Fugas - Viagens

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O festival dos homens nus

 

A pitoresca Kurashiki

 

Apanho um comboio regional na estação de Okayama ao início de uma tarde de sol e, em menos de uma hora, já caminho pelas ruas de Kurashiki, por momentos apressando o passo para admirar a cidade com uma luz bonita. Percorro uma rua estreita e coberta onde no terceiro domingo de cada mês tem lugar um interessante mercado, o Sansai-ichi, revivalista de um outro que teve início durante o período Edo (1603-1868) e, de repente, pouco depois de deixar a arcada que actualmente acolhe lojas de comércio e restaurantes, Baikan abre-se para os meus olhos.

De acordo com um estudo recente, realizado a nível nacional, Baikan é, entre os bairros de mercadores, aquele que os japoneses elegem como o mais pitoresco. Na altura em que o shogunato assumiu o controlo da área, há cerca de 300 anos, foi criado um escritório de magistrados e a cidade e o canal conheceram um desenvolvimento que rapidamente transformaram Kurashiki, actualmente com perto de meio milhão de habitantes, num centro de comércio.

Um grupo de turistas, de chapéus cónicos na cabeça, ocupa posição dentro do pequeno barco a remos que os irá levar a dar um passeio pelo canal bordejado de casas baixas que a esta hora se reflectem nas águas como num espelho. Mesmo um banco e o posto do turismo estão abrigados em edifícios históricos restaurados e todo o distrito, que afortunadamente escapou a calamidades naturais e a conflitos bélicos ao longo dos anos, mantém quase todo o charme que sempre o caracterizou. Baikan estende-se ao longo do estreito canal e aninha-se também, mais para lá, no sopé da colina Tsurugata-yama, com arquitectura que remonta ao período Edo, quando os samurais ainda eram uma realidade, bem como à época dos Meji e dos Taisho (1868-1926), que coincide com o crescimento da influência cultural europeia.

Numa das margens, um idoso segura a mão de uma jovem sorridente e apresta-se provavelmente a ditar-lhe um futuro radioso. Mulheres vestindo coloridos quimonos fotografam-se em frente das fachadas mais elegantes das casas, já pintadas com as cores douradas que anunciam as últimas carícias do sol. Muita da arquitectura de Kurashiki reflecte um passado glorioso da cidade, como se pode ver errando pelas suas ruas sempre cheias de turistas. Dessas construções tradicionais, a mais antiga é a Inoue, que está a ser renovada e apenas tem reabertura prevista para o próximo ano; mas há outras que não devem ser desprezadas, como a Kusudo, um misto de loja (vende quimonos) e de residência, a Ohara, com um estilo único, bonitas janelas e paredes austeras pintadas de branco e, finalmente, com mais ostentação, a mansão Yurinso, pensada por Magosaburo Ohara – um dos grandes responsáveis pelo que Kurashiki é nos dias de hoje – e mandada construir para a sua mulher. Apelidada de palácio verde, devido à técnica utilizada na colocação das telhas, que se revelam verdes quando vistas de determinados ângulos, apenas pode ser vista do exterior, à excepção de um ou outro dia (especial) do ano.

Na verdade, os telhados são, em Kurashiki, dignos de ser observados (de preferência quando banhados pelo sol da tarde), sob pena de se perderem muitos dos detalhes que escondem – e já agora repare com atenção nas paredes dos canais, numa espécie de colunas, por elas entra a água (destinada à limpeza) para algumas das casas.

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