Fugas - Viagens

  • Uma freira cristã ortodoxa caminha por uma rua que leva ao Santo Sepulcro. Em primeiro plano, imagem de Jesus vista numa loja de souvenirs
    Uma freira cristã ortodoxa caminha por uma rua que leva ao Santo Sepulcro. Em primeiro plano, imagem de Jesus vista numa loja de souvenirs Yannis Behrakis/Reuters
  • Santo Sepulcro
    Santo Sepulcro Nir Elias/Reuters
  • Jerusalém, Santo Sepulcro
    Jerusalém, Santo Sepulcro Nuno Ferreira Santos
  • Jerusalém, Via Sacra
    Jerusalém, Via Sacra Nuno Ferreira Santos
  • Jerusalém, Via Sacra
    Jerusalém, Via Sacra Nuno Ferreira Santos
  • Jerusalém, Via Sacra, junto ao Santo Sepulcro
    Jerusalém, Via Sacra, junto ao Santo Sepulcro Nuno Ferreira Santos
  • Junto ao Muro das Lamentações
    Junto ao Muro das Lamentações Nuno Ferreira Santos
  • Junto ao Muro das Lamentações
    Junto ao Muro das Lamentações Nuno Ferreira Santos
  • Nazaré
    Nazaré Nuno Ferreira Santos
  • Igreja da Natividade, Belém
    Igreja da Natividade, Belém Nir Elias/Reuters
  • Igreja da Natividade, Belém
    Igreja da Natividade, Belém Nuno Ferreira Santos
  • Uma noiva a entrar na Igreja da Natividade, Belém
    Uma noiva a entrar na Igreja da Natividade, Belém Nir Elias/Reuters
  • Galileia, baptismos no rio Jordão
    Galileia, baptismos no rio Jordão Nuno Ferreira Santos
  • Galileia, baptismos no rio Jordão
    Galileia, baptismos no rio Jordão Nuno Ferreira Santos
  • Muro em Belém que divide os territórios de palestinianos e judeus
    Muro em Belém que divide os territórios de palestinianos e judeus Nuno Ferreira Santos
  • Nir Elias/Reuters

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Israel, Terra Santa ou Jesus Cristo superstar?



A caminho do Gólgota

A Via Dolorosa - o caminho exacto que Jesus terá percorrido da fortaleza romana até ao Gólgota, local da crucificação - pode ser retraçada passo a passo com a ajuda de marcos que vão assinalando as estações de cruz. Boa parte desse percurso faz-se hoje pelas ruas cheias de lojinhas de roupa, comida, objectos religiosos, tascas - incluindo um HolyRock Café! -, do bairro muçulmano da velha Jerusalém (também ela dividida em sectores conforme a confissão religiosa: muçulmano, judeu, cristão, arménio). "Este é um dos maiores bazares do mundo!", exclama o guia, caminhando à nossa frente. Podemos pensar que Jerusalém não terá sido assim tão diferente naqueles tempos, com os seus escaparates de rua e o seu bulício quotidiano.  

De facto, o chinfrim comercial que nos acolhe, na manhã em que visitamos a velha cidade, permite imaginar outros gritos: os da multidão ao ver passar Jesus carregando a cruz, naquela mítica sexta-feira. Mas, mais uma vez, trata-se de mais uma notória encenação: "Os marcos da Via Dolorosa foram alterados há 200 anos", avisa o guia.

Seguindo o trajecto no sentido certo (o que não fizemos) atinge-se finalmente a Igreja do Santo Sepulcro, reconhecível pelo facto de uma das suas duas grandes portas (a da direita) se encontrar murada (e a chave da outra, como dissemos, na posse do Sr. Nuseibeh).

A sala principal em que penetramos poderia ser qualificada de cenário de pesadelo, talvez em parte devido à hora da nossa visita, com a penumbra que reina dentro da igreja ainda não totalmente dissipada. No meio de uma gigantesca e nua rotunda, bordeada de altíssimos arcos e coroada por uma cúpula, ergue-se um monumento sinistro, escuro, de arquitectura ilegível e, quem sabe, sujo da poeira dos séculos. Tem vários metros de altura e um terraço do qual emerge uma improvável torre.

Trata-se de uma interpretação, de um simulacro do jazigo, talhado na rocha, onde Jesus terá sido sepultado há 20 séculos, após o seu corpo sem vida ter sido depositado numa pedra, logo à entrada da igreja, e lavado, ungido e vestido com um sudário, conforme a tradição judaica. À porta da actual estrutura, um sacerdote ortodoxo grego controla com alguma impaciência o fluxo de visitantes. Aguarda-se na fila, entra-se num pequeno espaço, dizem-nos que a segunda divisão, a do fundo, é o túmulo onde Jesus terá jazido aqueles três dias, antes da sua Ressureição; volta-se a sair para dar lugar aos turistas seguintes.

Um pouco mais longe está o Gólgota, o Calvário. No tempo de Jesus, a parte da cidade velha onde nos encontramos neste momento situava-se fora das muralhas da cidade e era apenas um promontório rochoso. Um bom sítio para os romanos crucificarem os criminosos, faz notar o guia, bem à vista, destinado a intimidar quem chegava à cidade. Dentro da igreja, o Gólgota é hoje assinalado por um altar ortodoxo grego, sobrecarregado de ouro e prata, no centro do qual reina um grande Cristo na cruz. E por baixo do chão de vidro vê-se a tradicional rocha do suplício.


O escadote da discórdia

Novamente na rua, o guia aponta para a fachada da igreja, para um objecto insólito ao nível da janela direita, no primeiro andar. Um pequeno escadote de madeira encostado ao muro exterior. Ainda mais insólita é a sua história, emblemática das guerras santas e políticas que assolam há séculos esta região do mundo.  

Como vimos, o recinto do Santo Sepulcro é gerido principalmente pelas igrejas Ortodoxa Grega, Apostólica Arménia e Católica. Mas não só: também as igrejas ortodoxas Copta, Etíope e Síria partilham certas responsabilidades e controlam determinados espaços.

O direito de passar pelo território dos outros rege-se por complicadas regras, num status quo de "convivência" imposto pelos otomanos em 1767. 

Mas a coabitação das diferentes alas do cristianismo dentro do monumento ainda é, por vezes, violenta. Sem ir mais longe, em Novembro de 2008, 11 pessoas foram hospitalizadas quando num dia quente, um monge copta, que costumava estar sentado num sítio específico no exterior da igreja, deslocou a sua cadeira uns poucos centímetros para se pôr à sombra... O acto foi considerado como uma provocação pelos religiosos etíopes, que tinham o controlo do sítio abrangido pela mancha de sombra...

E o escadote? Está ali, no mesmo sítio, desde pelo menos 1852, ano em que o status quo foi oficializado! Como ninguém sabe quem lá o colocou, ninguém tem mexido nele desde então, para não criar um incidente diplomático. Um símbolo do impasse e das divisões da região que ostenta, com uma ironia de que só os deuses se poderiam lembrar, o nome improvável de Terra Santa.

A Fugas viajou a convite do exit.pt, com o apoio da Viva Tours

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