Do granito vemos as marcas na paisagem, sobretudo em manchas brancas que cortam os montes que abraçam Vila Pouca. Durante anos, a sua exploração esteve descontrolada, mas a constituição de uma área cativa, onde se concentrou a exploração do granito (a maior exportação destas paragens), ajudou à eliminação das pedreiras ilegais — e assim ajudar o turismo.
Porque se há cartão de visita daqui é a sua natureza e é por aqui que o turismo quer seguir, aliado à riqueza histórica deste território encravado entre o rio Douro (a cerca de meia hora de caminho) e de Espanha (mais ou menos a mesma distância), rodeado pelas serras da Paradela e do Alvão.
Ouro dos romanos
É da história que surge o ouro: uma memória do passado que ajuda o turismo do presente. Os romanos encontraram aqui uma fonte para alimentar o império em três complexos mineiros — Gralheira, Campo de Jales e Tresminas. Se as minas de Jales, em filão, ainda têm planos para exploração, já o complexo de Tresminas foi deixado para a arqueologia porque economicamente não é viável, e assim passou a constituir um dos mais importantes conjuntos arqueológicos mineiros da época romana.
Deixamos Pedras Salgadas pela estrada florestal de São Martinho. Entre carvalhos americanos (alguns com folha, outros já totalmente despidos) e pseudotsugas (que fazem as vezes de abetos e nos remetem a regiões mais setentrionais), abrem-se miradouros para a paisagem que nesta manhã de Dezembro a cheirar a Natal enche-se de farrapos de neblinas que escondem ou desvendam o cenário ao sabor dos caprichos. São curvas e contracurvas a subir até à estrada que une Vila Pouca e Valpaços; depois os mesmos rodopios, a descer para Tresminas, não o complexo mineiro, mas a aldeia. Ao longe, Vilarelho surge na crista de um monte, no cimo de patamares verdes — por trás, multiplicam-se montes maiores.
Estamos na zona de transição entre o granito e o xisto, a paisagem e com ela a estética e os produtos da terra. Atravessamos um planalto que foi zona de povoado romano. “Não está escavado”, nota Catarina Chaves, técnica da loja interactiva, nossa guia para o dia, “mas era para a classe alta”. Na realidade, até 1920, 1930, explica, só havia um conhecimento empírico da ocupação da região”. Nessa altura, os “arqueólogos” eram os padres e apenas na década de 1980 começaram os trabalhos sistemáticos em Tresminas: dois arqueólogos alemães que passavam os verões aqui em escavações — por isso, Tresminas continua a ser mais conhecida no meio académico alemão.
Encaixada num vale, Tresminas está coberta de brumas, “papel vegetal”, diz Catarina Chaves. É habitual. A primeira visão é a do cemitério e é contornando-o e continuando a descer que se revela o povoado de ruas estreitas ladeado de casas — algumas são ruínas, outras têm fumo a sair das chaminés. Apesar das minas, o topónimo da aldeia não tem origem nelas, revela-nos: está relacionado com o nome medieval “Tresmires”, mas essa foi uma investigação recente e ainda se encontra a grafia de Três Minas para a aldeia que acolhe o Centro de Interpretação do complexo mineiro.