Fugas - motores

Fábio Teixeira

Lexus IS 200d F-Sport: Quem vê caras não vê corações

Por Luís Francisco

Iludido pelas incisivas linhas exteriores, foi difícil a Fugas adaptar-se ao que encontrou lá dentro. O IS 200d parece um guerreiro, mas não tem motor para isso. E, apesar das muitas qualidades, ainda não faz sombra à concorrência alemã

Antes de chegar aos argumentos e daí passar às conclusões, impõe-se uma nota prévia: nem todos os Lexus têm este aspecto exterior. O modelo ensaiado do novo IS 200d estava equipado com o "kit" F-Sport, que dá ao carro um ar mais agressivo, sem, no entanto, lhe retirar um grama de beleza. O problema é que as expectativas geradas por este visual estão longe de se confirmar ao volante: o motor nunca se mostra capaz de proporcionar emoções fortes.

Será isso o que procura um potencial cliente da divisão de luxo da Toyota? Provavelmente, não. Mas esta incapacidade para estimular a produção de adrenalina tem efeitos práticos na qualidade de condução mesmo em regimes moderados. A motorização que agora se estreia é uma variação do 2.2 diesel existente, ao qual foi retirada potência de forma a conseguir melhores consumos e resultados mais interessantes na tabela de emissões. Mas o trabalho não parece ter saído lá muito bem.

Há três factores que podem condicionar o prazer de conduzir este magnífico carro - e estão todos ligados. O primeiro é a falta de elasticidade do motor, incapaz de fazer acelerações e recuperações que estamos habituados a encontrar neste tipo de berlinas. A segunda é uma caixa lenta e pouco suave, escalonada em relações curtas para disfarçar (sem grande sucesso) a falta de genica do motor. A terceira é um pedal do acelerador a exigir alguma ginástica para ser carregado a fundo.

Tudo junto, temos um carro estranhamente frouxo nas recuperações (e, sim, temos de engrenar a quinta se deixarmos a velocidade cair abaixo dos 110 km/h...) e com acelerações pouco impressionantes. Esta excessiva suavidade do motor ajudará a consumir menos, mas o constante recurso à caixa tem exactamente o efeito contrário...

Talvez a desilusão fosse menor se o visual exterior não estivesse tão maravilhosamente perfeito. Talvez seja preciso habituarmo-nos à ideia de que as berlinas deste segmento também já precisam de ter cuidado com o preço. E este Lexus tenta marcar aí alguns pontos: com um preço, sem extras, de 36.500 euros, sai mais barato do que os BMW (318d - 38.900 euros), Audi (A4 2.0 TDI - 38.000 euros) ou Mercedes (C200 CDI - 41.200 euros) correspondentes. Mas será o suficiente, considerando que o "pack" F-Sport implica pagar mais 6325 euros e o menos ambicioso Executive saí, ainda assim, por 2800?

Para quem não ande à procura de emoções fortes, ou que simplesmente prefira uma condução tranquila e sem sobressaltos, a resposta há-de ser afirmativa. A solidez e a elegância do Lexus estão acima de qualquer suspeita, os materiais e a montagem são bons, o nível de equipamento não compromete. E há sempre a velha máxima de que a mecânica Toyota é eterna, embora essa "lei" tenha sofrido algum desgaste com as notícias recentes de problemas nos carros da marca nipónica.

Apesar da falta de espaço em largura nos bancos traseiros, este é um carro que parece bem mais desenhado a pensar nos passageiros do que no condutor. Este começa logo por encontrar algumas dificuldades para encontrar a posição ideal ao volante. Se chega o banco à frente, fica sem espaço para os joelhos por baixo do volante; se baixa o assento para ganhar margem de manobra, arrisca-se a ficar com um ângulo de visão quase nulo sobre a frente do carro. Em suma, se não tiver as pernas compridas, será preciso fazer várias tentativas. E mesmo aí subsiste sempre o desconforto do exagero de apoio lateral dos bancos dianteiros.

Adiante. Uma vez instalado, o condutor tem perante si um tablier simples e muito prático, um triunfo da ergonomia que não tem correspondência, por exemplo, nos comandos dos vidros situados na porta - estes, apesar de notavelmente inclinados para dentro, são muito difíceis de manejar com a porta fechada, por causa do volume da pega (essa sim, excelente).

A direcção é muito boa, passando na perfeição uma sensação de solidez e segurança sem nos "esconder" a estrada, à semelhança, aliás, do que sucede com a suspensão, muito confortável sem comprometer o comportamento em curva. Os travões são bons, a insonorização quase perfeita. Mas o motor vibra em excesso (especialmente quando está em esforço) e essa vibração sente-se no comando da caixa de velocidades. Basta esse pormenor para percebermos que isto ainda não é a engenharia alemã.

Barómetro

+ Visual exterior, solidez, conforto, materiais, equipamento, direcção, segurança

- Motor, caixa de velocidades, espaço em largura atrás, preço "enganador" por causa dos extras

Bonito

Para todos aqueles que dizem que as berlinas deste segmento são todas iguais, o "pack" F-Sport pode constituir uma agradável surpresa. É claro que as jantes, os apêndices aerodinâmicos e outros detalhes não fazem desaparecer os três volumes e o perfil em cunha que fazem regra, mas a verdade é que temperam estas constantes com um picante muito especial... O produto final neste Lexus é francamente bem conseguido.

Meia solução

Se os comandos dos vidros estivessem na posição tradicional, ou seja, colocados na horizontal, seria virtualmente impossível manejá-los, uma vez que a mão não encontraria posição entre os botões e a enorme pega que se situa acima deles. A solução foi incliná-los para dentro num ângulo bastante sensível. Mas é só meia solução: já não é impossível abrir ou fechar janelas em andamento, mas continua a ser muito difícil... E este é, apenas, mais um sinal claro da falta de espaço em largura neste carro, que tem a sua expressão máxima nos lugares traseiros.

Exagero

Não há nada pior do que um banco de condutor sem apoio lateral decente. Sentamo-nos e parece que demoramos uma eternidade a encontrar o equilíbrio do carro, não estabelecemos uma ligação com o veículo (e, sim, o rabo é muito importante neste pormenor - perguntem aos pilotos dos aviões a jacto a quem, numa experiência, anestesiaram essa zona da sua anatomia...). Mas também não é preciso exagerar: no IS 200d, qualquer pessoa de estatura mediana fica "entalada" no banco. Torna-se desconfortável.

Impecável

A qualidade dos materiais e o cuidado posto na montagem e nos acabamentos contribuem generosamente para a boa atmosfera que se vive a bordo. O desenho pragmático do tablier (ainda assim com pormenores "extra", como o círculo de luz vermelho que se acende no velocímetro acima dos 130 km/h) tranquiliza o olhar e tem correspondência em quase todas as outras áreas de utilização a bordo. Nota máxima ainda para a segurança passiva, com destaque para os airbags de joelho disponíveis nos lugares dianteiros.

FICHA TÉCNICA

Mecânica

Cilindrada: 2231cc
Potência: 150cv às 3600 rpm
Binário: 340 Nm entre as 2000 e as 2800 rpm
Cilindros: 4
Válvulas: 16
Alimentação: Turbodiesel de injecção directa por conduta comum
Tracção: Traseira
Caixa: Manual, de seis velocidades
Suspensão: Duplo braço, à frente; independente, multilink, atrás
Direcção: Pinhão e cremalheira, assistida
Diâmetro de viragem: 10,8 m
Travões: Discos ventilados à frente e atrás

Dimensões

Comprimento: 458,5 cm
Largura: 180,0 cm
Altura: 140,0 cm
Distância entre eixos: 273,0 cm
Peso: 1620 kg
Pneus: 225/45 R17 à frente, 245/45 R17 atrás
Capac. depósito: 65 litros
Capac. mala: 398 litros

Prestações

Veloc. Máxima: 205 km/h
Aceleração 0 a 100 km/h: 10,2s
Consumo misto: 5,1 litros/100 km
Emissões CO2: 134 g/km

Preço: 36.500 euros (viatura ensaiada, com "pack" F-Sport: 42.825 euros)

EQUIPAMENTO

Segurança

ABS: Sim, com repartidor electrónico de travagem
Airbags dianteiros: Sim
Airbags joelho: Sim (condutor e passageiro da frente)
Airbags laterais: Sim (à frente)
Airbags"cortina: Sim
Controlo de tracção: Sim
Programa electrónico de estabilidade (ESP): Sim

Vida a bordo

Vidros eléctricos: Sim (4)
Fecho central: Sim
Comando à distância: Sim
Direcção assistida: Sim
Retrovisores eléctricos: Sim (aquecidos e escamoteáveis)
Ar condicionado: Sim (automático, de duas zonas)
Abertura do depósito no interior: Sim
Bancos traseiros rebatíveis: Sim
Jantes especiais: Sim
Rádio: Sim (com CD, MP3 e Bluetooth)
Comandos no volante: Sim
Volante regulável em altura: Sim
Volante regulável em profundidade: Sim
Computador de bordo: Sim
Alarme: Sim
Estofos em pele: Opção (com aquecimento e regulação eléctrica à frente, 1050 euros)
Tecto de abrir: Opção (eléctrico: 1050 euros)
Navegação por GPS: Opção (com câmara traseira: 3100 euros)
Regulador de velocidade: Opção (325 euros)
Sensores de chuva: Opção ("pack" Executive ou "pack" F-Sport)
Sensores de luminosidade: Sim
Sensores de parqueamento: Opção (à frente e atrás: 650 euros)
Indicador de pressão de pneus: Não
Faróis de xénon: Opção (com luzes diurnas em LED e lava-faróis à frente: 1050 euros)

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