Fugas - restaurantes e bares

  • Vasco Célio

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Sabores do mar, de preferência a dois

As várias tranches de garoupa eram de grande categoria, juntamente com o estufado saboroso feito com pimentos e tomate, que no fundo se assemelhava bastante a uma caldeirada. No entanto o que marcou definitivamente o prato foi a mão-cheia de hortelã que pulverizou tudo o que de bom estava ali. Para se sentir o sabor do peixe era preciso isolá-lo do resto e provar as lascas interiores. Confesso que senti alguma frustração, pois a expectativa estava cada vez mais elevada. 

Dei uma pequena volta pela sala e vi o mesmo excesso de hortelã noutros dois ensopados, o que vale a pena refletir é se todo o empenho que há aqui em ter um produto de excelência (e isso é notório) faz sentido para depois o fazer sucumbir aos caprichos organolépticos de um ingrediente complementar à receita. Todas as ervas que sejam passíveis de se fazerem infusões como a hortelã, os poejos, a erva-príncipe, devem ser usadas com parcimónia pois rapidamente tomam conta da cena e expulsam a figura de cartaz. 

Para suprimir estes amargos de espírito vieram as “3 Delícias algarvias” (3,95 euros), uma espécie de tarte composta pelos três produtos regionais icónicos. Na base uma camada fina de bolo de alfarroba, em seguida um creme consistente de amêndoa, ovos, e açúcar, e no topo a cobertura densa de pasta de figo com pedacinhos de amêndoa laminada. Tudo disposto por níveis e aparência tricolor, sabores equilibrados e destrinçáveis entre as várias composições, numa sobremesa que faz uma boa síntese da rica doçaria local. Já a “Tarte de limão” (3,25 euros) era feita com a clássica base de massa quebrada, guarnecida por um recheio com a frescura e a acidez esperada para casar, e se destacar, em contraste com o vistoso e bem montado merengue italiano da cobertura.

Ficou algum desalento por apenas se ter provado uma das especialidades, mas nas restantes provas foi evidente a qualidade do produto que o “Jorge do Peixe” faz merecida gala em servir, e isso é das coisas mais difíceis e trabalhosas de conseguir num restaurante. Quanto ao resto, basta reter que por vezes “menos é mais” e que a hortelã tem de ser apenas uma nota no meio de toda a composição, para não passar de refém a vilã.

Nome
Jorge do Peixe
Local
Loulé, Quarteira, Rua de Dom Dinis, Lote AM 1, Loja D
Telefone
289301481
Horarios
Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 12:00 às 15:00 e das 19:30 às 22:30
e Segunda-feira das 19:30 às 22:00
Website
http://www.restaurantejorgedopeixe.com/
Preço
40€
Cozinha
Peixe e Marisco
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