É na antiga casa paroquial que está instalado, aquela que foi “a melhor casa da aldeia”, sublinha Patrícia Machado, a arqueóloga “residente”. Assim, ao mesmo tempo que exploramos os quase três séculos de funcionamento das minas (entre os séculos I e III), desvendamos os espaços de uma antiga casa típica transmontana (que foi recentemente complementada com um novo núcleo, um edifício que está encaixado nos desníveis em redor e quase passa despercebido — no topo há um anfiteatro ao ar livre ao estilo romano). Esperávamos também ter uma perspectiva geral da mina, a céu aberto, vista do alto, mas as neblinas matinais tornaram-se nevoeiro intenso e as cortas (os chamados “desmontes”) nem sequer se adivinham. Estas são a face mais visível do trabalho mineiro que se conjugava com a exploração subterrânea, através de um sistema de poços e galerias — quase dois milénios passados, o complexo mineiro romano também se desenvolveu como ecossistema peculiar, com vários habitats (incluindo de morcegos).
Tudo isto descobrimos, então, não in loco mas no centro de interpretação, onde ficamos a saber que muito dos objectos encontrados, como as lucernas, por exemplo, estavam in situ, como se o tempo não tivesse passado. E ficamos a saber que a questão que ainda hoje mais divide os estudiosos do local era a questão hidráulica, uma vez que não havia água perto (e esta era necessária para triturar a rocha e separar o ouro): foi conduzida por canais que aproveitaram ao máximo o relevo evitando a construção de túneis (220 quilómetros deles assinalados até agora).
Ao longo de 250 anos foram extraídas 20 toneladas de ouro de Tresminas para cunhagem de moeda, tendo passado por aqui dois mil homens, tendo a administração e segurança ficado a cargo de unidades do exército aqui estacionadas — temos no museu alguns vestígios desta presença humana, como aras funerárias, moedas, objectos pessoais e nomes de pessoas que por aqui passaram. As minas foram abandonadas repentinamente, não por esgotamento, por questões estratégicas do império — a exploração passou para a Europa Central. Estamos ainda no centro de interpretação, onde há cartazes e mesas interactivas que também nos ajudam a ver a fauna e flora das redondezas — e no exterior a réplica de um moinho de pilões ajuda-nos a visualizar o processo de moagem da rocha.
Se esta é uma réplica, a verdade é que na zona há muitas casas que integraram as bases desses moinhos na sua construção. E mesmo na igreja de São Miguel de Tresminas, românica e gótica, encontramos num muro exterior uma sepultura medieval transladada para um nicho emoldurada por pedras de moinho originais (granito côncavo pelo uso). “É o melhor da construção civil de Tresminas”, brinca Patrícia Machado, “não imaginam o orgulho com que os senhores nos dizem que andaram à procura dos melhores.”
Um castro para as férias
Da história para o simulacro da história, da serra da Padrela para a serra do Alvão, com passagem pela barragem da Falperra — uma paisagem que podia bem passar pelas Terras Altas escocesas (com as pseudotsugas). Passado o portão que dá acesso a uma zona de barracas de produtos locais (abertas no Verão) e outra de merendas, temos apenas a natureza para nos deslumbrar: o espelho de água, bosques a ladear, campos e serras a fechar, lá longe, o horizonte. O avistamento de lontras e, sobretudo, toupeiras de água, é frequente (siga-se o Trilho Mamíferos Aquáticos), mas nós ficamos em branco nesse aspecto. De resto, enchemo-nos do ruído da água, das cores da folhagem, de sombras aquáticas deste local que faz parte da Rede Natura 2000 e que recentemente recebeu passadiços de madeira que permitem circundar todo o lago.