A Quinta Maria Izabel, um nome pensado “para homenagear as mulheres portuguesas e brasileiras” que invoca a herança da imperatriz que mandou publicar a Lei Áurea que em 1888 iniciou o fim da escravidão, é hoje uma propriedade modelar. Da estrada que segue junto ao rio Douro, sobram apenas umas escassas de metros para se chegar lá. Na pequena aldeia ribeirinha da Folgosa vira-se em direcção ao monte, sobe-se uma primeira encosta sinuosa e de repente o cenário muda. Os muros de xisto novos, a existência de plantas e arbustos meticulosamente plantados em pequenas áreas onde não cabem videiras destacam pelo zelo os limites da quinta. Quando se vencem os últimos metros da encosta chega-se a uma casa e as bandeiras hasteadas à porta de Portugal, do Brasil e do Pernambuco são uma segunda nota de surpresa neste trecho do Douro que por tradição e herança da História sempre foi propriedade de portugueses e de britânicos.
A quinta tem sete hectares de vinhas velhas e 23 hectares com plantações de há 25 anos, a base da produção para os próximos anos. Dirk conhece bem este potencial e guarda segredo de algumas experiências. Sabe que pode correr riscos, que Paes Mendonça só cobrará por resultados mais tarde. “Ser diferente não se consegue à primeira. Demora tempo”, diz o enólogo. “Temos por isso de fazer as coisas de cima para baixo. Primeiro vamos fazer vinhos de terroir e perceber depois até onde podemos ir”, acrescenta. Ao seu lado, Paes Mendonça concorda: “Queremos qualidade e não quantidade, não vamos ser um grande produtor. Não temos pressa”, avisa.
No princípio da aventura entre o empresário e o enólogo, é já possível vislumbrar alguns sinais para o futuro. O tinto de 2012 não tem a cara de Dirk – excepto talvez numa secura no final de boca que o recomendam para a mesa. Mas o Quinta Dona Izabel branco de 2014 é já um indício do que aí pode vir. Um branco cheio de nervo e graça, com uma riqueza aromática notável e uma profundidade muito interessante. Lá para meados do próximo ano, chegará a hora da prova dos 2013, esses sim já feitos à imagem de Dirk, e aí ver-se-á melhor até onde a liberdade criativa que Paes Mendonça concedeu a Dirk e à equipa pode ir.