Onde antes corria jazz à volta da meia-noite e muito para lá dela, corre agora, acima de tudo, muito e bom vinho. Mas o jazz não abandonou a sala da Diário de Notícias, 95, morada mítica do Bairro Alto - ainda se ouve, mais baixinho, agora mais em registo som de fundo sob o qual se continuam a improvisar conversas até a um ritmo quase musical em noites mais nobres.
Era aqui o Bar Artis, ou Bartis, lendário recanto de salvação para noites longas dos anos 80 e 90 - um dos primeiros bares de referência do BA ex-aequo com o Frágil - e já pelo século XXI adentro; um bar de jazz em cenário amarelecido e familiar, de infinitos retoques musicais e cinematográficos, de ambiente peculiar e tertuliano. Deixará, decerto, muitas saudades a muita gente. Mas, boas notícias: há novo Artis e, se bem que com novos proprietários e novo conceito, promete, noutros níveis, não defraudar um novo público e, pelo menos, algum do antigo.
O Artis é agora "wine bar" ou, fazendo justiça à procura infinita da portugalidade por parte do espaço, um bar de vinhos (e petiscos tradicionais). E com a garantia de uma ementa vínica cinco estrelas: mais de uma centena de referências, numa garrafeira exemplar partilhada com o vizinho restaurante Lisboa à Noite (é dos mesmos proprietários, tal como o também restaurante, também nas vizinhanças, Sinal Vermelho).
Aberto em Dezembro de 2009, o novo Artis, explica-nos Flávio Fernandes, que faz a gestão do espaço, "aposta nos produtos nacionais", "não só para os dar conhecer a todos os turistas, que já vêm à procura das coisas típicas", mas também para tentar "fazer de nós portugueses um pouco mais consumidores daquilo que existe de bom no nosso país". Uma espécie de educação do gosto, digamos. A selecção é rigorosa e apertada, destacando-se também pela diversidade de origens: "Apostamos muito em pequenos produtores", "onde a qualidade tende a subir porque a produção é menor".
Quem for à procura do antigo Bartis, uma certeza: este novo não remete, logo à chegada, para o seu antecessor. Mas é começar a olhar para encontrar diversos pontos de contacto com o passado, até porque o novo Artis quer manter tradições, logo nada melhor que começar por manter qualidades do antigo bar de jazz.
As mesas e cadeiras mantêm o estilo de antigamente, pelas paredes descobrem-se instrumentos musicais ou posters e retratos que durante tantos anos marcaram o local. E um detalhe precioso: o Bartis era famoso por uma senhora tosta de frango, dita das melhores da cidade - cá está ela, que a receita ficou e continua na ementa tal e qual.
Embora noviça, a sala tem esse peso do tempo e de sabedorias antigas, recorrendo a materiais e madeiras nobres, um sólido balcão de bar pontuado por um rendilhado de copos tradicionais e coberto, tal como outras áreas das paredes, por puzzles de partes das caixas de madeira em que chegam os vinhos, caixas "tatuadas" a Barca Velha ou Taylor''s que marcam logo o nível. A arrumação da sala não difere muito da anterior, tirando dois detalhes relevantes: desapareceu o antigo balcão de bar à Belle Époque e abriu-se espaço a uma bela janela, a dar agora outra claridade e ao lado da qual se situa, isolada, a mais romântica das mesinhas.
- Nome
- Artis
- Local
- Lisboa, Encarnação, Rua do Diário de Notícias, 95
- Telefone
- 213424795
- Horarios
- Domingo, Terça-feira, Quarta-feira e Quinta-feira das 16:30 às 02:00
Sexta e Sábado das 16:30 às 03:00