Antes de chegar aos argumentos e daí passar às conclusões, impõe-se uma nota prévia: nem todos os Lexus têm este aspecto exterior. O modelo ensaiado do novo IS 200d estava equipado com o "kit" F-Sport, que dá ao carro um ar mais agressivo, sem, no entanto, lhe retirar um grama de beleza. O problema é que as expectativas geradas por este visual estão longe de se confirmar ao volante: o motor nunca se mostra capaz de proporcionar emoções fortes.
Será isso o que procura um potencial cliente da divisão de luxo da Toyota? Provavelmente, não. Mas esta incapacidade para estimular a produção de adrenalina tem efeitos práticos na qualidade de condução mesmo em regimes moderados. A motorização que agora se estreia é uma variação do 2.2 diesel existente, ao qual foi retirada potência de forma a conseguir melhores consumos e resultados mais interessantes na tabela de emissões. Mas o trabalho não parece ter saído lá muito bem.
Há três factores que podem condicionar o prazer de conduzir este magnífico carro - e estão todos ligados. O primeiro é a falta de elasticidade do motor, incapaz de fazer acelerações e recuperações que estamos habituados a encontrar neste tipo de berlinas. A segunda é uma caixa lenta e pouco suave, escalonada em relações curtas para disfarçar (sem grande sucesso) a falta de genica do motor. A terceira é um pedal do acelerador a exigir alguma ginástica para ser carregado a fundo.
Tudo junto, temos um carro estranhamente frouxo nas recuperações (e, sim, temos de engrenar a quinta se deixarmos a velocidade cair abaixo dos 110 km/h...) e com acelerações pouco impressionantes. Esta excessiva suavidade do motor ajudará a consumir menos, mas o constante recurso à caixa tem exactamente o efeito contrário...
Talvez a desilusão fosse menor se o visual exterior não estivesse tão maravilhosamente perfeito. Talvez seja preciso habituarmo-nos à ideia de que as berlinas deste segmento também já precisam de ter cuidado com o preço. E este Lexus tenta marcar aí alguns pontos: com um preço, sem extras, de 36.500 euros, sai mais barato do que os BMW (318d - 38.900 euros), Audi (A4 2.0 TDI - 38.000 euros) ou Mercedes (C200 CDI - 41.200 euros) correspondentes. Mas será o suficiente, considerando que o "pack" F-Sport implica pagar mais 6325 euros e o menos ambicioso Executive saí, ainda assim, por 2800?
Para quem não ande à procura de emoções fortes, ou que simplesmente prefira uma condução tranquila e sem sobressaltos, a resposta há-de ser afirmativa. A solidez e a elegância do Lexus estão acima de qualquer suspeita, os materiais e a montagem são bons, o nível de equipamento não compromete. E há sempre a velha máxima de que a mecânica Toyota é eterna, embora essa "lei" tenha sofrido algum desgaste com as notícias recentes de problemas nos carros da marca nipónica.
Apesar da falta de espaço em largura nos bancos traseiros, este é um carro que parece bem mais desenhado a pensar nos passageiros do que no condutor. Este começa logo por encontrar algumas dificuldades para encontrar a posição ideal ao volante. Se chega o banco à frente, fica sem espaço para os joelhos por baixo do volante; se baixa o assento para ganhar margem de manobra, arrisca-se a ficar com um ângulo de visão quase nulo sobre a frente do carro. Em suma, se não tiver as pernas compridas, será preciso fazer várias tentativas. E mesmo aí subsiste sempre o desconforto do exagero de apoio lateral dos bancos dianteiros.
Adiante. Uma vez instalado, o condutor tem perante si um tablier simples e muito prático, um triunfo da ergonomia que não tem correspondência, por exemplo, nos comandos dos vidros situados na porta - estes, apesar de notavelmente inclinados para dentro, são muito difíceis de manejar com a porta fechada, por causa do volume da pega (essa sim, excelente).
A direcção é muito boa, passando na perfeição uma sensação de solidez e segurança sem nos "esconder" a estrada, à semelhança, aliás, do que sucede com a suspensão, muito confortável sem comprometer o comportamento em curva. Os travões são bons, a insonorização quase perfeita. Mas o motor vibra em excesso (especialmente quando está em esforço) e essa vibração sente-se no comando da caixa de velocidades. Basta esse pormenor para percebermos que isto ainda não é a engenharia alemã.