Fugas - Viagens

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O festival dos homens nus

Para uma panorâmica geral sobre a cidade e sobre essas telhas escurecidas, nada melhor do que subir vários lanços de escadas até chegar, com respiração ofegante, ao topo da colina de Tsurugata-yama, ao encontro do templo Achi, com uma história que ultrapassa os 1700 anos e palco de dois festivais anuais (em Maio e Outubro). Quando desço, não sem passear o olhar pela glicínia que, com uma idade entre os 300 e os 500 anos, é considerada um tesouro nacional, limito-me a caminhar, embora detendo-me mais nas ruas Honmachi e Higashimachi, sempre com o som do jazz, vindo de diferentes cafés e bares, a acompanhar-me.

Era por estas artérias, hoje tão procuradas pelos turistas e com uma atmosfera distinta em relação à zona do canal, que passavam muitos daqueles que se dirigiam para leste de Kurashiki e era nelas que a vida mais pulsava, com a presença de mercadores e artesãos agora substituídos por modernos cafés e interessantes galerias de arte.

Não muito longe de Honmachi e Higashimachi, iniciando o percurso de volta às margens do canal, faço uma escala na praça Ivy, um espaço público que oferece múltiplas propostas e onde no passado funcionava uma fábrica de algodão (agora transformada num museu que presta o seu tributo a Kurabo, o fabricante de têxteis). A praça é mais um daqueles lugares, tão habituais no Japão, que convidam à mansidão, à leitura de um livro ou a apenas deixar correr os olhos pelos edifícios de tijolo, pelos lagos com os seus peixes coloridos, até que, com a alma já cheia de tranquilidade, se sente vontade de errar por algumas das atracções culturais que se encontram na área envolvente, como uma galeria ou o museu dedicado ao pintor Torajiro Kojima.

O dia escoa-se, sinto relutância em partir. Fico de pé, sobre uma das três pontes, a água corre silenciosa aos meus pés, certamente para não me perturbar ou para me manter domiciliado a esta beleza imperturbável e aos pensamentos que são uma retrospectiva destes dias – a memória de um povo educado, hospitaleiro, solidário. As luzes, tímidas, iluminam o canal, a atmosfera transporta-me para outro tempo – um tempo que Baikan teima em não abandonar, com a mesma fidelidade que impregna, a despeito do frio, o espírito de nove mil homens quase nus em busca de um ano de felicidade – e terão razão, é tão éfemera que não se pode pedir mais.

São dois os shingi lançados da janela.

 

Guia prático

Como ir

À falta de ligações directas entre Portugal e o Japão, terá forçosamente de fazer uma escala. Várias companhias áereas operam entre Lisboa e Tóquio ou Osaka (é importante estar atento às campanhas promocionais e o preço está sempre dependente da antecedência com que faz a reserva), entre elas a KLM, a Lufthansa, a Air France e a Turkish Airlines – com relativa facilidade pode voar para uma daquelas cidades por tarifas entre os 500 e os 600 euros. Tenha ainda em atenção que o aeroporto de Haneda está localizado a curta distância do centro de Tóquio, enquanto o Narita se situa a mais de uma hora de comboio (aproximadamente 80 quilómetros).

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