Curiosamente, e apesar de a Encruzado ser considerada como uma das jóias maiores do património ampelográfico nacional, a casta continua pouco valorizada dentro e fora da região, pouco divulgada e pouco estudada, quase inexpressiva dentro e fora do Dão. Sim, é verdade que dentro da região começa a ganhar algum protagonismo e alguma ascendência, apesar de por enquanto ainda pouco visível na área plantada. Mas ao contrário da Touriga Nacional, que se converteu numa moda quase imparável dentro e fora de fronteiras e a levou a ser transplantada para a plenitude das regiões portuguesas, e para muitos países do mundo entre os quais se destacam a África do Sul, Austrália, Argentina, Espanha e Brasil, a Encruzado permanece como uma casta puramente regional, sem expressão fora das fronteiras naturais do Dão.
O mundo do vinho vive repleto de mistérios insondáveis, de grandes e pequenos enigmas que a razão raramente consegue explicar. Qual o fundamento para que uma das castas mais interessantes de Portugal, aquela que permite fazer os vinhos mais longevos, cheios e elegantes, envolventes e sérios, continua a ser tão ignorada pela quase totalidade dos viticultores e produtores portugueses? Como é possível de entender que uma casta que proporciona estrutura, equilíbrio, untuosidade, uma incrível capacidade de guarda e uma extraordinária afinidade com a fermentação e envelhecimento em madeira continue a ser tão desaproveitada?
A falta de entusiasmo na propagação da Encruzado é um dos maiores mistérios que envolve o universo do vinho em Portugal. Sobretudo quando se sabe que é uma casta relativamente produtiva e sem complicações especiais, com uma capacidade única para manter um equilíbrio quase perfeito entre açúcar e acidez, os dois parâmetros fundamentais da enologia.
Cinco escolhas de Encruzado
Quinta dos Roques Encruzado 2012
É fácil sustentar que a Quinta dos Roques é parte integrante da elite nacional, encontrando-se entre os melhores do Dão e de Portugal. O percurso consistente de quase três décadas com os pés bem assentes na terra, sem loucuras de preços, sem alterações inconsequentes de perfil, sem variações qualitativas é sinal de um produtor maduro e exigente. Nos Roques respira-se seriedade, humildade e uma vontade férrea em fazer bem e em consonância com o que a terra dá, sem subverter o ano agrícola. A aliança subtil entre classicismo e modernidade patente nos topos de gama seduz, tal como o binómio potência/elegância, que representa o paradigma do Dão, o justo equilíbrio entre fruta e acidez. Os vinhos da Quinta dos Roques raramente são vinhos fáceis, mostrando-se frequentemente sérios e sóbrios, sólidos e estruturados, prontos para uma vida longa em garrafa. Este Encruzado não é excepção mostrando-se sisudo no nariz, fechado a sete chaves, soltando-se mais na boca que se apresenta firme e ampla, estruturada, cheia e pujante, terminando fresca e retemperadora graças à acidez sibilina que assegura.
Preço: 11.40€ na Garrafeira Nacional, Lisboa, www.garrafeiranacional.com