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  • Rita Cardoso, de 36 anos, arrenda três apartamentos no bairro de Alfama, em Lisboa
    Rita Cardoso, de 36 anos, arrenda três apartamentos no bairro de Alfama, em Lisboa RICARDO CASTELO/NFACTOS
  • João Pinto
    João Pinto RICARDO CASTELO/NFACTOS
  • "Ninho de Andorinha II" é um dos apartamentos de Rita, cuja decoração foi trabalhada de acordo com o nome RICARDO CASTELO/NFACTOS
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    A "Casa Formosa", de João Pinto, é da década de 1950 e encontrar móveis da época foi uma preocupação DR RICARDO CASTELO/NFACTOS

O Airbnb paga-lhes as contas

Por Ana Maria Henriques

A rede global de arrendamento comunitário que democratizou a oferta e procura de casas para arrendar nas férias tem cada vez mais utilizadores em Portugal — e há quem pague as contas com o negócio feito no Airbnb. As experiências de três jovens que vivem desta "economia de partilha"

A solução para um quarto extra lá em casa não precisa de passar por um escritório ou por uma cama quase sempre vazia, à espera de visitas raras de amigos e familiares. E casas fechadas durante períodos de férias ou temporadas no estrangeiro não têm, necessariamente, de significar prejuízo. Plataformas como o Airbnb permitem a qualquer pessoa arrendar quarto ou casa sem qualquer intermediário, gerindo preferências e públicos. O conceito não é novo, é certo, mas o Airbnb democratizou o processo, agora mais rápido e simples — basta ter acesso à Internet.

Dizer que há cada vez mais portugueses a arrendarem quartos ou casas através do Airbnb pode parecer uma generalização, mas os números confirmam mesmo a tendência. Segundo Paula Kadelski, do departamento de comunicação da empresa, listados em Portugal, em Julho passado, estavam mais de 15.700 imóveis — o que corresponde a um crescimento de 85% face ao mesmo mês de 2013.

João Pinto, Rita Cardoso e o casal João Sousa e Ana Santos fazem parte da comunidade portuguesa do Airbnb. Não arrendam castelos ou iglôs, mas os apartamentos que os dois primeiros gerem e o quarto da casa dos dois últimos são uma fonte de receitas. Há, como defendeu Thomas L. Friedman num artigo do “The New York Times”, “um estalajadeiro em cada um de nós”.

Em 2013, a “The Economist” chamou ao Airbnb “o mais proeminente exemplo de uma gigante e nova ‘economia de partilha’, na qual as pessoas alugam camas, carros, barcos e outros bens directamente umas às outras, coordenando tudo online”. A Internet possibilitou, continua a revista, a redução dos custos de transacção: partilhar bens é “mais barato e mais fácil do que nunca — e, logo, possível numa escala muito maior”. Assim se explicam os números que a empresa norte-americana, fundada em 2008 e com sede em São Francisco, exibe. Presente em mais de 34 mil cidades em 190 países, o site tem mais de 800 mil anúncios e já foi a escolha de mais de 17 milhões de hóspedes de todo o mundo. Rivaliza com gigantes da hotelaria, mas não é proprietário de nenhuma cama. E além dos comuns quartos, apartamentos ou casas há outros tipos de alojamento que, aqui, assumem relevância: podemos escolher entre mais de 600 castelos, ilhas privadas, casas de vidro, faróis, iglôs (até com internet) e casas na árvore.

João Pinto é um dos “novos estalajadeiros”, que tinha por hábito receber pessoas pelo “couchsurfing”. “Um dia apercebi-me que havia um site onde as pessoas não se importavam de ficar em minha casa a pagar.” Há cerca de três anos, o técnico de audiovisual de 38 anos inscreveu-se no Airbnb e começou a receber os primeiros hóspedes na própria casa, que na altura partilhava, no Porto. Pouco tempo depois encontrou um apartamento, que arrendou exclusivamente para subarrendar. O passo seguinte foi criar uma empresa unipessoal, a Casa Formosa, e despedir-se do emprego. “Fiz disto a minha vida”, conta. A decoração das casas foi uma preocupação: com um imóvel da década de 1950 e outro do século XIX, encontrar peças da época foi o mais importante. 

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