Vamos falar de preconceitos, ideias feitas, lugares-comuns. Diz-se que os americanos sabem fazer carros grandes e poderosos, mas esquecem-se de "detalhes" fundamentais para qualquer europeu, como a economia e a elegância. Por outro lado, os italianos são conhecidos pelas suas mecânicas exuberantes e gosto estilístico, mas a fiabilidade é coisa que não lhes ocupa o pensamento.
Juntar estas duas filosofias poderia dar origem a um carro de pesadelo. Ou não. Felizmente, a aliança da Fiat com a Chrysler apurou os dotes de cada um dos noivos. E o resultado é um carro extremamente equilibrado, que surge no mercado por um preço imbatível.
O novo Fiat Freemont custa 34.000€. Por esse montante, oferece uma mecânica Fiat que se mostra mais do que competente (potência de 170cv num 2.0 turbodiesel, caixa eficaz, suspensão bastante boa, travões q.b.), chassis e visual exterior americano, temperado com pormenores interiores europeus. Na verdade, para os mais atentos, esta é a versão "europeia" do Dodge Journey. Mas só isto não marcaria propriamente a diferença face à concorrência. O que impressiona é o nível de equipamento.
O Freemont oferece, de série, sistema de navegação Tom-Tom (não é um primor de sentido prático, porque o visor se segura num suporte no topo do tablier e liga-se a uma tomada USB na zona do isqueiro, o que deixa um fio pendurado por ali abaixo...). E também dois assentos sobreelevados para crianças na segunda fila, algo que só muito raramente começou a aparecer na concorrência... e como opção. Ainda mais: temos leitor e ecrã de DVD para os bancos traseiros, com um par de auscultadores sem fios. A lista continua, mas bastava este item para estabelecer a diferença.
Temos, portanto, um carro com sete lugares, elevado nível de mordomias a bordo, mecânica sem falhas, lista completa de tecnologias de apoio à condução (ABS, controlo de tracção, controlo de estabilidade, ajuda aos arranques em subida) e solidez acima de qualquer suspeita. A única dúvida é perceber se estamos perante um SUV, como o visual exterior dá a entender, ou um monovolume, conforme o leque de utilizações faz pensar.
Seja qual for o termo de comparação, a Fiat arrasa. Monovolumes um bocadinho maiores, como o VW Sharan de motorização comparável (2.0 TDI 170cv), saem para o mercado a preço claramente acima dos 40.000€ e, no caso da Chrysler Grand Voyager, subimos até aos 56.500€. Os Ford, Galaxy (40.500 €) ou S-Max (43.400), já dão um bocadinho mais de luta, mas ainda ficam longe. O Nissan Qashqai de sete lugares anda por volta dos 38.000 euros e, finalmente, surgem rivais que se batem de igual para igual no campeonato dos preços os Chevrolet Captiva (34.750€) e Orlando (30.990). Mas as listas de equipamento são bem diferentes...
Nada disto teria qualquer interesse se o carro fosse desinteressante. Não é. O motor desenvolve a potência mais do que suficiente para ser divertido com pouco peso a bordo e eficaz num cenário de lotação esgotada. A caixa é prática e não tem manias, os travões não entusiasmam, mas também não assustam. A suspensão é bastante boa, a insonorização correcta, os materiais a bordo (com algumas flagrantes excepções) estão à altura. Nem toda a instrumentação é particularmente intuitiva, mas ninguém se sentirá perdido a bordo. Há espaços para arrumos espalhados pelo habitáculo.