Por que anunciam as marcas tanta preocupação em desenhar automóveis ecológicos e económicos e depois os dirigem, na sua maioria, para a gama alta? Esta é a pergunta que anda na cabeça de meio mundo, quando a conversa gira em torno de automóveis híbridos. Uns chamam-lhe contra-senso, outros garantem que uma coisa não impede a outra. A Toyota é capaz de se inclinar para a segunda opção.
Ter um híbrido não é para todos? Não era. Nome do responsável: Auris HSD. Missão: ajudar a que os híbridos não sejam exclusivos de carteiras volumosas. É a entrada em cena nos compactos do segmento C e a marca japonesa não esconde a ambição (e o orgulho) por este pequeno grande passo. Meta traçada: com um preço de entrada de 24.970 euros, até ao final do ano vender 250 Auris HSD em Portugal e, em 2011, duplicar este número.
Tal como o Prius, o Auris híbrido apresenta três modos de condução diferentes. O mais "verde" é o EV - exclusivamente eléctrico -, capaz de percorrer até 2 km a um máximo de 50 km/h. O modo "Eco" optimiza os dois motores - 1.8 de 98cv, a gasolina, e motor eléctrico, alimentado pela electricidade armazenada em baterias de níquel metal - para o mínimo de consumo. E o PWR Mode, o mais despachado, entrega a performance máxima.
É só escolher, com um único toque nos botões logo abaixo do selector de velocidades; o resto faz o Auris sozinho. Um olho sobre o indicador do sistema híbrido ajuda a perceber se está a usar o modo de condução mais adequado. Ou seja, não adianta levar o Eco accionado se vai a "velocidades power", bem como não compensa ir em Power Mode se a condução é "ecológica". Tudo uma questão de bom senso.
E tudo por uma congratulação no final da viagem. É que, ao desligar a ignição, o Auris apresenta um "resume eco", com avaliação da condução realizada, mais ou menos ecológica (e a respectiva nota de parabéns, se for o caso). Façam o favor de ser ecológicos, portanto, que os 3,8 litros aos 100 anunciados pela marca só são possíveis de alcançar com contenção sobre o pedal direito. Esta arma, a do consumo, é provavelmente a mais forte deste carro, juntamente com as anunciadas emissões de CO2 de apenas 98 g/km.
O Auris HSD, construído em Inglaterra (é o primeiro puro híbrido a ser construído na Europa), associa um motor VVT-i 1.8, a gasolina, com um motor eléctrico. Os dois debitam, em conjunto, 136cv. Chega dos 0 aos 100 km/h em 11,2s e atinge uma velocidade máxima de 180 km/h. Mas o ADN do Auris híbrido é claramente o de um carro de cidade, não há que esconder. É lá que a condução pode ser verdadeiramente ecológica.
Não há segredos. Para chegar aos níveis que anuncia, a Toyota operou uma série de mudanças: melhor aerodinâmica - menos 5 mm em altura, pneus de baixo atrito - e melhores custos de utilização. Primeiro: o Imposto Sobre Veículos (ISV) a metade do preço (1392 euros). Segundo: baixo consumo e manutenção económica (não há correia de distribuição, não há motor de arranque, alternador, embraiagem). Terceiro: componentes mais duradouros (baixo desgaste dos pneus, caixa de velocidades CVT).
Já o dissemos antes: o ADN do Auris HSD é o de um carro urbano. Mas, em estrada, o híbrido japonês não compromete (apesar do barulho do motor ser, às vezes, um pouco incomodativo), desde que não se procure nele grandes consumos. E desde que fazer uma viagem mais longa não signifique precisar de grande bagagem, porque a mala deste carro seria claramente um problema para isso: a capacidade é de apenas 279 litros (menos 71 litros do que no Auris a diesel ou gasolina).
Arrumação não é, de todo, uma mais-valia do modelo. Mesmo no interior, a falta de espaços para colocar os objectos essenciais é notória - há um pequeno compartimento por baixo da consola central, mas não é propriamente prático. Pelo contrário, o painel azulado, a conferir um ar futurista, é um ponto positivo no que ao interior diz respeito. Isso e a câmara traseira a aparecer no espelho retrovisor, as luzes LED (uma estreia na Toyota) e o ar condicionado automático.
Este é um carro em contra corrente: um modelo com volume de vendas a apostar nos híbridos. Há-de valer a pena, mesmo que seja mais talhado para cidade do que para grandes viagens. Afinal, na Europa, 55 por cento dos trajectos têm menos de 10 km e 85 por cento têm menos de 25 km.
FICHA TÉCNICA
Motor: 1798cc, 4 cil., 16V, EFI injecção electrónica + motor eléctrico
Potência: 136cv (motor a gasolina + eléctrico)
Binário: 142 Nm às 4000 rpm (motor a gasolina + eléctrico)
Transmissão: variável contínua controlada electronicamente (E -CVT)
Veloc. máxima: 180 km/h
Aceleração 0 a 100 km/h: 11,4s
Consumo médio (100 km): 3,8 litros
Preço: 24.970 euros