A religiosidade arreigada destas terras é simbolizada na Via Sacra de Soutelinho do Monte, sete cruzes de granito sobre declive também granítico que é um monumento quase ascético na sua simplicidade agreste. Como outro tipo de altar, desta vez à prodigalidade da terra, pode ser visto o Alto dos Canastros (Cerdeira de Jales), conjunto de espigueiros que borda mais um afloramento granítico.
Natureza
Com as serras do Alvão e da Padrela como muralhas inatas, esta zona é pródiga em percursos que desvendam todo o esplendor natural — e alguns “mistérios” como o a pedra bulideira do Alvão: é possível mover várias toneladas graças ao seu assentamento. É impossível percorrer as estradas e não ver as indicações dos percursos pedestres que se embrenham para lá do alcatrão. A grande rota que é a Travessia do Alvão leva-nos por 54 quilómetros (e, com certeza, mais de um dia de caminhada) pelas zonas mais altas do concelho, permitindo atravessar vários ecossistemas e comunidades de montanha; já a Via Panorâmica da Lagoa rompe a serra da Padrela em caminhada mais relaxada, com vários pontos de paragem panorâmicos, e uma natureza mais amena que se revela numa certa doçura das paisagens povoadas de bosques onde abundam carvalhos e castanheiros e onde não faltam sobreiros, oliveiras, azinheiras, atravessadas por ribeiros bucólicos.
Mais curtos são os trilhos interpretativos que aqui foram instalados: por exemplo, o de mamíferos aquáticos (na barragem da Falperra), ao da veronica micrantha, espécie endémica em vias de extinção, ao do lobo, também ele espécie em perigo e visto como um dos grandes inimigos naturais destas paragens.
As bicicletas também têm espaço por aqui no percurso cicloturístico do Vale do Corgo: 30 quilómetros que entram pela montanha até Ermidas e segue trilhos panorâmicos na serra da Padrela.
Vários albergues estão a ser implantados no território, permitindo uma estadia no meio da natureza. “No Verão várias famílias trazem os adolescentes para detox”, conta Catarina Chaves – detox de tecnologia, bem entendido.
Ribeira de Pena
Adrenalina à flor da pele e um pouco de Camilo
Depois de um dia de passeios pela história e pela natureza, acordamos para uma manhã de emoções fortes. Vila Pouca de Aguiar fica para trás, mas não muito. Ribeira da Pena é já ao lado e o seu Pena Aventura Park já não é novidade. Aqui, ninguém vem ao engano. Nós não fomos e fizemos tudo o que o nosso escasso tempo permitiu: de segway percorremos alguns dos caminhos do parque, entrámos no alpine coaster (imagine-se a fazer bobsleigh, mas em carris), fizemos um salto negativo (e saímos disparados para cima, para cairmos e voltarmos a subir até que os elásticos se acalmam; o nosso coração demora mais) e, no fantasticable, voamos sobre um vale numa distância de 1,5 quilómetros e altura de 150 metros sem medo — depois de estarmos em velocidade de cruzeiro, “deitados” graças ao equipamento, com capacete e óculos que mais fazem parecer que vamos numa cápsula.
Pelo meio, aventuramo-nos de Polaris, um todo-terreno compacto, descoberto e verdadeiramente potente que sofre no alcatrão e se solta ao subir encostas onde aparentemente não há caminho (há sempre, nem que seja por cima de pinheiros incipientes). Não fizemos um passeio típico, porque quisemos seguir um pouco os passos de Camilo Castelo Branco, que viveu em Ribeira de Pena em criança. Por isso, percorremos um pouco as margens do Tâmega e andamos na ponte de arame que durante muitos anos era a única ligação entre as freguesias de Salvador e Santo Aleixo – é um ponto turístico mas tem os dias contados pela construção da barragem de Daivões.