Ao pé da basílica foi escavado um pequeno conjunto de ruínas de uma aldeola contemporânea de Jesus. Infelizmente, uma gigantesca cobertura de betão torna o local triste e cinzento, oprimente. Felizmente está sol (e calor), um tempo inusitadamente estival nestes últimos dias de Novembro.
Também em Nazaré encontra-se a Carpintaria de São José, uma igreja construída em 1914 em torno daquilo que, segundo a tradição, terá sido a oficina do pai adoptivo de Jesus. Aí, é possível ver uma gruta que, no início da era cristã, era provavelmente utilizada para armazenar sementes.
Antes de mais: o Mar da Galileia é na realidade um grande lago de água doce, também conhecido como Lago Tiberíades ou Lago de Gennesaret. É alimentado pelo rio Jordão, que depois de o atravessar de norte a sul continua o seu percurso até ao Mar Morto, a sudeste de Jerusalém. Um pouco mais a norte desta massa de água surgem os montes Golan - ali mesmo ao pé, a fronteira com a Síria. A dada altura do nosso percurso em redor do lago, uma placa indica a direcção de Migdal, a aldeia considerada como o local do nascimento de Maria Madalena.
... ou uma sinagoga
O rio Jordão é mais um sítio de intensa peregrinação por ser considerado o local do baptismo de Jesus por São João Baptista. Aqui, a encenação religiosa atinge o auge. Isso não quer dizer que os peregrinos que entram nas águas gélidas do rio (já é de noite quando lá chegamos, porque nesta altura do ano o Sol põe-se por volta das cinco da tarde) não estejam a viver uma experiência espiritual muito profunda. Mas aqui o ritual adquire, para quem o observa friamente de fora, um ar de autêntico carnaval.
Vestidos de túnicas brancas adquiridas no local e enfiadas por cima do fato de banho, dezenas de homens e mulheres mergulham no rio, rezando e fazendo o sinal da cruz. Quem se baptiza aqui? Sobretudo fiéis de seitas protestantes e de movimentos de renovação carismática da América Latina, responde o guia. No fim, os fiéis podem encher com água colhida no rio uma garrafinha devidamente rotulada, para levar e mostrar aos amigos (e baptizá-los, quem sabe?)
Poucas horas antes de assistirmos a este singular espectáculo, tínhamos passado pela cidade de Cafarnaum, situada mesmo na margem noroeste do Mar da Galileia a uns 30 quilómetros a norte de Nazaré. Já adulto, Jesus viveu e pregou nestas paragens - e terá proferido o seu Sermão da Montanha no Monte das Bem-aventuranças, mesmo ao lado.
Foi na aldeia de pescadores de Cafarnaum que Jesus terá vivido os três últimos anos da sua vida. "Este era o seu quartel-general", explica o guia. O mais notável são as ruínas que aqui se encontram de duas sinagogas sobrepostas - a de cima, do século IV (época bizantina); a de baixo, da época de Jesus. A sinagoga de cima foi construída com pedra calcária loira e subsistem dela, a céu aberto, uma série de belas colunas e duas salas. A sinagoga de baixo, da qual só se vê o muro exterior, é feita de basalto - tal como as vizinhas ruínas da aldeia de Cafarnaum contemporânea de Jesus.