Fugas - Vinhos

  • DR
  • Nuno Cancela de Abreu
    Nuno Cancela de Abreu DR
  • DR

Continuação: página 2 de 4

A idade de ouro de Nuno Cancela de Abreu

Então com 25 anos, Nuno Cancela de Abreu participou do nascimento da modernidade no Douro. “Foi a primeira vez que se fez vinho do Porto varietal, para se perceber o potencial de cada casta.  Fizemos estudos de antocianas, de aromas. Assisti à plantação de Ervamoira e à revolução da Cockburns na Vilariça. Durante o PDRITM, após um grande trabalho de selecção clonal orientado pelo professor Nuno Magalhães, em colaboração com os professores Antero Martins e Luís Carneiro, do Instituto Superior de Agronomia, a  ADVID chegou a distribuir dois milhões de garfos das cinco castas seleccionadas, tudo etiquetado e gratuito”, relembra.

Desse tempo, Nuno Cancela de Abreu evoca com saudade as reuniões que tinha na Quinta do Bom Retiro com José António Rosas. “Depois do jantar, ele gostava de ir para a vinha e desfazer algumas folhas para me mostrar a que cheiravam. Foi a pessoa mais sensível que conheci na minha vida. Era um provador extraordinário e um homem que gostava de trabalhar em equipa, para evoluirmos”.
Entre 1985 e 1987, Nuno ainda foi professor assistente de enologia na UTAD. Durante este tempo, recebeu vários convites de empresas importantes do Douro. Mas o amor falou mais alto. Aquela que viria a ser a sua mulher vivia em Lisboa e o convite para a Quinta da Romeira foi irresistível.

O regresso ao Dão natal, em 2010, foi um fechar de um ciclo. Desta vez, não era bem para começar algo de novo, mas sim para retomar o que havia sido iniciado pelo bisavô José Tavares Festas, que já vendia vinho engarrafado com o seu  próprio nome no último quartel do século XIX. Este ano, 25 anos após ter criado as marcas Quinta da Fonte do Ouro (Nelas) e Quinta da Giesta (Mortágua), Nuno Cancela de Abreu inaugurou a sua nova adega, em Gandarara, na Quinta da Giesta, mesmo próximo ao local onde o bisavô plantou as primeiras vinhas e por onde, durante as Invasões Francesas, passaram as tropas de Wellington em direcção ao Buçaco. O braço direito de Wellington era o general Robert Craufurd, que, pelos seus feitos na campanha do Côa, trouxe do Douro, de oferta, duas pipas de vinho do Porto. Durante a sua estadia no Buçaco, Craufurd criou uma grande amizade com José Tavares Festas, a quem, na hora de regressar a Inglaterra, ofereceu as duas pipas de vinho e mais alguns objectos pessoais.  Em homenagem a essa amizade, Nuno Cancela de Abreu criou uma marca de vinho do Porto com o nome do general inglês. O vinho é produzido por Álvaro van Zeller.

Craufurd não é a única marca que Cancela de Abreu possui fora do Dão. Produz vinhos também em Setúbal (Herdade da Gâmbia), Alentejo (Quinta do Garro, entre outras) e Bucelas (Morgado de Bucelos). Nestas regiões trabalha com parceiros locais, que fornecem as uvas. No Dão, as quintas são da família. No início, ainda tentou registar a marca Duas Quintas, mas a Ramos Pinto tinha-se antecipado. A alternativa foi chamar-lhe Boas Quintas, o chapéu que aglutina todas as marcas e propriedades.

Além dos vinhos do Dão, todos os vinhos das outras regiões são afinados, enchidos, rotulados, armazenados e expedidos a partir da nova adega, que implicou um investimento de cerca de 1,5 milhões de euros. Ao todo, as Boas Quintas já vendem cerca de 650 mil garrafas por ano, 80% das quais para o mercado externo (25 países).

--%>