licor de maracujá foi a primeira e também a mais emblemática aposta da Mulher de Capote, embora a marca Ezequiel já o fabricasse, desde 1936. A produção começou com cerca de dez pipas apenas. “Tivemos curiosidade em fazer este licor, pois era muito falado na altura e bastante apreciado”, afirma Idália Ferreira, a actual proprietária da fábrica. Uma oportunidade de negócio que enfrentou uma concorrência feroz.

Mas “o [seu] licor de maracujá destacou-se pela maneira como era envelhecido e também pela graduação alcoólica ser mais elevada”, recorda com orgulho. Mais tarde, segundo ela, tonar-se-ia mesmo no licor mais conhecido dos Açores, fazendo com que a marca concorrente tivesse problemas em manter o negócio. Daí a uma internacionalização mais consistente foi um passo. O licor de maracujá é, hoje, conhecido, em vários pontos do globo, muito graças à emigração portuguesa, em particular a açoriana, mas também a uma promoção eficaz. Na Europa, soma seis medalhas de ouro conquistadas em certames especializados.

Mas nem só do licor de maracujá vive a fábrica. São 16 os produtos feitos pela marca, como se pode ver em sala própria onde todos eles estão expostos. Uma montra que exibe garrafas de licor, cremes, aguardentes, vinho abafado e até compotas, sendo o creme de chocolate o mais recente, lançado no último Natal, com vista a aproveitar o excesso de leite da região.

Aliás, a chave do sucesso, defende Idália Ferreira, passa pela utilização de produtos naturais açorianos, de qualidade, como a polpa de fruta, o açúcar e o leite, das bebidas mais recentes às mais antigas como o anis. Este tem uma cozinha especial para colocação da planta no interior da garrafa e máquinas para a sua cristalização. E todo este processo feito ao pormenor faz com que a receita tradicional se mantenha praticamente intacta. Há mais de um século que o anis aquece a alma de muitos apreciadores, com largo contributo da fábrica de Licores Mulher de Capote.

A história da marca é também a história de Idália Ferreira e do marido. Emigrantes nos EUA, vieram para Portugal, em 1980, para continuar o negócio de vinhos da família. Lançaram as aguardentes e, posteriormente, foram experimentando os licores, primeiro o de maracujá, depois, o de ananás, o de amora e o de banana. “Já fabricávamos licores há muitos anos, apenas para consumo próprio e, como eram muito apreciados, decidimos apostar no negócio”, relata Idália Ferreira. “Com muito trabalho e uma pontinha de sorte”, admite a dona da fábrica, puseram os talentos da família a render.

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