O empresário brasileiro João Carlos Paes Mendonça gosta de se instalar num terraço da casa e olhar uma parte da sua quinta que se estende encosta abaixo e o troço do rio Douro que corre lá ao fundo. Quando comenta o que vê, os patamares onde a vinha está plantada, a mansidão do rio, as oliveiras, as flores primaveris dos pequenos bosquetes, não se lhe descobrem palavras que apontem para a riqueza ou para o valor incalculável daquele património.
O milionário que ganhou a vida a montar redes gigantescas de supermercados (a revista Forbes atribuia-lhe uma fortuna de 4.1 mil milhões de euros em 2013) encontra ali uma espécie de lado B da sua vida empresarial. O Douro e a sua Quinta Maria Izabel “não podem dar prejuízo” porque, sublinha, “o troféu do empresário é o lucro”, mas o enorme investimento que Paes Mendonça fez é para ele mais um gesto “de emoção”, “de prazer” com o qual espera diluir a pressão dos negócios que mantém no Brasil.
Paes Mendonça sabe medir a beleza do vale ou a harmonia dos patamares que sustentam filas de videiras nas encostas acidentadas, mas para ele o vinho é um mundo novo. Ele sabe apreciar um bom tinto, tem opinião formada sobre algumas das principais marcas portuguesas, reconhece que o ciclo do vinho, desde a plantação à vindima e à adega é “bonito”, mas tudo isso é muito pouco para quem investiu milhões de euros numa quinta. Mal chegou ao Douro, o empresário tentou a todo o custo falar com Dirk Niepoort. Dois anos mais tarde conseguiu envolvê-lo como consultor técnico do seu projecto. Desde então, Dirk tornou-se o seu amparo, o seu selo de garantia, a certeza de que para lá de uma bela vinha também pode sonhar em fazer um belo vinho.
Se Paes Mendonça foi um dos gurus da moderna distribuição no norte e no nordeste do Brasil e é hoje um dos empresários que melhor domina o negócio dos shopping center (tem 12 espalhados por vários estados brasileiros), Dirk é uma espécie de Rei Midas do Douro actual – o seu toque tem o condão de transformar vinhos bons em vinhos excelentes. Descendente de uma família holandesa que se estabeleceu no Porto em 1841, Dirk herdou a escola da Niepoort na interpretação das vinhas e dos vinhos, embora ele seja hoje mais um homem do vinho do Douro do que do vinho do Porto, ao contrário dos seus antecessores. Quando soube do interesse de Paes Mendonça em falar com ele, suspeitou naturalmente que o que estava em causa era mais uma proposta de consultoria, como outras que recusa a cada passo. Não, havia mais qualquer coisa.
O caso de Paes Mendonça com o Douro é fulminante. Um dia ouve falar do Douro no restaurante Solar dos Presuntos, em Lisboa, e quer ir ver o vale com os seus próprios olhos. “Fiquei encantado”, recorda. Depois, num outro restaurante, o DOC, pergunta com displicência sobre se havia quintas à venda naquela zona. Havia. Pelo menos uma que ficava a cinco quilómetros daquele local. No dia 23 de Abril de 2012, Pais Mendonça mete pés ao caminho e vai à procura da então chamada Quinta da Fonte do Toiro. Gostou do que viu e, por mais de uma vez, voltou a namorar a propriedade. Poucas semanas mais tarde adquiriu-a. Mais por impulso do que em resultado de uma reflexão profunda, o empresário viu-se dono de uma quinta com 135 hectares (uma área enorme para a média do Douro), dos quais 70 hectares são vinha e 15 olival.