Imaginamos tudo isto nas varandas que dão para a piscina, ou sentados junto desta, com os empregados a arrumarem as últimas mesas como se ali se tivesse dado uma festa que aproveitou os primeiros fins de tarde quentes. E olhamos em volta, para aquelas paredes ocre, para as janelas fechadas, para a marginal que passa em baixo e para as palmeiras que abanam com o vento e quase conseguimos ouvir o pobre Humberto em falas lamuriosas com o criado da sua mãe, o conde Dino Oliveri, sobre o aborrecimento que lhe deveriam causar aquelas pessoas todas que vinham para ver o rei, que depressa tinha entrada nos hábitos daquelas gentes, a quem o provincianismo nunca curou de uma morbidez voyeurista. E Oliveri, imaginamos nós, a diverti-lo com historietas da outra realeza de sangue azul, também ela deposta, e Humberto a pensar na missa do dia seguinte, a fechar-se no quarto, longe dos salões, e a querer fugir para mais um passeio na praia.
A história de uma Itália que não o quis está também nas paredes do hotel, em nomes como Úmbria, Duque de Aostia, Piemonte, Medicis, Príncipe de Sabóia. Nomes de uma Itália da qual Humberto teve que fugir. E foi a essa memória que Raul Vieira (arquitectura) e Graça e Gracinha Viterbo (decoração) foram buscar o lastro de um glamour dessa "Riviera portuguesa". Os quartos e os salões equilibram-se em gosto, dialogam em mobiliário, seduzem em cores não impositivas, acolhedoras, discretas.
É um hotel para fechar os olhos e sonhar. Daqueles onde imaginamos que vamos conseguir ler todos os livros que acumulámos durante os anos, livros pesados, cheios de histórias. E onde sabemos que, se adormecermos numa das cadeiras do pátio ou num dos sofás dos salões, há um chá que nos espera quando acordamos e um cobertor leve para afastar o frio. São poucos os hotéis onde nos sentimos tão bem dentro dos quartos como fora dele. E, por maior que seja, não deixa nunca de ser íntimo.
Do Spa à mesa ou como a sedução é uma arte
Há dois atractivos no Grande Itália: o Real Spa Marine e o restaurante La Terraza. No primeiro simulam-se umas termas romanas, de azulejo pequeno, cabines separadas, funcionários dedicados e liberdade de movimentos. No segundo oferecem-nos uma experiência ao mesmo tempo intrigante e irresistível. Como não ceder ao convite de prepararmos a nossa própria refeição num hotel como estes? A cozinha, aberta para os clientes, possibilita que não apenas possamos escolher os ingredientes, como saltar o balcão e ajudar a prepará-los.
Chamam-lhe showcooking e mesmo se nem tudo é feito aqui, à nossa frente, é possível ajudar a preparar, por exemplo, um creme de ervilhas ou corar umas vieiras. De base mediterrânica, a cozinha oferece uma variedade de pratos, do gaspacho com camarão panado a um indescritível assado de foie gras em compota de cebola roxa e redução de vinho do Porto. E ainda aguentamos uma alheira de caça em cama de espinafres de sonhar a noite toda. Servem-nos em tapas, numa sucessão de paladares que acompanhamos com um branco Montes Claros 2007 fresco, primeiro, e com um Aragonês tinto do Alentejo, depois. Chegar à mesa de sobremesas é um desafio: o toucinho-do-céu com espetada de gingas embala-nos a viagem.
- Nome
- Grande Real Villa Itália Hotel & SPA
- Local
- Cascais, Cascais, Rua Frei Nicolau de Oliveira, 100
- Telefone
- 210966000
- Website
- http://www.hoteisreal.com