Fugas - Motores

  • Nuno Ferreira Santos
  • Nuno Ferreira Santos
  • Nuno Ferreira Santos
  • Nuno Ferreira Santos

Potente, mas pouco selvagem

Por Carla B. Ribeiro

Um puro-sangue enclausurado num motor de quatro cilindros? Com o Ford Mustang 2.3 EcoBoost Convertible, o que parecia improvável, voltou a tornar-se possível. Tudo para cumprir os desejos dos consumidores europeus, que se preocupam tanto com a potência quanto com a poupança.

Quando, há uns meses, assumimos as rédeas de um 5.0, alimentado por um V8, com 421cv, depressa compreendemos por que razão Mustang é um nome que lhe assenta tão bem. Ou não fosse partilhado com os cavalos americanos, que se mostraram tão difíceis de domar. Por isso, é natural que um amante da marca se choque com este modelo. É certo que continua a ter potência, equivalente a 317cv, assim como as linhas de sedução e o incrível ronco que conseguem encantar meio mundo — embora não haja o mesmo frisson entre quem se cruza connosco. Mas, com o bloco Ecoboost de 2.3 litros, com quatro cilindros em linha (algo omisso desde a sua terceira geração, na época um 2.3 turbo com 132cv e caixa manual de cinco velocidades), tornam-se bem menos visíveis as semelhanças com os tais equídeos.

Pode-se até dizer que este Mustang é, na realidade, um bicho bastante dócil e fácil de domar, ao contrário do irmão equipado com o V8 que, mesmo com todas as ajudas à condução disponíveis, mantém o espírito indomável, revelando-se um carro próprio para os puristas. E de capota rebaixada — algo rápido de se concretizar (basta rodar o manípulo da tranca e recorrer ao botão junto ao retrovisor), mas que obriga a ter o carro parado — os passeios prometem ser tranquilos. A capota, em lona, recolhe em poucos segundos, encaixando-se na perfeição na carroçaria, não interferindo em demasia com a aerodinâmica. Depois disso, o conselho é para saborear o passeio, doseando a pressão no acelerador. É que basta um pouco de mais velocidade para tornar o passeio de cabelos ao vento num tormento, notando-se a ausência de um deflector de vento que, no caso de um carro desta potência, já merecia.

Ainda assim, é possível dar o gosto ao pé e trabalhar no sentido de aproveitar quer a pujante potência quer um binário de 432 Nm qe se entrega às 3000rpm. Basta que, para tal, se recoloque a capota no lugar e, no caso, se usufrua da excelente insonorização da cobertura. De tal modo que até o som do bloco de quatro cilindros é anulado, sendo substituído por um bem mais musical ronco que parece saído de um motor construído “V”. Já a caixa, manual de seis velocidades, transmite desportividade q.b., podendo ser facilmente manejada de forma a manter as relações bem curtinhas.

No que diz respeito a espaço, não se pode dizer que a versão descapotável perde para o Fastback. Na mala há arrumação para uns bem razoáveis 332 litros, enquanto o modelo de capota rígida consegue arrumar 408 litros — uma diferença que não choca. Além disso, dentro do habitáculo os contratempos são semelhantes: ambos não oferecem uma entrada fácil aos passageiros traseiros. No entanto, assim que instalados, no Convertible ganha-se ligeiramente em espaço em altura (mais 13mm no todo e quase 50mm do piso ao tecto do carro). À frente, não há grandes motivos para reclamar: há espaço para que ocupemos o nosso posto facilmente e os bancos primam por um bom apoio. À nossa volta, a mesma aura vintage do Fastback dá cartas e quase nos propõe fazer uma viagem no tempo. No entanto, os tempos actuais estão bem presentes na parafernália tecnológica que chega com o carro. Mais ainda no nosso caso, uma vez que o modelo incluía como extra o Pack Personalização, um exclusivo europeu que, por mais 2745€, juntava sistema de navegação com ecrã táctil de oito polegadas, sistema de som premium Shaker Pro, servido por uma dúzia de colunas, bancos climatizados e sistema auxiliar de estacionamento traseiro. O mesmo pacote incluía ainda alguns detalhes estéticos: jantes exclusivas em liga leve de 19” em níquel brilhante e estofos em couro premium cor ébano.

Agora, já confortáveis aos comandos, voltemos à estrada. É que até pode ser difícil aproximar a performance deste 2.3 Ecoboost ao V8 de 5.0, mas isso não quer dizer que o bloco de quatro cilindros em linha seja desanimador. Dizem os números oficiais que acelera dos 0 aos 100 km/h em 5,8 segundos, mais um segundo inteirinho que o irmão maior, mas ainda assim o suficiente para criar algum calafrio. Depois há a forma como se entrega às curvas — verdade: o Mustang já não é apenas dado às intermináveis rectas. Com motor dianteiro e tracção traseira, e consequente distribuição de peso mais uniforme, nota-se uma boa aderência de ambos os pneus dianteiro e traseiro em curva. Claro que não há bela sem senão. E, devido à mesma disposição, não é difícil perder o controlo do carro numa aceleração mais brusca em curva. Por isso, mesmo com este propulsor de “apenas” 317cv, o melhor é cuidar de se ter pezinhos de lã — independentemente de se seguir viagem com mais ou menos velocidade.

PORMENORES

Desportivo
Equipado com uma transmissão manual de seis velocidades, não é difícil explorar os 317cv que se entregam às 5500rpm. Não é difícil e é muito divertido, à medida que se vai trabalhando esta caixa de relações que se conseguem curtinhas. Bem ao gosto de um desportivo.

Dois-em-Um
O Mustang com a carroçaria Convertible é uma espécie de dois-em-um: de capota colocada revela-se um cavalo de respeito (ainda que não selvagem); rebaixada, mostra-se um pónei de passeio. A operação para esta transformação é fácil e rápida: em apenas alguns segundos destranca-se o manípulo e acciona-se o botão eléctrico.

Arrumado
Mesmo tendo em conta as várias funções espalhadas pelo tablier, o Mustang não é um carro difícil de se compreender. Uma grande ajuda nesse sentido são as funções bem distribuídas pelo volante. Basta usar uma ou duas vezes para se conseguir acertar no botão instintivamente e sem sequer espreitar.

BARÓMETRO

+ Insonorização da capota de lona, comportamento em curva, equipamento
Acesso aos lugares traseiros, ausência de deflector de vento 

FICHA TÉCNICA

Mecânica

Cilindrada: 2264cc
Potência: 317cv @ 5500rpm
Binário: 432 Nm @ 3000rpm
Cilindros: 4 em linha
Válvulas: 16
Combustível: Gasolina
Alimentação: Injecção directa, com Turbo e Intercooler
Transmissão: Manual, 6 velocidades
Suspensão: Independente, Tipo McPherson à frente; travessa deformável atrás
Direcção: Pinhão e cremalheira, com assistência eléctrica
Diâmetro de viragem: 12,2m, entre passeios
Travões: Discos ventilados à frente (352mm) e atrás (330mm)

Dimensões
Comprimento: 4784mm
Largura: 1916mm
Altura: 1394mm
Distância entre eixos: 2720mm
Peso: 1715kg
Capac. depósito: 59 litros
Capac. mala: 332 litros
Pneus: 255/40 R19, à frente e atrás

Prestações
Velocidade máxima: 234 km/h
Aceleração 0 a 100 km/h: 5,8s
Consumo ponderado: 8,2 l/100 km
Emissões de CO2: 184 g/km (Euro 6)

Preço: 52.886€ (viatura ensaiada, 56.851€, com Pack Personalização, que inclui jantes exclusivas de liga leve 19” em níquel brilhante, sistema de navegação com ecrã táctil de 8”, sistema de som premium Shaker Pro com 12 colunas, sistema
auxiliar de estacionamento atrás, estofos em couro premium cor ébano e bancos climatizados; alarme de perímetro e pintura metalizada Absolute Black). Entre o equipamento de série, faróis de Xenon HID, grelha frontal activa, afinação específica do chassis, câmara de visão traseira e Ford SYNC 2. 

* Dados do construtor

 

--%>